Depois da quinta pinga Van Grogue já queria arreliar.
Na manhã de sábado ele entrou no bar do Bafão mais feliz do que ganhador da loteria norte-americana, do campeonato paulista.
- Ido, ido, ido, eu só como embutido - cantarolava o pinguço dançando com os braços erguidos, e os indicadores apontados para o teto.
Quando ele viu a Dina Mitt e Pery Kitto sentados à mesa, ao lado da janela semiaberta emendou:
- Ina, ina, ina, a Dina é bafo de latrina.
Mitt sentindo seu rosto esquentar, levantou-se, pegou a garrafa pelo gargalo e atirou-a na direção do zombeteiro. Errando o alvo, o projétil atingiu a costa do Bafão que, distraído, lavava os copos na pia.
Pery Kitto, assustado com a reação violenta da mulher, tratou logo de apaziguar os ânimos:
- Calma Dina. Você não pode, e nem deve, desperdiçar tanta cerveja deste jeito. Está maluca, mulher?
- Que mané calma, o quê! - indignou-se a freguesa - você Pery Kitto, cachorro ordinário, Adam Olly e este traste mais conhecido como Van vagabundo Grogue, aprontam as maiores barbaridades, por toda a cidade, durante todo esse tempo, e quem leva a fama de pervertida sou eu - concluiu a embriagada chorosa.
- Já vejo que chegou a hora de internar a figura - sentenciou Bafão fixando o olhar condenador em Dina, enxugando as mãos no guardanapo e pegando em seguida, a garrafa caida sobre o engradado, que revestia o solo, atrás do balcão.
Adam Olly que passava defronte ao boteco, quando ouviu mencionar seu nome, entrou rapidamente para assuntar as novidades:
- O que se passa? Já na fofoca a essa hora do dia? A senhora não se emenda mesmo hein dona Dina abelhuda Mitt? - censurou Adam.
- Eu quero que parem de me encher o saco. Só porque fui catadora de recicláveis, vocês me perseguem. Isto é preconceito. Vou denunciar na ONU - respondeu Mitt aquecidíssima.
- Ela, ela ela... A Dina não é mais aquela... - começou Grogue outra provocação.
Contendo toda a raiva, Mitt ainda pôde ouvir dos marmanjos que, em unissono, e cadenciados por palmas, cantavam:
- Inha, inha, inha a Dina é uma sardinha.
Sentindo-se vencida e humilhada Dina saiu do boteco dizendo:
- Põe na minha conta as cervejas. Bebi três. Queria tomar a quarta, mas esta besta monumental, também conhecida como Grogue não permitiu. Não tem nada não. A lagoa há de secar jacaré...
À saída tumultuada da freguesa a rapaziada festejava:
- Inha, inha, inha... A Dina é uma sardinha!!!