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- Fecha a minha conta. Quero pagar tudo e encerrar essa novela por aqui. - Afirmou, com muita segurança, o Van Grogue ao Maçarico que o olhava espantadíssimo.
O dono do botequim abriu uma gaveta sob o tampo do balcão, pegou um caderno surrado, cuspiu nas pontas do polegar e indicador da mão direita, localizou as anotações sobre o freguês e tirando um lápis que mantinha equilibrado sobre a orelha direita, iniciou a contagem.
- Hã-hã, vezes quatro... Mais 250... Hã... Noves fora... Mais tanto de cerveja, pinga... Nem se fale... Bom... Certo... Seu Van, o senhor me deve exatos R$924.
Grogue espantou-se. Boquiaberto e tentando manter a lucidez que ainda lhe restava ele indagou:
- Mas... Caramba. Eu não devia só R$273 ???
- Não, não. Esses R$273 são de uma conta antiga. Quem me devia isso e, aliás, já pagou no dia 23 de agosto, foi o seu pai. Você me deve só R$924.
- Então está bem. Você tem uma caneta? - Van sacou do bolso traseiro um talão de cheques e preenchendo o documento disse:
- Olha, seu Maçarico, o senhor deposita esse cheque depois de amanhã. Entendeu?
A longa experiência com esse tipo de situação despertou no dono do botequim uma sensação bem conhecida. Algo lhe dizia que a coisa não findaria conforme o costume.
Grogue terminou o preenchimento do título e assinando-o com muita pose, destacou-o do talão entregando-o ao credor.
Maçarico anotou, com o lápis, a data em que o documento deveria ser apresentado ao banco. Depois ele riscou as anotações do débito do cliente no caderno puído.
Quando Grogue saia, Maçarico chamou-o dando-lhe uma latinha de cerveja.
- Leva essa. Mas olha... Não é pra beber. Entendeu?
- Uma lata de cerveja e não posso beber? - inquiriu o Van arregalando os olhos.
- Vai na boa!!! - disse Maçarico num tom de quem encerrava a conversa.
Depois de uma semana Van Grogue ligou para o dono do estabelecimento dizendo:
- Maça, meu querido. Tive um contratempo e não pude cobrir o cheque que lhe dei na semana passada. Você segura ele ai pra mim que quando tiver o "cacau" eu passo pra pegar.
- Sem problemas. - respondeu Maçarico num tom de voz suave o suficiente para disfarçar o ódio que sentia.
No dia seguinte Van apareceu no boteco.
- Ainda não consegui o dinheiro. Mas tenha um pouco de paciência que eu logo lhe pago. Me dê uma cerveja. Não esqueça o meu aditivo. Você sabe... Sou viciado nessa pinga.
Maçarico serviu o freguês e tirando da gaveta o cheque devolvido pelo banco mostrou-o ao devedor.
- Olha você não precisa me pagar. Está tudo certo.
Van não acreditou no que ouvia. Ansioso, o perdoado levou a mão em direção ao cheque tentando agarrá-lo.
- Mas espera só um momento. - Disse Maçarico pegando uma régua e colocando-a sobre a parte superior do documento, onde havia a inscrição dos numerais indicativos do banco, agência e conta do cliente. Com habilidade o perdoador destacou aquela parte do cheque devolvendo o restante ao perdoado.
Sem entender as intenções do proprietário do botequim, Van Grogue pagou a cerveja e o “aditivo” que consumiu naquele momento deixando o boteco.
- Quando você beber aquela cerveja que eu lhe dei sua história nunca mais será a mesma. - resmungou Maçarico contendo a raiva enorme que sentia.
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