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Por Eles a Eles Mesmos

por Fernando Zocca, em 14.08.12
Um movimento popular organizou-e em Piracicaba objetivando, dentre outras coisas, estancar a pouca vergonha comandada pelo presidente da Câmara de Vereadores, senhor João Manoel dos Santos.

A organização do povo denominada Reaja Piracicaba, luta inclusive contra a imoralidade do aumento salarial dos próprios vereadores, prefeito, vice-prefeito  e secretários.

O Reaja Piracicaba mobilizou-se, há algums dias, para em manifestação pacífica de protesto, na câmara de vereadores, demonstrar a sua indignação contra o reajuste de 66% dos salários concedidos por eles a eles mesmos.

Negando-se a conversar com o grupo, o senhor João Manoel dos Santos desqualificou  os componentes da organização, dizendo serem eles baderneiros, "drogados" e "alcoólatras".

Numa vergonhosa manobra antidemocrática o presidente do legislativo piracicabano determinou que assessores parlamentares ocupassem as 70 cadeiras destinadas ao público, momentos antes do início  da sessão em que se demonstraria, pelo Reaja Piracicaba, todo o desagrado popular pelas medidas tão imorais e impopulares tomadas pela casa.

A ocupação das cadeiras, por quem não devia ocupá-las, fez com que os participantes do Reaja Piracicaba se limitassem a 20 pessoas presentes no plenário, que permaneceram de pé durante a sessão.

O senhor João Manoel dos Santos disse também que alguns integrantes do movimento Reaja Piracicaba riscaram carros estacionados nas imediações da sede do legislativo.

O excelentíssimo senhor presidente afirmou que não conversa com pessoas desqualificadas. Na verdade quem não possuiria eficiência para o verdadeiro debate democrático, não seria outro que não aquele que se nega  ao confronto das ideias.

É vergonhosa e humilhante,  para o povo de Piracicaba, essa política medíocre, mesquinha e imensamente idiota que ocupa o legislativo piracicabano há tantos e tantos anos.

Desqualificando, denegrindo e desmoralizando, essa verve poítica tem a coragem de afirmar que foram encontrados uma barra de aço e um pedaço de pau, com uma parte envolvida em papelão e barbante, durante as manifestações do dia 1º de agosto.

Para não ir muito longe com esse  assunto é bom lembrar  o que já dizia Eça de Queiróz:: as fraldas e os políticos devem ser trocados frequentemente pelos mesmos motivos.

Muitos creem que, em Piracicaba, já passou da hora.

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publicado às 09:41

Abaixo o Diploma de Jornalismo

por Fernando Zocca, em 14.08.12

Lúcia Guimarães - O Estado de S.Paulo
 
NOVA YORK - Faltei à formatura da minha faculdade. Fiquei pendurada porque tirei nota baixa em estatística, tive de fazer o crédito em recuperação e colei grau sozinha no meio do ano. Confesso que não me recuperei em estatística. Assim como não aprendi jornalismo na escola de jornalismo. Lembro dos professores complacentes, um lacaniano esquisito (pleonasmo?), um comunista feroz, uma preguiçosa que não preparava nada e flertava com alunos.

Só fui boa aluna até o fim do segundo grau. Faltava muito à aula na faculdade porque já trabalhava como repórter. Aprendi o ofício na redação.

Uma vez, não preparei o trabalho final de uma matéria e só me lembrei na manhã da última aula. Lavei um vidro de geleia, datilografei várias palavras e joguei o papel picado lá dentro. Sacudi e entreguei para o professor, dizendo que era um poema concreto. Tirei nota 8.

Obrigar o jornalista a ter diploma de jornalismo é como obrigar um cantor a tomar aula de voz antes de cantar no palco, uma violação da liberdade de expressão. Não que uma boa escola de jornalismo seja inútil, pelo contrário, a da Columbia University, aqui perto, é uma usina de grandes profissionais. Mas é uma escola de pós-graduação, você só é aceito se já escrever num nível cada vez mais raro na nossa imprensa.

As redações eram a lição de anatomia do jornalista da minha geração. Hoje é indispensável aprender técnicas do jornalismo digital. Jornalista deve estudar, acima de tudo, português e se educar em história, literatura, economia, ciência, filosofia e ciência política. Quem chega à redação passou pelo crivo de editores e competiu com seus pares, mesmo por um estágio.

Não compreendo por que um graduado em economia que escreve bem seria impedido de cobrir o Banco Central e substituído por um foca que pode ser facilmente enrolado, já que não decifra a informação financeira. Não fui capaz de questionar porta-vozes do governo quando tive que substituir colegas na cobertura da negociação da dívida externa em Nova York. Não entendia bulhufas dos comunicados.

O senador paraibano Cícero Lucena declarou, orgulhoso, pelo Twitter, que votou a favor da obrigatoriedade do diploma porque "democracia se faz com jornalismo ético, profissional e técnico". Sua excelência vai me desculpar, mas essa frase não passa pelo copidesque. O que tem a democracia a ver com a profissionalização do jornalista? E com sua capacidade técnica de fazer fotografia com foco? A ética começa ainda na primeira dentição, em casa, é aperfeiçoada durante a educação e é fundamental para qualquer profissão.

A democracia se faz com jornalismo, ponto. Quando Thomas Jefferson disse que era melhor ter um país sem governo do que um país sem jornais, a inspiração era o civismo, não o corporativismo. O baixo nível da maioria das escolas de comunicação é que erode a democracia porque joga milhares de jovens iletrados na vala comum do subemprego, fabrica profissionais despreparados para contestar o poder e investigar a corrupção num mundo cada vez mais sofisticado e falsificado pelo marketing. Não foi coincidência Charles Ferguson, ganhador do Oscar de 2011 por Inside Job, ter conduzido as entrevistas mais reveladoras já feitas sobre o crash de 2008. O homem se formou em matemática e fez PHD em ciência política, sabia o que perguntar.

A desculpa usada pelo senador sergipano Antonio Carlos Valadares - empresas de comunicação se opõem ao diploma porque querem contratar mão de obra barata - é absurda. A epidemia de cursos superiores de jornalismo alimenta a distorção de mercado que baixa os salários. Por que só o senador Aloysio Nunes Ferreira teve coragem de apontar a aberração constitucional do voto? Qual o motivo por trás da esmagadora maioria dos votos a favor?

E o que define para esses parlamentares a tal profissão, numa era em que qualquer um munido de smart phone pode narrar e fotografar um atentado no Afeganistão e apertar "enviar"? A diferença é editorial e o público vota no bom jornalismo selecionando onde deposita sua atenção. As empresas de comunicação que quiserem produzir seu conteúdo com mão de obra medíocre e barata terão na exigência do diploma sua maior aliada.

O jornalismo é um bem social importante demais para ficar nas mãos de jornalistas diplomados.
 

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publicado às 02:10






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