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Jorge sentia-se estranho naquela cidade. Ele viera para uma festa de aniversário da prima Helen que o recebera muito bem na manhã do dia anterior.
O rapaz caminhava só pela calçada ruminando os bons momentos da festa que tivera muita gente, flash e animação.
Ele não dormira bem à noite por causa do excesso de bebida, mas, mesmo assim ao acordar, naquela manhã de terça-feira, resolveu andar pelo calçadão da orla. O sol aquecia bastante, despontado no céu límpido.
- Por que a Helen não fez a festa no final de semana? – perguntava Jorge num solilóquio discreto, enquanto observava, através das lentes dos seus óculos de sol, algumas pessoas que se divertiam nas ondas verdes.
O turista andava distraído e surpreendeu-se quando alguém ao se aproximar por trás disse:
- Ei Jorge, já cedo assim acordado? Não passou bem durante a madrugada? – Era o empresário Cristiano que também participara das comemorações do décimo nono aniversário da Helen. Ele vinha no mesmo sentido caminhando mais rápido.
- Ah, oi, como vai? – respondeu Jorge ao voltar-se – Eu bebi muito. A ressaca é enorme. Não passei bem o resto da noite, mas logo melhoro – concluiu.
- Achei esquisito a Helen desperdiçar o sábado e o domingo pra fazer a festa. Ela escolheu justamente a noite de segunda-feira. Não é estranho? – indagou Cristiano ajustando a velocidade dos seus passos a dos de Jorge.
- É, gente rica tem suas manias - explicou o turista. – E depois, levantando a pala do boné vermelho: - Mas como tem gente bonita nesta praia hein? Veja como as mulheres caminham harmoniosamente. Parece que desfilam naquelas passarelas.
- Sim, tem muita gente sarada e bela por aqui – resumiu Cristiano percebendo o suor que lhe empapava a camiseta - Vamos caminhar mais rápido?
Os dois homens seguiram céleres pelo calçadão quando avistaram um gorducho que, de short amarelo, camiseta preta, boné verde e chinelos brancos, arrastava uma mala preta enorme ao atravessar a avenida em direção à praia.
- Veja só aquela figura! – assustou-se Cristiano chamando a atenção do companheiro – não é o Leonel?
- Não conheço nenhum Leonel – respondeu Jorge desviando-se de um esqueitista, que saíra sem querer, da ciclovia.
- Você não imagina o que esse cara aprontou num baile de carnaval no ano passado. Meu amigo, que vergonha! Que vexame – enfatizou Cristiano.
- Nossa! Foi tão grave assim? – quis saber o amigo.
- O sujeito chegou cedo ao salão, bebeu todas e mais algumas, depois no meio daquele povo todo, começou a passar a mão na busanfa da mulherada.
- E ai? Deram-lhe um cacete? – indagou Jorge.
- Botaram o cara pra fora do baile. Ficou deitado na calçada de tão bêbado que estava. Mas pode uma coisa dessas?
- Pô, mano, que papelão! – concordou o turista.
- E, olha, não foi aquela a primeira e a única vez, não. Houve outra, no mesmo esquema. No baile dos periquitos, ele mandou ver a mão boba nas coxas do mulherio. Parece que o sujeito não pode beber.
- O pessoal instiga e ele entra de gaiato. Na verdade é um panaca, um palhaço – arriscou Jorge com a sua análise.
O calor aumentava por volta das onze horas. Eles haviam chegado defronte ao prédio da Helen.
- Quando você volta pra casa? – indagou Cristiano.
- Talvez amanhã à noite – respondeu Jorge num tom de despedida.
- Tem ainda muitas compras pra fazer? – brincou Cristiano afastando-se.
- É, meu amigo, a vida tem dessas dificuldades também – concluiu Jorge com ironia, entrando no edifício.
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