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As Setas

por Fernando Zocca, em 24.03.12

 

 

           Diante do espelho do quarto, Márcia fixou a peruca de cabelos castanhos sobre os louros que prendera habilmente. Retirou as sobras da maquiagem, o piercing da língua, ajeitando logo em seguida, o restante do figurino que usaria naquela noite.

       Marília que a acompanhava, naquele princípio de aventura da terça-feira, esperava-a pacientemente, sentada no sofá branco, do apartamento imenso.

       - Já são oito horas. Tem alguém te esperando. Você se lembra? – avisou Marília, retocando o batom vermelho e admirando-se no espelhinho portátil.

       As amigas saíram juntas do apartamento, desceram à garagem onde entraram no Mercedes GLK 300 e partiram para mais outro feito considerado extraordinário.

       Minutos depois, em meio a um trânsito intenso, Marília que observava a amiga exibindo-se para si mesma, diante da câmara fotográfica, estacionou a alguns metros do boteco, em que os enamorados se encontrariam mais outra vez.

       - Olha, já estou vendo ele. Está sentado de frente pra rua lá dentro do bar. Consegue ver? – indagou a motorista.

       - O quê? De peruca loura? Ele está loiro! E de bigode preto? Eu não acredito! – explodiu Márcia numa gargalhada frenética.

       - Vai bebê, vai pra tua felicidade. – arrematou Marília parando o carro.

       Marcia desceu e caminhando lentamente adentrou ao botequim. Edir não notou a presença da amiga; bebendo a cerveja mostrava-se inquieto. Olhava o relógio de pulso, mais outra vez, quando se surpreendeu com Márcia que ao chegar, inclinou-se beijando-lhe o rosto.

       O homem, que já passara dos cinquenta anos, fez menção de levantar-se para, num gesto de gentileza, puxar a cadeira para a amante.

       - Deixa. Não precisa. – apressou-se a garota sentando-se.

        - Demorou hoje. – reclamou Edir pressionando o bigode falso.

       - Você sabe como é o trânsito. Estava horrível.    Márcia sentou-se e, por causa da orientação médica, que a impedia de ingerir bebidas alcoólicas, expressou seu desejo de beber uma Coca-Cola.

       Depois de servida pelo garçom solícito, ela indagou:

       - Ficou boa pra você essa peruca loura. Seus cabelos brancos desapareceram. Nossa que bigodão hein? Mas, falando sério, e os papéis do apartamento?

       - A escritura já está quase finalizada. Talvez na semana que vem eu te dou tudo pronto.

       - Olha por mim eu não me importo. Você sabe: é a minha mãe e o padrasto que questionam isso. – justificou-se Márcia.

       - Eu sei meu bem. – Não tem problema. Demora um pouco por causa das certidões. Você entende? –reforçou Edir. Logo em seguida ele indagou:

       - Vai croquete ou linguiça?

       - Ah, não sei. Não posso engordar. Quero uma coisa bem leve.

       - Que tal alface com tomates? Olha, tem uma salada supimpa com azeitonas pretas e cebolas roxas. Topa?

       - Tem quibe?

       Edir chamou o garçom que anotou o pedido da jovem afastando-se em seguida.

       - E o nosso caso? Quando é que você vai se definir? – quis saber a namorada.

       - Não é tão fácil assim. A pinácea já desconfia. Ela está ligadíssima em tudo o que rola na mídia. Você conhece, você sabe, não é? Veja que pra conseguir o apartamento foi uma luta. A liberação de verba do templo está complicada. Há um processo na justiça federal que acusa o “pastor” de usar o dinheiro do dízimo para doação de prêmios do meu programa. Você me entende?

       - Ai que chato!

       - As coisas se complicaram um pouco. – explicou Edir.

       - Foi por isso que você reduziu em uma hora o meu patrocínio? – quis sabe a moça inteligente referindo-se ao seu programa de rádio.

       - É… Veja bem…

       - Nós já estamos nesse rolo há mais de um ano. Pra mim está difícil ficar sozinha durante tanto tempo no apartamento. Quero mais presença.

       - Olha, tudo vai se resolver. Quem sabe até o fim do ano a “árvore” concorde…

       - Como assim? Você está sugerindo que ela fique sabendo de nós e aceite? É isso? – Márcia estava indignada.

       - Se for para o bem de todos nós, talvez ela até concorde.

       - Mas eu não quero. – decretou a jovem que sentia, com as palavras do amigo, apertos e dores no peito, como as provocadas pelas setas envenenadas.

       - Não vamos estragar a nossa noite. Vamos deixar esse assunto pra outra hora, outro momento. E a nossa madrugada não vai ser legal então?

       Diante da possibilidade de que o imenso prazer que sentiria nas próximas horas, lhe amenizasse a tristeza, daquela existência vivida às escondidas, Márcia calou-se.

       Só se abriu novamente mais tarde, na cama do motel, nos braços do amante, que a fazia gemer com os prazeres do orgasmo.


 

A propósito, veja como atua o pastor Tim Tones (personagem de Chico Anýsio) diante dos seus fiéis.

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publicado às 14:09

É Justo?

por Fernando Zocca, em 19.03.12

 

 

      Quem viu a pouca vergonha, conhecida como desvio de dinheiro público, mostrada ontem pelo Fantástico da Rede Globo de Televisão?

       A maior parte da população brasileira viu. E creio que até no exterior a matéria foi degustada.

       Agora você pode começar a entender como é que um Zé Arruela, que não tinha um gato pra puxar pelo rabo, antes de se meter com a administração pública, agora tem aquele apartamento supimpa, carros importados, amantes em várias cidades, viagens internacionais e outras riquezas mil.

       O esquemão, pra quem não entendeu, é esse: por exemplo, quando uma prefeitura deseja, asfaltar algumas ruas chama a empresa CECRAT, que lhe passa os valores do serviço.

       O encarregado municipal só aceita a proposta do empreiteiro, quando a entidade concorda em apresentar os valores acrescidos de mais 10 ou 20%.

       Executado o serviço e tendo os cofres públicos pagos os valores à empresa, esta repassa então os 10 ou 20% excedentes ao funcionário ou político envolvido na trama.

       Todas as demais empresas que também teriam interesse na contratação com a administração são levadas a apresentar preços maiores do que os da primeira, perdendo assim o que seria essa “licitação pública”.

       O empreiteiro pode entregar o produto do superfaturamento aos espertinhos, às vezes, dentro de caixas de uísque, de vinho, ou usando outra forma qualquer.

       Você que gosta muito de assistir televisão, também fica imaginando de onde sairia tanto dinheiro, doado como prêmio, nesses programas populares?

       O povo, que paga esses crimes, é ainda aprendiz de malandro.

  

  

       Leia também nesta edição:


Operação da Polícia Civil e MP prende prefeito de Pacajus, no Ceará


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publicado às 13:04

Tratamento para Quem Precisa

por Fernando Zocca, em 13.03.12

 

 

                E mais uma vez fracassam as tentativas de promoção dos engodos, realizadas pelos ilustríssimos senhores professores doutores que laboram sobre premissas falsas. Já seriam 924?

       O conceito de loucura mudou muito, meu nobre. As baterias psiquiátricas devem voltar-se para os que assassinam, agridem, furtam, roubam e causam sofrimento ao próximo. E não para a pobre ovelha que escoiceia defendendo-se.

       E se ela, pobrezinha, já não sente dores de cabeça, por que haveria de procurar os analgésicos? Será que deveria submeter-se aos caprichos alheios, para garantir a “coerência” das premissas sobre as quais laboram os ilustres senhores professores e doutores?

       Mas, ora veja!

       Cadê o tratamento corretivo para os que lesam os cofres públicos? Cadê a sanificação do homem que, ao exercer um cargo público, retira o que não lhe pertence, deixando os verdadeiros destinatários das riquezas na miséria?

       O poder alicerçado nesses conceitos dúbios, defendidos por gente sedenta de controle, de manipulação, chega agora ao fim. Com a graça de Deus.

       Você tem ideia, a mínima que seja, de quantas injustiças foram cometidas por atitudes fundadas nessas concepções errôneas?

        Você tem o menor conhecimento de quantas oportunidades foram perdidas, ao longo do tempo, por causa da loucura desses senhores professores doutores, que às ocultas, pelas costas, espalhavam o preconceito, o medo, a rejeição?

       Não meu amigo, você não tem a noção do que fez. Você não pode imaginar o transtorno que causou. Não caberia na cabeça mesquinha o tamanho dos prejuízos materiais que essas teorias trouxeram.

       Se fosse comigo, eu fechava a arapuca e abriria uma quitanda.

       

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publicado às 17:04

A Sorte Está Lançada

por Fernando Zocca, em 06.03.12

 

A estudante de psicologia Renata (direita), participante do BBB 12 e uma amiga. Foto: site do programa

 

 

 

                 Meus amigos, minhas amigas e senhoras donas de casa: hoje tem eliminação no BBB 12. Vai ter muita choradeira e ranger dos dentes só antes observáveis no purgatório.

       Segundo as pesquisas, de uma revista destacada, a estudante de psicologia Renata tem mais votos pedindo sua saída. Já o representante comercial autônomo, duas vezes emparedado João Carvalho, está tranquilo e até o presente momento conta com a simpatia do público, para permanecer mais uma temporada na casa.

       Na casa mais bisbilhotada desse nosso Brasil as atrações e repulsões são notáveis. Veja que ocorrem adaptações segundo as premências do momento.

       Monique e Jonas ficaram sob o edredom e não poderia ter havido, naqueles instantes, nada que não fosse satisfatório para ambos.

       Renata também não teria receios ou freios morais exagerados que a pudessem impedir de fazer o que a deixasse bem.

       A gata loura, de olhos azuis, já foi pra debaixo do edredom com Ronaldo, Rafa e Jonas.   

        Do outro lado, João Carvalho que durante esse período em que esteve confinado, só conseguiu parar de fumar e aprendeu a gostar de praticar exercícios, não demonstrou muita facilidade na condução do seu erotismo.

       O destino dos brothers está nas mãos do público. Os dois emparedados são mineiros. Renatinha foi emparedada duas vezes; uma vez tornou-se líder e foi anjo uma única vez.

       João foi emparedado duas vezes tornando-se líder uma vez.

       A sorte está lançada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

João Carvalho participante do BBB 12. Foto: site do programa. 

   

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publicado às 20:50

Salário Modesto

por Fernando Zocca, em 05.03.12

 

 

                 Van Grogue não era calçada portuguesa, aquela obra de arte feita para ser pisada, mas a população de Tupinambicas das Linhas cria que para ser feliz deveria melindrá-lo sempre.

        Essa mania, de calcar o bêbado, nascera com a vovó Bim Latem a chefe de gabinete do prefeito Jarbas, o caquético testudo, espalhando-se ao longo do tempo e pela cidade toda.

        Eu já lhes contei inúmeras passagens sobre a tal vovô Bim Latem. Ela era fã de Herivelto Martins e Dalva de Oliveira; quando entrou para o funcionalismo público – onde trabalhou durante cinco anos e já está aposentada há cinquenta -, comprou com o primeiro salário que recebeu toda a discografia dos artistas.

        Por ter o Van Grogue uma desavença com Luisa Fernanda, Célio Justinho que envolveu também o prefeito Jarbas, o vereador Fuinho Bigodudo e o deputado Tendes Trame, a vovó Bim Latem desejou, com todas as suas forças morais, poderio econômico e tráfico de influência, que o tal pingueiro fosse morar numa barrica a ser instalada em qualquer rua da cidade.

        Numa das reuniões que aconteceram ao redor da piscina de Luisa Fernanda e Célio Justinho, onde também faziam churrasco e ensaiavam as apresentações da Banda Funileiros do Havaí, a vovó teria dito sobre o futuro do Van de Oliveira:

        - Vai morar na rua entre os cães; de lá “meterá o pau” em nós e em nossas obras administrativas. Quando ouvir um sino sentirá vontade de perambular pelas vias, becos e vielas.  Esse catinguento terá muita sorte se alguém se compadecer dele e o tirar da sarjeta.

        Apesar de todo esse sortilégio lançado contra Van de Oliveira, a justiça agiu antes, tendo descoberto falcatruas imensas nas licitações da prefeitura tupinambiquense.

        Jarbas, sua mulher, Fuinho Bigodudo e até mesmo Tendes Trame, tiveram de explicar como conseguiram tamanho acúmulo de bens móveis e imóveis, com os salários modestos que recebiam.

        Para muitos a carreira política desses senhores havia chegado ao fim.


 

Leia também

O Ensaio

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publicado às 15:09






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