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kol da Mumunha já bastante embriagado, perguntou ao Donizete Pimenta, que saía do banheiro, do boteco do Bafão, - naquela tarde de segunda-feira - depois da ingesta da terceira cerveja, conhecida por suas tampinhas enferrujadas:
- É verdade que o seu aviãozinho já não sobe mais?
- Subir, ele sobe, mas precisa de uma declaração de amor. Você me ama? - quis saber Donizete Pimenta.
- Nem com toda a luz deste mundo - rebateu Kol da Mumunha.
Enquanto isso, Fuinho Bigodudo, o presidente da Câmara Municipal de Tupinambicas das Linhas, inconformado com o nível cultural dos vereadores da cidade, caminhava preocupado, pelos corredores da casa, perguntando quantos dólares - hoje em dia - seriam necessários para a compra da vaga de vereador nas próximas eleições.
- Nestas alturas do campeonato, depois de 6 legislaturas seguidas não sei se continuo ou não. O pessoal se queixa da minha permanência por tanto tempo nesta casa. Mas o que é que vou fazer? O nível está tão baixo que o resultado não pode favorecer a ninguém que não seja a mim mesmo. Por cansaço - e mesmo se não puder concorrer novamente - penso em fazer uma espécie de madureza para os novatos. As dúvidas são muitas - murmurava o edil preocupado.
No bar do Bafão, Van Grogue era mais um que não se conformava com a reeleição seguida, dos elementos medíocres da cidade, para o exercício dos papéis de vereador.
- Não esquente a cabeça e nem se preocupe com isso. Não é o nível cultural que elege ou deixa de eleger um cidadão. Ele pode ser o mais idiota da comunidade, mas se puder pagar, ou tiver quem pague, a contagem dos votos dele, no dia das apurações, ele estará eleito - respondeu Kol da Mumunha ajeitando a braguilha. Tudo é corrupção: desde a violação de cartas nos correios, e-mails, ou contagem de votos. Quem tem o dinheiro paga o preço obtendo as vantagens.
- Sim, mas como conseguir tanto grana se nem emprego a gente tem? - questionou Van de Oliveira.
- É questão do capital inicial. Dois ou três assaltos bem sucedidos, a bancos, podem lhe render o necessário para a aquisição daquela vagazinha esperta, nas tetas públicas, que lhe garantirá bons anos de vida mansa.
- Os caras não querem nem saber se o dinheiro vem de assaltos, tráfico de drogas, de armas, fraudes nas licitações ou violação de correspondência. Uma coisa é certa: pagando o preço você terá o número de votos necessários para 4, 8, dezesseis ou mais anos da boa vida das sinecuras - asseverou Dina Mitt reforçando as palavras do Kol da Mumunha ao desalentado Van Grogue.
No gabinete do vereador Fuinho, Jarbas, o caquético testudo, depois de anunciado pela secretária, entrou esbaforido:
- A polícia federal quer saber sobre a licitação da ponte que fizemos e entregaremos agora neste ano de eleições. Tem um inquérito imenso que vai ser mandado ao ministério público.
- Não dá em nada. Todos têm um preço. De metrô, de trem, pontes ou viadutos, violação de correspondência, tudo pode se arranjar - garantiu o Fuinho calejado pelos anos de vida burocrática.
Enquanto os dirigentes da cidade confabulavam mais sobre seus interesses, do que os dos próprios eleitores, a conversa corria solta no bar do Bafão.
- Você acredita que os caras acham ruim quando a gente fala que eles são dispensáveis, ou que recebem muito dinheiro, pra não fazer nada em troca? - questionou Donizete Pimenta a Van Grogue, Dina Mitt, Kol da Mumunha e ao Bafão que lavava os copos.
- Eles me perguntaram um dia, porque eu não me candidatava - contou Kol.
- Você tem que ser bem lazarento. Com o devido respeito, é claro - emendou Van de Oliveira.
- Nem tanto. Nem tanto - corrigiu Donizete - mas tem de ter certa maleabilidade com a corrupção alheia; é preciso vocação - ensinou.
- Não acho errado o sujeito levar algum por fora quando isso não prejudica o povo - disse Dina Mitt.
- Pode até ser. Geralmente quase ninguém acha falta - reforçou Donizete Pimenta - Mas segundo eu soube o eterno vereador Fuinho Bigodudo voltará pra sua terra natal. Ele está com os bolsos cheios.
- Vocês querem mesmo saber da verdade? Eu acho que o que falta é vergonha na cara dessa gente. Falta coragem pra enfrentar esses canalhas nas urnas - desafiou Van Grogue.
- Os caras compram, eles pagam preços altíssimos. Não tem como ganhar deles - garantiu Dina Mitt.
- Dizem que quem nasceu pra couve não chega nunca a sibipiruna - filosofou Bafão.
No gabinete Fuinho Bigodudo e Jarbas recebiam o deputado Tendes Trame que vinha falando sobre a tia Ambrosina.
Depois de muita lengalenga e combinados sobre os próximos lances do jogo que lhes mantinha o poder e a fortuna, os membros do grupo de senhores coronéis dominantes resolveram sair.
A bordo do carro oficial, distinguido com as placas do poder legislativo e, dirigido pelo motorista oficial da casa, eles rumariam para a capital onde se encontrariam com o governador do Estado.
Ao passarem defronte ao bar do Bafão, Tendes Trame, que seguia sentado no banco do carona, ao lado do motorista, pediu para que ele parasse.
- Quero comprar um Holls Mentho Lyptus - afirmou o deputado com a voz suave, quase feminina.
No boteco a conversa prosseguia, mas o pessoal estranhou quando aquele carro preto, com placas oficiais, estacionou defronte ao estabelecimento.
Tendes Trame assustou-se quando ao pisar na soleira do bar todos os que estavam presentes abandonaram rápidos, os locais em que se encontravam.
- Estranho... - concluiu o deputado, enfiando a mão no bolso, fazendo em seguida o seu pedido
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