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Esteve tudo muito bom, a alegria pairou no ar, o som romântico estava ótimo, mas durante a noite, quando imperava o silêncio e o vento trazia os odores do mar, eu senti que algo a mais poderia ser acrescentado.
Não me preocupei com o efeito da bebida, pois não havia ingerido tanto. Notei que os sapatos novos deram um aspecto bem diferente à silhueta dos pés e que agora, ali na cama, descalça, o conforto se impunha de forma completa.
O coração batia forte e ritmado. Não seriam algumas lembranças tristes que dominariam o restante da madrugada.
Notei que passou ao largo, e bem rápida, a frota das emoções negativas, que teimava com aqueles assédios maldosos e frustrados.
Voos livres rasantes de pessimismo, incompreensão e má vontade, foram percebidos a princípio, mas logo se diluíram sob o clarão do céu noturno.
Ao fundo, o ruído das máquinas impunha lampejos dos grandes bondes, que faziam trepidar o chão, no entorno dos trilhos, por onde passavam.
Faltou algo, não sei bem o que era. Talvez fossem melhores contatos, afagos, palavras simples de admiração, respeito ou louvação.
Ou seria o recrudescimento do atual, porém imperceptível balanço das ondas?
Vi a nau se aproximar de forma lenta, mas segura, do porto. O celular transmitia a certeza de que tudo estava bem, com o futuro que nos aguardava.
Foi ótimo o passeio. Gostei.
Brothers Evitam se Envolver com o Concorrente
Os homens que participam do BBB 11 estão jogando na retranca. Isto é, eles evitariam o comprometimento físico e afetivo; tal fato provocou a afirmação de que “na casa não tem homens”, feita pelo eliminado Lucival.
Na verdade, o prêmio de R$1,5 milhão teria mais importância, do que a satisfação sexual ou os compromissos de uma relação duradoura.
Seria até um contra-senso desejar participar do BBB com o intuito único de saciar a libido ou arrumar o parceiro ideal. A vivência na casa é absurdamente estressante, fazendo com que se opte mais pelo resguardo.
Já imaginou participar das festas, por horas e horas seguidas e logo depois, ao pegar no sono, ser acordado por sobressaltos terríveis?
Isso sem falar nas provas de resistência que minariam as forças físicas e emocionais de qualquer um.
Mas é claro que tem gente que não pensa e nem age só dessa forma, na defensiva. Maria, por exemplo, viveu momentos intensos na ofensiva, buscando as atenções exclusivas do Mauricio.
Daniel também não se vexaria em partir para a entrega, quando tomado pelas paixões intensas. Não é verdade?
Em todo caso, atuando ativa ou passivamente, segue o jogo na casa, onde as relações são tensas. Pode-se dizer que não haveria momento algum de descontração, de paz, de enlevo.
Esse movimento contínuo assemelhar-se-ia ao que mantém as bicicletas na vertical, ou seja, se parar cai, desaba, se enlouquece.
Na atual situação o não envolvimento físico e emocional com o concorrente equivaleria à salvação da alma, à habilitação para o ganho do grande prêmio.
Quando Van de Oliveira Grogue era criança conheceu um professor muito esquisito. Ele tinha uma das pernas de pau, o rosto vermelho enorme, e seus óculos, sempre embaçados, eram feitos com lentes grossas.
O mestre olhava para os meninos, que se aglomeravam defronte a sua casa, como quem procurava algum traço de zombaria, que ele cria fazerem do seu defeito, aqueles demônios dos infernos periféricos.
Às vezes o professor, acompanhado da esposa, sentava-se defronte a sua morada, donde podia vigiar os próprios filhos, que se juntavam aos moleques vizinhos.
O taciturno e cabisbaixo professor era sempre visto, com aquele rosto afogueado, a caminhar pela calçada do quarteirão, claudicando e proferindo palavras, que muitos julgavam ser maldições.
O mestre tinha um filho chamado Ênio que nas trevas do porão da casa alugada, mantinha um baú, onde criava milhares de baratas.
Ênio era mestre nas intrigas e por não suportar ver o pai usando a perna de pau, sem poder fazer uma única e inócua troça, atribuiu ao menino Van Grogue, a ousadia de ter dito ser ele – o velhote – um pirata da perna de pau.
O velho professor percebeu que a sua cabeça, a cada dia que passava, depois daquele desaforo, se esquentava, se esquentava e se avermelhava cada vez mais.
Ora, o mestre antigo julgou que não melhoraria enquanto não vingasse a petulância, supostamente cometida por aquele pé descalço semianalfabeto, que não servia nem para serrar ou pregar tábuas na fábrica de botes.
Então o professorzinho e sua mulher balofa, idealizaram o plano de fazer cair sobre o cocuruto do suposto falador inconsequente, um pedaço de pau do mesmo tamanho e peso, que eles julgavam ter a perna direita postiça.
Iniciado o lero-lero, o tititi, a murmuração, notaram os dois seres vingativos que um dos irmãos do Van Grogue, suposto ofensor, estava esculpindo, num toco de pinho, uma espécie de taco de basebol.
Os dois iludidos mestres não cessaram as suas arengas da desforra, enquanto não souberam que o Van Grogue foi atingido por um golpe violento desferido pelo próprio irmão, diante da porta aberta do quarto, no início de uma noite de sexta-feira.
Os curativos, as bandagens, os seis pontos que Grogue levou, para unir as bordas do corte no couro cabeludo, foram por muito e muito tempo, motivadores da mais ampla e irrestrita satisfação do professor, sua mulher fofa e do Ênio, o criador de baratas.
O Infernizador
A frustração dos impulsos sexuais pode transformar-se em ódio e ressentimento, que fará do inibido um perturbador impertinente.
A libido represada conduz o sujeito ao comportamento vingativo, odiento, que somente se satisfará ante o sofrimento do frustrador.
O malogrado compensará também sua angústia com a maledicência e muitas fantasias sobre aquele obstáculo “insensível” e “maligno”.
A busca da satisfação sexual com quem não a deseja e a rejeição dos carinhos, daquele que se mostra receptivo, formam em ambas as almas, uma poderosa força contrária negativa, cujos objetivos podem ser, inclusive o de transformação do gênero do decepcionante.
As insatisfações, tanto a sexual quanto a da paz, do equilíbrio do sujeito, são fatores evocados pela figura exponencial do triângulo.
As almas frustradas, sofridas, unem-se então na busca incessante da eliminação da fonte do desprazer.
Os conluios, conchavos, armadilhas e até violências físicas são os resultados das aproximações sexuais não desejadas.
Banhos de cachoeira, espelhos e papéis podem lembrar os dramas vividos pelos rancorosos, incapazes de substituir as más sensações, causadas pelas experiências negativas.
Quase ninguém condena os que afirmam ser mortal o ódio da “bicha” frustrada.
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Jorge sentia-se estranho naquela cidade. Ele viera para uma festa de aniversário da prima Helen que o recebera muito bem na manhã do dia anterior.
O rapaz caminhava só pela calçada ruminando os bons momentos da festa que tivera muita gente, flash e animação.
Ele não dormira bem à noite por causa do excesso de bebida, mas, mesmo assim ao acordar, naquela manhã de terça-feira, resolveu andar pelo calçadão da orla. O sol aquecia bastante, despontado no céu límpido.
- Por que a Helen não fez a festa no final de semana? – perguntava Jorge num solilóquio discreto, enquanto observava, através das lentes dos seus óculos de sol, algumas pessoas que se divertiam nas ondas verdes.
O turista andava distraído e surpreendeu-se quando alguém ao se aproximar por trás disse:
- Ei Jorge, já cedo assim acordado? Não passou bem durante a madrugada? – Era o empresário Cristiano que também participara das comemorações do décimo nono aniversário da Helen. Ele vinha no mesmo sentido caminhando mais rápido.
- Ah, oi, como vai? – respondeu Jorge ao voltar-se – Eu bebi muito. A ressaca é enorme. Não passei bem o resto da noite, mas logo melhoro – concluiu.
- Achei esquisito a Helen desperdiçar o sábado e o domingo pra fazer a festa. Ela escolheu justamente a noite de segunda-feira. Não é estranho? – indagou Cristiano ajustando a velocidade dos seus passos a dos de Jorge.
- É, gente rica tem suas manias - explicou o turista. – E depois, levantando a pala do boné vermelho: - Mas como tem gente bonita nesta praia hein? Veja como as mulheres caminham harmoniosamente. Parece que desfilam naquelas passarelas.
- Sim, tem muita gente sarada e bela por aqui – resumiu Cristiano percebendo o suor que lhe empapava a camiseta - Vamos caminhar mais rápido?
Os dois homens seguiram céleres pelo calçadão quando avistaram um gorducho que, de short amarelo, camiseta preta, boné verde e chinelos brancos, arrastava uma mala preta enorme ao atravessar a avenida em direção à praia.
- Veja só aquela figura! – assustou-se Cristiano chamando a atenção do companheiro – não é o Leonel?
- Não conheço nenhum Leonel – respondeu Jorge desviando-se de um esqueitista, que saíra sem querer, da ciclovia.
- Você não imagina o que esse cara aprontou num baile de carnaval no ano passado. Meu amigo, que vergonha! Que vexame – enfatizou Cristiano.
- Nossa! Foi tão grave assim? – quis saber o amigo.
- O sujeito chegou cedo ao salão, bebeu todas e mais algumas, depois no meio daquele povo todo, começou a passar a mão na busanfa da mulherada.
- E ai? Deram-lhe um cacete? – indagou Jorge.
- Botaram o cara pra fora do baile. Ficou deitado na calçada de tão bêbado que estava. Mas pode uma coisa dessas?
- Pô, mano, que papelão! – concordou o turista.
- E, olha, não foi aquela a primeira e a única vez, não. Houve outra, no mesmo esquema. No baile dos periquitos, ele mandou ver a mão boba nas coxas do mulherio. Parece que o sujeito não pode beber.
- O pessoal instiga e ele entra de gaiato. Na verdade é um panaca, um palhaço – arriscou Jorge com a sua análise.
O calor aumentava por volta das onze horas. Eles haviam chegado defronte ao prédio da Helen.
- Quando você volta pra casa? – indagou Cristiano.
- Talvez amanhã à noite – respondeu Jorge num tom de despedida.
- Tem ainda muitas compras pra fazer? – brincou Cristiano afastando-se.
- É, meu amigo, a vida tem dessas dificuldades também – concluiu Jorge com ironia, entrando no edifício.
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