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Elogios

por Fernando Zocca, em 09.05.16

A gente sabe que o conceito de impedimento por suspeição não se aplica nos processos de impeachment nos legislativos.

Sabemos também que por ser assim, o processo todo pode ser parcial, isto é, onde predomina impune, a tendência do prejulgamento. Então a parte a ser julgada já teria sua sorte decidida antes mesmo da sentença final.

Ora, isso não é fazer justiça.

Perceba que por decorrência da arbitrariedade, que se forma, por ter o julgador interesse no desfecho do processo, muitos atos processuais podem ser suprimidos ou abreviados favorecendo os argumentos duma das partes.

Em exemplo disso citaríamos o fato da omissão do julgador na participação da diligência duma perícia que, por força da lei, deveria ter participado.

Então não se pode negar que o preconceito sobre o mérito da ação teria influenciado a decisão do julgador em ignorar requerimento solicitador das providências judiciais.

E qual juiz deixaria de atender determinações das partes se não tivesse ele antes certa convicção expressa do resultado do pedido inicial?

Quando isso ocorre há, sem sombra de dúvidas, uma grave violação ao direito da parte que não teve atendido os seus clamores.

São nulos de pleno direito os atos jurídicos realizados com base em erros, falsidades, engodos, dissimulações, omissões danosas aos interesses das partes.

Quando um processo começa errado, certamente terminará errado. É claro que o erro, ou a omissão, não podem causar mais danos, e por isso, seria melhor considerá-lo nulo do que permitir que siga até a causação dos prejuízos maiores.

Se no judiciário o juiz de primeira instância não pode julgar novamente o processo que se encontra sob a competência de tribunal superior, no legislativo não é assim que acontece.

Percebendo a existência do fato nulo ou anulável, não considerado na primeira votação, nada impediria que fossem eles trazidos à colação e submetidos ao crivo dos julgadores.

Uma característica dos processos políticos é a sua volatilidade. Enquanto não houver a certeza sobre a justeza das ações, das suas decisões, seria de bom senso que todas as questões também fossem levadas ao conhecimento do judiciário, cuja função é essa mesma: a de apreciar e julgar as questões de fato e de direito emergentes da vida nacional.

Com relação a essa problemática toda surgida com as tais “pedaladas fiscais”, “empréstimos bancários” que não são empréstimos bancários, atrasos de pagamento, em que parte do congresso crê sejam crimes e a outra assim não os consideram, a dúvida demonstra um notável estágio de pré amadurecimento do processo democrático, quase sempre interrompido de forma abrupta pela força.

A grande questão do momento político é exatamente esta: houve crime nos procedimentos da presidenta da república, apontados na exordial do pedido de impeachment?

É claro, que para a oposição há, sem dúvida, delitos a serem punidos. De outro lado não haveria crime nenhum, justificando a tal assertiva com o fato de que outros presidentes, governadores de estado e prefeitos também agiram da mesma forma por não serem as ações infrações contra as leis.

Outra dúvida relaciona-se ao chamado “desarranjo” da economia em que inflação e os “rebaixamentos” dos conceitos internacionais sobre o Brasil teriam como causa as políticas do governo federal.

Ora, tanto as concepções de valia ou menos-valia atribuídas à economia nacional são subjetivas, que interessariam ao capital externo, internacional.

Agora me diga: qual capitalista se interessaria pelo bolsa família, bolsa escola, minha casa minha vida?

Então não podemos deixar de concluir que a interpretação dos crimes embasadores do processo de impeachment tem por base o interesse dos grandes capitalistas e investidores internacionais.

Vemos que os interesses dos industriais divergem dos do povo. Então o conflito. Em troca dos elogios internacionais o Brasil se submeteria a um golpe político?

O Brasil é muito mais do que isso. Independe do panegírico, bajulações capitalistas internacionais a felicidade do seu povo.

Devemos nos lembrar das grandes quebras da economia mundiais como as ocorridas em 1929 e que geraram a Convenção de Regina, no Canadá, em 1933. Portanto a crise econômica não é só brasileira.

Precisamos ter paciência e aguardar a vez. Se quiserem a presidência da república que esperem o momento eleitoral apropriado. Antes disso, meu amigo, sem dúvida, a furação da fila é golpe

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publicado às 20:30

Discursos

por Fernando Zocca, em 25.04.16

 

 

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A Internet tem essa característica de proporcionar oportunidade para a manifestação e expressão do pensamento nunca antes havida em toda a história da humanidade.

Imagina como era na Idade Média. O sujeito falava de um púlpito e pronto, em não havendo como responder, tudo o que fora dito ali era tido como verdadeiro.

O sujeito no século XVI ou XVII expressava sua opinião por meio dum folheto ou jornal e, em não tendo forma nenhuma de contestação, pimba, lá estava a “verdade verdadeira” dos fatos contra quem quer que fosse.

Na década de 1930 o cidadão falava nos programas de rádio e não havendo como o contribuinte demonstrar a sua versão, pronto, ali estavam os fatos que se tornavam, com o passar do tempo, incontestes.

Em 1974/1975 o nobilíssimo edil, mesmo eleito com 500 votos, ou menos, discursando na tribuna da câmara municipal, faria ter contra os prováveis desafetos opiniões dificilmente contraditadas.

E você sabe: a opinião pública é uma onda tão poderosa que tanto pode dignificar incluindo as pessoas como demonizá-las excluindo-as. A opinião pública tanto põe como  tira gente do poder.

Mas, essas dinâmicas todas, das opiniões que não são contestadas, não diferem daquela em que o sujeito ao ouvir uma fofoca, um mexerico, acredita prontamente, independente de ouvir a versão daquele contra quem falam mal.

Os discursos da oposição tornam-se equivocadíssimos quando se baseiam nas opiniões próprias distantes da realidade dos fatos.

Quando a fundamentação toda do raciocínio oposicionista funda-se no “ouvir dizer”, na suspeita, na fofoca, no mexerico dos enxeridos, certamente gerará manifestações não condizentes com a verdade.

Um acontecimento não tem somente um lado relatado por aqueles que o vivenciam. Há outras versões e, quando falam muito sobre um mesmo assunto, batem numa mesma tecla, fazendo o tal de “cavalo de batalha”, pode ter a certeza de que não existe tanta pureza assim nos relatos.

Pois não existe, nos processos judiciais, o conluio, a combinação de duas, três ou mais pessoas, para manterem certas versões que mais interessariam à parte defendida?

Numa classe de alunos há aqueles que aprendem melhor os ensinamentos do mestre, da mesma forma que não deixa de haver os que não conseguem entender as explicações de jeito nenhum.

E não é porque a realidade da turma retardatária seja causadora de muito incômodo que os melhores mestres deixarão de avançar na matéria. E muito menos o bom professor ralhará, ou chamará a atenção, dos que se destacam tirando as melhores notas.

Entretanto ainda existe, meu amigo, você pode acreditar, mentes tão brilhantes que em vez de promoverem os atrasadinhos, investigarem as causas dos tamanhos empacamentos, das lerdezas, resolvem punir os alunos que aprendem mais facilmente os ensinamentos.

Ou seja, o professor que assim age não estaria, mas não estaria mesmo, apto a promover o progresso dos seus alunos, da sua escola, da sua cidade, do seu estado, e muito menos do seu país.

Ora o mestre que, ao contrário de privilegiar os que aprendem a matéria, os pune, regozijando-se com os revoltados, sinaliza que, ou não tem a capacidade suficiente para ensinar os retardadinhos, demonstrando medo deles, ou os que aprendem fácil, fazem surgir nele, um ciúme inconfessável passível de censura.

Quando Jesus e a Igreja Católica dão preferência aos mais pobres, humildes, mansos de coração, não a dão aos revoltados, aos cruéis, aos odientos, caluniadores, difamadores, pedófilos, que destroem as casas do quarteirão, matam os cães da vizinhança, depredam as árvores, ameaçam e constrangem crianças e velhos.

Aos que praticam essas barbaridades todas, caberia o arrependimento, a mudança de comportamento, “o morrer para o pecado”, a metanoia, e o compromisso com Jesus Cristo.

Demonstram compaixão aos que transgridem as leis aqueles que lhes mostram os erros, os equívocos, admoestando-os, chamando-lhes a atenção para que deixem de trilhar os maus caminhos, os maus costumes.

 

 

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publicado às 02:14

Piscina de quintal

por Fernando Zocca, em 20.04.16

 

 

 

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O Serviço Municipal de Água e Esgoto (SEMAE) que durante mais de uma década foi dirigido pelo presidente do PSDB em Piracicaba, passou a apresentar, depois de um certo tempo, disfunção importante que resultou em protestos veementes na Câmara Municipal e processos no judiciário.

A hipótese da intenção do sucateamento da entidade, com objetivo de privatizá-la, foi praticamente confirmada diante da ineficiência dos serviços prestados à população, bem como pela total desorganização interna.

A exacerbação nos preços cobrados pelo fornecimento da água potável foi o gatilho desencadeador da revolta de grande parte da população. Com aumentos de 100% a 150% nas contas mensais milhares de consumidores viram-se inadimplentes. Um fato inusitado inaugurou-se nestes tempos de administração esquisita: o parcelamento do pagamento das contas do consumo da água.

A câmara municipal, apoio incontestável da política tucana em Piracicaba, ao negar-se a aprovar moções de repúdio, instauração da comissão parlamentar de inquérito, para frear as decisões equivocadas da administração, legislava sem no entanto o perceber, contra os interesses dos eleitores.

A ausência do senso crítico no partido favoreceu a falsa ideia de que a adesão às orientações da presidência era mais importante, para a manutenção da coesão partidária, do que a satisfação dos clamores do povo.

Há quem veja resíduos do nazismo/fascismo nas ações do presidente afastado do SEMAE. Diante da certeza do seu erro administrativo, lançou ele, contra a população, as suas injustiças, da mesma forma que Hitler, diante da derrota iminente, valeu-se do que chamava a solução final.

O certo é que o ministério público investiga as ocorrências. Os vários aumentos sucessivos dos preços dos serviços prestados pela entidade podem ser revogados.

Essa forma especial de ver e resolver os problemas levou muitos proprietários de piscinas de quintal a deixarem de lado aqueles folguedos do fim de semana. O usufruir das águas pode ser muito mais oneroso do que a carne, o carvão, a cerveja e a música dos tais ruidosos embalos festivos.

Com bom senso, equilíbrio, sensatez, é claro, os cálculos da contabilidade podem ser mais exatamente elaborados.

Superfaturar os preços não cai bem para quem está há tanto tempo exercendo a função de dirigir os negócios da cidade.

Imagine que outro dia ouvi um cidadão dizendo: “sorte tinha o Beethoven que, por ser surdo, livrou-se de ouvir o que não gostaria”.

Mas melhor mesmo do que uma simples piscina de água do SEMAE seria aquela repleta de dinheiro, igual a do Tio Patinhas.

Já imaginou o camarada chegando à tardezinha do serviço estafante do escritório chato e botando aquela sunga maneira joga-se de costas na piscina cheinha de dólares e moedas?

Até o sobrinho do Patinhas, o Pato Donald, namorado da Margarida, se sentiria tentado na aventura.

O bom de uma piscina dessas, de grana, é que não precisa de tratamento frequente com cloro. Ela não teria o inconveniente de, no caso de abandono, ser viveiro dos mosquitos causadores da Zika e da Dengue. As dos clubes sociais que se transformam em condomínios luxuosos também.

 

Se você gosta do nosso trabalho e quer nos apoiar ficamos-lhe gratos.

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publicado às 18:17

Árvore alta

por Fernando Zocca, em 04.04.16

 

 

 

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Neste verão passado, chuvas torrenciais, muita água e vento, durante as tempestades, derrubaram milhares de árvores na capital paulista.

Houve muitos prejuízos materiais, feridos e até mortos. A imprevisibilidade e a negligência podem estar no rol das causas dos tantos males sofridos pelos cidadãos.

Quando a gente vê uma árvore muito grande, bem alta, já envelhecida, com o tronco muita vez circundado por parasitas, pode imaginar que suas raízes já não são as mesmas. Então quando surgem as ventanias elas simplesmente não aguentam vindo ao solo causando a destruição.

Aqui em Piracicaba existem centenas de árvores muito altas, cujas copas espalhando-se pela vizinhança do tronco, acumulam muita água das chuvas tornando o peso praticamente insuportável para as raízes já não tão saudáveis.

Muitas e muitas pessoas diante de um problemão desses liga para o 156 da prefeitura comunicando a possibilidade dos estragos que a situação pode causar.

Mas nem sempre os moradores são atendidos. A posse dos protocolos e mais protocolos, da entidade pública, solicitada a resolver os problemas, não vale nada.

O sujeito perde mais tempo indo atrás das pessoas responsáveis pela solução destes imbróglios do que ganha esperança de resolvê-los.

E quando a canseira é bem maior do que o medo de que a queda da árvore possa danar os automóveis, os telhados, os muros e as casas dos moradores, então não resta nada mais do que rezar pedindo a Deus o livramento das chateações tamanhas.

Apesar de existirem normas reguladoras desse assunto donde emanam enunciados de que quem promover o corte ou a poda da árvore, existente na rua, pode ser apenado com multas pesadas, ainda, mesmo assim, tem quem destrua a planta existente defronte a sua casa.

E como geralmente quem faz isso é muito “esperto”, aos possíveis questionamentos das autoridades, sempre poderá responder que “ela estava podre e morreu”.

Uma técnica observada, com muita frequencia, na ação fatal contra as árvores, é a do anelamento que consiste em tirar a casca do tronco, na altura da raiz.

Passadas algumas semanas depois deste ato vandálico, o vegetal começa a secar. Da mesma forma que o cão, envenenado por uma vizinha maluca, morre aos pouquinhos, sem chance de sobreviver, a árvore inicia também, sem poder se nutrir e respirar, um processo mórbido deixando cair as folhas; seus galhos logo secam inapelavelmente.

Então, da mesma forma que o dono do cão neurótico, louco, que ataca as pessoas nas ruas, ao ser questionado, afirma não ser o proprietário dele, o matador das árvores nega veementemente não ter sido ele o autor da tão condenável atitude.

O mal que habita pessoas assim é o mesmo que leva o deputado federal a receber propina depositando a fortuna no exterior.

Ou seja, não haveria um mínimo de consideração para com as coisas, inclusive as públicas. A perversidade é mais intensa do que o medo das possíveis punições que os tais meliantes possam receber.

Perceba que a alegação do desconhecimento da proibição da prática do ato destruidor da árvore pode, muita vez, encorajar a mentalidade insana a diariamente buscar a degeneração do vegetal plantado na calçada, bem na frente da sua própria casa.

Os “cabeças de burro” de um quarteirão valorizam mais os zumbidos bizorrais que podem produzir suas gargantas do que a estética e a limpeza do lugar onde vivem.

É uma pena que, ainda hoje, os ensinamentos escolares sejam insuficientes para formar personalidades capazes de valorizar mais o todo, o ambiente em que vivem, do que seus direitos de serem loucos irresponsáveis, agressores impunes, daqueles a quem antipatizam.

Mas apesar disso tudo, meu amigo, a gente ainda tem esperança de ver o sujeito que mata as árvores, o cão do vizinho, o padrasto maligno que abusa sexualmente dos enteados, a doidona que sendo portadora de afecção pulmonar, usa teimosamente o tabaco, descontando depois o sofrimento obtido, no inusitado bater violento da porta do barraco, o deputado ladrão esperto, a gente ainda tem, repetimos, a esperança de vê-los receberem o retorno, as consequências, que merecem.

Colhe-se o que se planta.

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publicado às 21:06

Indicador

por Fernando Zocca, em 22.03.16

 

 

 

Durante uma das minhas idas ao parque do Piracicamirim, onde corro todos os dias, encontrei-me com um conhecido que há muito tempo não via.

Ele vinha no sentido contrário ao meu; paramos perto de uma pinguela que fica quase defronte ao clube Cristóvão Colombo.

O camarada era daqueles que gosta muito de conversar; como não nos falávamos desde os tempos da militância no Fórum Trabalhista os assuntos fluíam com a maior facilidade e alegria.

Naquele momento, manhã clara e quente, na Avenida Alberto Vollet Sachs, uma vontade antiga, imensa de saber, sempre contida pelo temor, pompa e circunstância do ambiente profissional, voltou-me e eu então, sentindo-me seguro, perguntei como ele perdera parte do dedo indicador da mão esquerda.

O colega, já aposentado, começou então a contar sua história:

- Quando eu era criança meu pai comprou um Simca Chambord. Era um carro imenso, amarelo e branco. Depois que ele estacionou defronte a nossa casa ele entrou contente e contou pra minha mãe o negócio que tinha feito. Passada a euforia meu velho me convidou pra dar uma volta de carro.

Descemos a Rua Riachuelo, entramos na Benjamim Constant e quando chegamos na Doutor Paulo de Morais, seguimos até a Governador Pedro de Toledo, pela qual viemos descendo até a esquina com a XV de Novembro, onde paramos por causa do sinal vermelho. Logo uma fila de carros se formou atrás de nós. Durante a espera meu pai ligou o rádio do carro; o noticiário informava que naquele domingo o Corinthians viria pra Piracicaba onde enfrentaria o XV no estádio da Rua Regente Feijó.

Durante a sintonização da estação no dial, o semáforo abriu. Como meu pai estava atento ao rádio, demorou a sair. Então o sujeito que estava atrás, num Gordini verde, começou a buzinar. Meu pai, irritado botou a cabeça pra fora e mandou o cara tomar naquele lugar e a cheirar o dedo. Eu fiquei imaginando o que ele queria dizer com aquele “cheirar o dedo”.

Depois do passeio meu pai foi pra cozinha onde minha mãe fazia o almoço e eu fiquei na sala, sentado no sofá vendo televisão. Durante uma discussão mais forte entre meu pai e minha mãe, eu sem querer coloquei o dedo indicador da mão esquerda no fiofó e depois o levei ao nariz.

Bom, o tempo passou e eu fiquei com essa mania besta de, sempre que presenciava uma discussão, pôr à ocultas, o dedo no fiantã. Numa ocasião minha mãe me pegou fazendo isso e me deu uma surra tremenda, inesquecível. Apanhei que nem um não sei o quê.

Durante o tempo do ginásio, eu já adolescente, fazia parte de uma turma que não era muito chegada nos estudos. O pessoal era da bagunça; sentava-se nas carteiras de trás e vivia perturbando as aulas.

Era costume dos caras, durante os recreios, fumarem no banheiro. E lá também tinha uns manos que, trazendo de casa, aquelas bombinhas de festas juninas, colocando-as nos tocos de cigarro aceso, e deixando sobre o vaso sanitário, aguardavam o estouro sempre esperado durante o transcurso da aula posterior ao intervalo.

A repetição desse arremedo, de projeto de ato terrorista, perturbou tanto o diretor do ginásio que ele resolveu descobrir quem era o tal que fazia aquela coisa feia de atormentar o sossego do lugar.

Pressão vai, pressão vem, e o diretor me chamou na diretoria. Lá ele me disse que minhas notas estavam muito ruins e que se eu contasse quem estava explodindo bombas no banheiro eu poderia passar de ano mesmo com as notas baixas. Bom, eu então delatei quem fazia aquele fuzuê todo.

Não demorou muito e pimba. O tal das bombinhas e cigarro foi convidado a mudar de colégio.

O restante da turma queria saber quem tinha dedurado o pré-terrorista, aprendiz de guerrilheiro, exilado pra outro bairro. É claro que eu fiquei na minha; meu dedo indicador da mão esquerda coçava tanto que eu tinha vontade de passar a unha na lousa pra todo mundo se arrepiar.

Depois que me formei, disse pro meu pai que precisava trabalhar. Meu querido velho me ensinou que pra arrumar emprego bom a pessoa tinha que ter um alto Q.I. Eu já ia me lembrando daqueles testes de inteligência que os psicólogos aplicam nas escolas, nas empresas, quando meu pai me falou que esse tal de Q.I. significava “Quem Indica”. Ou seja, só quem tem “quem indica”, quem tem cunha, é que poderia conseguir um emprego bom. Mais uma vez eu senti raiva do meu dedinho.

O tempo passou e durante uma celebração religiosa eu ouvi dizer que se os teus olhos te escandalizam, diante das coisas que vê, arranque-os. E que se a tua mão te envergonha corte-a.

Como não tinha mesmo serviço na cidade, naquele tempo, meu pai me mandava roçar terrenos. Eu carpia quintais, e muitos terrenos baldios com o que eu ganhava uns troquinhos. 

Certo dia, sozinho, num lote cheio de mato, me deu uma tristeza tão grande que eu assim, bem de bobeira, peguei a enxada, coloquei-a com a lâmina pra cima e botando o indicador da mão esquerda sobre o fio do instrumento, bati fortemente nele com um tijolo; falanginha e falangeta caíram no chão onde logo se formou uma poça pequena de sangue.

Essa é a história do meu dedinho cortado. Eu não sei se estou certo. Mas depois que perdi o dedo, tive mais sorte. Talvez a pena, a compaixão, o dó que isso provocou nas pessoas tivesse favorecido a minha entrada no serviço em que me aposentei. Eu me lembro que, no cartório, sempre que desejava celeridade nas respostas aos meus pedidos eu apontava o toco do dedo amputado pra cima e esbravejando era logo atendido. Maneiro, né?

Depois dessa conversa e satisfeita minha curiosidade sobre qual teria sido a causa daquela amputação eu segui feliz pra minha corrida diária e meu velho colega de Fórum, que eu não via há tanto tempo, foi pro clube onde buscaria sua esposa que, atendendo aos conselhos médicos, fazia exercícios físicos.

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publicado às 18:30

Burro é burro

por Fernando Zocca, em 19.02.16

 

 

O vereador Dirceu Alves (PROS) disse na reunião desta quinta-feira (18) que “vereador é que nem burro. Não sabe a força que tem”.

Milhares de eleitores estão, neste momento, perguntando o que fazer, ou como fazer, para pagar as contas de água impostas pela politica desequilibrada do presidente do Serviço Municipal de Água e Esgoto.

Discordando plenamente da opinião deste nobilíssimo legislador, muita gente acha que se vereador fosse burro, a câmara municipal seria estrebaria e, em assim sendo, a pergunta que não calaria seria a seguinte: o que a estrebaria tem feito contra os aumentos abusivos, desproporcionais e desequilibrados da água, determinados pelo presidente do SEMAE?

Essa inflação nos preços leva muitos a pensarem que a população está pagando contas que não são suas. Há quem considere a privatização da autarquia um dos objetivos da tal presidência.

Seja qual for a motivação desta politica maluca da direção do SEMAE o que na verdade a tal gera é um descontentamento tremendo  no eleitorado.

O prefeito Gabriel Ferrato dos Santos não tem como contornar a situação. Aliás, o PSDB todo, em Piracicaba não tem como livrar-se do martírio imposto aos consumidores.

O poder legislativo existe para contrabalançar o executivo.

Se o SEMAE, que é uma empresa pública do poder executivo, manda e desmanda, cometendo injustiças, e a câmara dos vereadores, vendo-se impotente, diante dos fatos, não confirma sua competência, a que serviria?

Afinal, perguntaria o eleitor: qual a utilidade de tanta organização, aparato, legião de funcionários, salários dignos das sinecuras mais invejáveis do mundo, se não defende o eleitorado contra os desmandos da politica doida?

Nos Estados Unidos o burro é o símbolo do partido Democrata.

Aqui no Brasil, em que pese um deles ter carregado a sagrada família, durante a fuga para o Egito, o burro é símbolo do burro mesmo.

É símbolo do bicho teimoso, empacador, coiceiro, estúpido, e ao contrário do que dizem bem vagabundo.

 

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publicado às 10:15

Sai pra lá gambá

por Fernando Zocca, em 02.02.16

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É só chegar o tempo das eleições que ressurgem os clichês característicos próprios de certos grupos políticos crônicos.
Há alguns anos, durante este período, os grandes caciques piracicabanos não deixavam de falar sobre vias férreas, trens, a expansão das estações, as vantagens sobre as estradas de rodagem e tudo o mais relacionado.
Durante esta temporada era comum também, não faz muito tempo, o assunto febre maculosa. Quem não se lembra da terrível maculosa que fazia, acontecia, e era temidíssima pelos sintomas que causava?
Imagine o desespero dos impressionáveis caçando a torto e a direito as pobres capivaras da região, por serem elas as portadoras dos condenadíssimos carrapatos chamados estrela.
Agora o tema central recorrente é o mosquito que transmitiria a dengue, o zika vírus e a chikungunya.
Não quero me enganar, mas esse terrorismo midiático, fundado no conhecimento técnico/científico, que avassala com os fatos noticiados sobre a microcefalia não passa também de estratégia eleitoral objetivando o afastamento da concorrência política.
Isso tudo é bem semelhante à situação vivenciada numa família grande onde os filhos disputam os carinhos da mamãe. Ou seja, é como se esse grupo dissesse: “sai pra lá gambá, que a mamãe gosta só de mim”.
Na verdade esse tipo de comportamento é muito feio. A mamãe gosta de todos os seus filhos e ela sabe que precisa agraciar, com oportunidades, a todos eles a fim de que se desenvolvam como deve ser.
Os tempos de Pedro I, Pedro II, do Regente Feijó já passaram e deixaram suas marcas. A bandeira hoje não é mais a do império.
O que impressiona é o fato de, por exemplo, um cidadão que ocupa cargo eletivo há mais de 20 anos, achar que não haveria mais ninguém capaz de apresentar soluções para os problemas da cidade além dele. E que por isso ele insiste em se candidatar.
Não que a cidade não mereça. Até mereceria, mas o que seria do verde se não fosse o amarelo, não é verdade?
É claro que o capitalismo é feito também pelo empreendedorismo, a tal da livre iniciativa, a circulação da grana, motivada pelo consumo, pela produção, mas não seria tão correto, causar tantos assombros constantes, pra que isso ocorra. Na minha opinião não é bacana industriar tanta marola pra vender fitoterápicos.
Mas afinal, o que mais poderiam fazer, além do que vêm fazendo, os ocupantes do poder a fim de se manterem mais uma temporada nele arvorados?
Na verdade há cidades em que não funciona praticamente nada. Não há atendimento adequado na área da saúde, o ensino não desempenha a sua função, o setor da segurança não age na conformidade necessária, o saneamento básico não é tão eficiente e a corrupção torna rico quem nunca foi.
Perceba que a situação é bem pior do que pode imaginar a nossa miserável filosofia. Imagine o dilema: a raça humana precisa dos veículos automotores para a sua sobrevivência. Acontece que o uso desse tipo de tecnologia vem causando danos no ambiente natural havendo a ameaça da transformação geral do clima no planeta e a sua destruição.
Ora, como fazer se, para se manter viva a raça humana precisa deteriorar o local que lhe serve para viver e que um dia não será o mesmo?
Certamente técnicas novas, mais limpas, surgirão sendo usadas nos transportes garantindo assim a continuidade da vida na terra.

 

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publicado às 11:05

Embrulhando o peixe

por Fernando Zocca, em 30.12.15

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Até parece que o cidadão de bem, frequentemente atacado na rua, por cão vadio, vai deixar de se defender por causa da lei de proteção aos animais.
E se há pessoa que prefira dar razão ao cachorro, ao invés de ao humano, injustamente sempre atacado, então seria melhor reciclar sua escala de valores, ou providenciar que aconteça o mesmo com ele.
A gente percebe que nesse tempo de chuvas quase que diárias as ruas estão sempre precisas de limpeza. E aqueles que têm árvores defronte suas casas em muito ajudariam ao poder público se providenciassem a varrição das folhas secas.
Por falar em folha lembrei-me do Jornal Folha de S. Paulo. Outro dia, depois da corrida diária, que faço na área de lazer do Piracicamirim, encontrei-me com um cidadão residente no local, que descansava num dos bancos ali existentes.
Depois de eu ter tomado a ducha super gelada, já bem seco e vestido, ao passar por ele, o cidadão puxou prosa.
E você sabe: o assunto predominante nestes dias é a sacanagem dos políticos.
O pacato e aposentado eleitor me dizia ter perdido a fé nessa gente que pede voto, e depois que é eleita, começa a roubar descaradamente prejudicando até mesmo as pessoas que votaram nela.
Então eu confirmei essa noção do meu colega dizendo que lia sempre as notícias na Folha de S. Paulo, um jornal até agora conceituado, que comunicava os fatos de corrupção.
Para o meu espanto o experiente e conceituado sexagenário, há algum tempo aposentado, garantiu que existia jornal que não servia nem mesmo pra ser usado como papel higiênico ou embrulhar peixe por tão nociva ser aquela sua consistência nojenta.
Não querendo polemizar, mas antes de tudo concorde com as opiniões do conceituado morador da cidade, disse-lhe que se o judiciário não conseguisse punir os safados, que drenam os recursos públicos, para as suas próprias contas particulares, essas instituições políticas estariam seriamente desacreditadas e consequentemente desnecessárias.
Concordes nesses aspectos e, em vista das nuvens ameaçadoras, que se formavam naquele momento, nos ajustamos também sobre as ações da natureza: em alguns lugares há chuvas em abundância, enquanto que em outros falta. E não é violando normas que as ações do tempo enriquecem uns minguando outros.
– Uma coisa é bem certa – garantiu-me o eletricista aposentado – hoje em dia você não precisa de jornal nem pra embrulhar peixe. A gente compra enlatado.

 

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publicado às 11:30

Travessia

por Fernando Zocca, em 01.12.15

 

O Papa Francisco disse recentemente que o homem, diante das mudanças que vem causando ao clima, está prestes a cometer o suicídio.
Estas transformações referem-se à temperatura da terra, mexida e remexida, pelas atividades industriais danosas.
Percebe-se que a queima das florestas, e também a retirada do material orgânico do subsolo, para a incineração na atmosfera, são dois dos maiores fatores contribuintes da devastação do local onde vive a humanidade.
A motivação para a destruição das florestas é basicamente a instalação dos pastos, para a criação do gado, com as finalidades econômicas.
O motor da subtração do petróleo, das camadas profundas da terra, é a alimentação dos produtos das indústrias automobilísticas.
Ou seja essa atividade econômica - fabricação de automóveis e seus combustíveis - requerem certa destruição da terra.
Essas riquezas todas produzidas sustentam governos que, teoricamente, deveriam proporcionar a melhoria da vida dos seus governados.
No entanto não é bem isso o que acontece. O produto dos impostos é mais usado na sustentação da vida particular luxuosa dos corruptos, seus familiares e amigos, do que em favor dos trabalhos que objetivam a melhoria da vida do cidadão eleitor.
Mesmo que a corrupção pudesse ser extirpada, como extirpa-se um nódulo canceroso, a deterioração do local onde residem os seres humanos, não deixaria de ser continuada.
Os governos orientam-se por regras praticamente fixas, da mesma forma que os motoristas, ao dirigirem seus carros.
Então é praticamente indiferente se este ou aquele condutor seja vermelho ou azul. As ações que ambos tomarão, diante dos problemas surgidos, durante o percurso, são específicas.
Nas navegações aéreas feitas nos balões, ou nas grandes travessias oceânicas com navios, quando em queda, ou na iminência do naufrágio, durante as tempestades, uma das medidas adotadas sempre foi a de livrar-se do excesso de carga. Ou seja, tudo o que obstava a manutenção da estabilidade, era lançado fora.
Alguns governos, empresários e administradores sabem disso: os primeiros privatizam; os segundos e terceiros, despedem empregados, vendem móveis e até imóveis dos seus patrimônios.
O que na verdade falta, e muito, neste momento do encerramento da era industrial é a solidarização. A compaixão é menos valorizada do que a satifação egoica dos desejos próprios.
Não tem mais valor o sofrimento do semelhante, sua pobreza, miséria, doença, do que a satisfação pessoal dos tais escolhidos para gerir os interesses deles.
Comprovada a culpabilidade dos indiciados por crimes de corrupção, devem eles sofrer as penas das leis sob pena do descrédito total das instituições.
Durante as travessias das planícies algumas manadas sofrem o cerco e os ataques dos animais ferozes. Nem por isso a marcha é detida, mesmo que à imolação se submetam os mais fracos, velhos e imaturos.
É claro que todos os princípios do direito, bem como a observância do direito à defesa, devem ser garantidos.

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publicado às 12:44

Cavalgando a Teresa

por Fernando Zocca, em 22.11.15

 

 

 

Você já deve ter lido muitas histórias minhas sobre o Van Grogue. A maioria delas foi publicada, nos blogs que mantenho, e livros que escrevi, retratando os momentos em que o famoso personagem de Tupinambicas das Linhas, se embriaga nos bares da cidade.
Entretanto Grogue não é só um bêbado inconsequente. Quando menino e, vivendo na área rural de uma cidade vizinha, ele, além de ajudar os pais nos serviços domésticos, e da lavoura, também gostava de ler.
Ele era fã de Jorge Amado. Pra quem não sabe Jorge Amado foi um escritor brasileiro, nascido na Bahia, tendo se notabilizado pelas inúmeras obras literárias que se transformaram em filmes e séries para a TV.
Numa ocasião, quando Van se recuperava de um surto meníngico, o pai o presenteou com a novela Teresa Batista cansada de guerra do famoso autor baiano.
Van, depois de muito tempo, recuperou a saúde tendo guardado boas lembranças do Jorge Amado e seus livros, especialmente o Teresa Batista.
Já quase adulto Van de Oliveira ganhou de presente, de um padrinho, uma bela mula. Durante a entrega, numa festa de aniversário, ao passar-lhe as rédeas do animal, o presenteador disse-lhe:
- É um bichinho de estimação. Ela nunca foi montada. Você pode ver: é ainda muito nova e precisa ser domada. O pai dela era um burro orelhudo, cabeçudo, vigoroso, que carregou muita lenha e material de construção pra mim e meus irmãos.
Van recebeu a mula durante o "parabéns pra você" e ouviu a recomentação do padrinho:
- Olha, meu filho, ela adora milho. De vez em quando, pelo menos uma, ou duas vezes por semana, você deve serví-la com milho. Mas, veja bem, tem de ser milho bom. Não me dê desses já passados, amarronzados, que não servem nem pra pipoca. Sabe pipoca, que quando quente, pula insanamente de lá pra cá? Então... Tem de ser milho bom. Entende?
Dona Emiliana, a mãe do Van, curiosa e feliz com o presente do filho perguntou ao padrinho, logo depois do "é pique, é pique; é hora, é hora..."
- Essa mula não tem nome?
Diante da negativa do padrinho Van adiantou-se e, lembrando da bela história do Jorge Amado, disse em alto e bom som:
- Essa mula vai se chamar Teresa Batista.
Depois de algum tempo de treinamento carinhoso, nos arredores da casa sede do sítio, Van de Oliveira e Teresa tornaram-se bons amigos.
E foi assim que Van, numa bela e ensolarada manhã de domingo, um inesquecível nove de janeiro, ao surgir em Tupinambicas das Linhas, montando a Teresa, anunciou à cidade inteira que, uma, duas, ou até mais vezes por semana, cavalgava prazerosamente a inoxidável mula fogosa.

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publicado às 08:50






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