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Será que você meu amigo, minha amiga e senhora dona de casa está entre aquelas pessoas que ficam se lamentando pelos fatos acontecidos no passado e não conseguem viver plenamente o presente?
Se a resposta for positiva saiba que não deveria ser novidade para você o fato de haver a necessidade daquela ajudazinha especializada.
Não seria assim tão normal a mente que não esquece, ou atribui importância exagerada, ao passado condenador. Na verdade é mesmo bastante difícil para ela esquecer o que já passou.
Mas se o comportamento na vida cotidiana está desarranjado, prejudicado, pelos fantasmas do que era antes, então não restaria alternativa - já dissemos - do que a de buscar métodos terapêuticos salvadores.
O aconselhamento psicológico pode ser aquele algo a mais que falta para a pessoa ressentida, conseguir desfrutar a vida em sua plenitude.
Se o passado condena, por que não revisitá-lo "espiritualmente" a fim de liberar aquelas emoções negativas entulhadas, e desonerar as estruturas combalidas pelos equívocos?
As terapias existem - graças a Deus - para o conforto e a salvação da alma, do espírito; para as mentes amarguradas que não têm sossego; que não podem se achar em momento algum de paz.
Quando ela, a infernização acontece, nem mesmo os familiares mais próximos desfrutam da harmonia, do entendimento e da compreensão.
Parece que se o perturbado não incomoda a ninguém não será feliz, não se sentirá bem.
Na verdade o mentalmente atrapalhado só estará confortável com o desassossego dos outros. Pessoas vingativas são assim.
A solução para este "nó" - veja bem - seria a chamada sublimação daquele ódio todo contido e prejudicial.
Há quem diga que se deve lavar a alma assim como se lava o corpo.
Observe uma criança no chuveiro, tomando banho. Geralmente ela está imunda, depois de passar o dia todo na rua brincando ou fazendo travessuras.
Ao chegar em casa, toda suada, mal cheirosa e agitada, como dar a ela o café da tarde se não lavar antes as mãos, os pés ou todo o corpo emporcalhado?
A terapia está para a alma assim como o banho, com água e sabonete, está para o corpo. Sem a higiene corporal e mental não se pode viver plenamente.
"Coitadinha de mim, por causa daquele acontecimento infausto sou assim, bastante infeliz", é a postura mental comum de quem não deixa de atribuir aos outros os próprios fracassos.
Desapega.
Lave seu corpo e sua alma. Deixe os problemas do passado descerem ralo abaixo.
- Van, é verdade que você viajou para Wilmington, Califórnia, nos Estados Unidos? - quis saber Ester Icca que abordava o pingueiro na feira livre semanal do bairro.
Pigarreando e ajeitando os tomates, que acabara de comprar, no saco plástico branco, Van de Oliveira respondeu:
- Veja bem, minha querida Icca: é verdade sim que fui, numa ocasião para Wilmington. Mas não na Califórnia. Originalmente meu destino seria aquele. Entretanto por ironia do destino ou malvadeza, não sei, fui parar lá no Estado de Dalawere, nordeste dos Estados Unidos.
- Carolina do Norte? - indagou Ester.
- O estado é Delawere e a cidade, Wilmington, fica na confluência dos rios Christina e Brandywine.
- Ah, mas então você deu uma entradinha no rio Christina?
- Não. Imagina. Nem cheguei perto.
- Nem passou a mão na água?
- Não, bem. Não fiz isso não.
- Mas por quê? Era muito fria? - insistiu Ester.
- Fria eu sei que era. Mas não foi por isso que deixei de passar a mão ou entrar. Na verdade eu não estava a fim. E nem podia. Você sabe, a gente não pode fazer tudo o que quer. Tudo tem um limite.
Diante do espanto de Ester Icca, Grogue continuou:
- Aquele pessoal que estava comigo começou a brigar entre si. O marido acusava a mulher de traição, e ela, por sua vez, dizia que ele era um bêbado e que a vivia espancando.
- Nossa!
- Eu me lembro que quando estávamos passeando pelas margens do Christina a mulher gritava "você é um caminhoneiro frouxo, bêbado e que só espanca sem dó nem piedade. Não reclame da galhada que eu te pus e ponho. Você sabe que eu vim da zona e lá, meu querido, a coisa é assim mesmo. No meu jogo do bicho só dá veado galheiro".
Ester Icca boquiaberta, com os olhos fixos na face do Grogue, apalpava algumas laranjas e as colocava automaticamente na sacola.
- Oi gente - cumprimentou Inês Kau aproximando-se da dupla - tudo bem com vocês?
- Ah, oi Inês. Que bom te ver. Imagina... O Grogue está falando que não entrou no rio Christina - confidenciou Icca.
- Não? Como assim? Todo mundo pensa que você entrou, foi e voltou, fez e desfez lá naquelas águas. Como pode isso?
- Essa negadinha é perversa, - respondeu Grogue - eles inventam cada uma que dá até medo.
- Ele me falava que o casal que estava com ele brigava muito entre si. O marido acusava a mulher de traição e ela, por sua vez, o acusava de agressões frequentes por causa do alcoolismo - disse Ester Icca para Inês.
- Chegou uma hora que a coisa estava tão complicada, mas tão complicada que a mulher teria jogado o cara no rio - completou Grogue.
- Como assim? A mulher jogou ele no rio, ou foi ele que se atirou no rio Christina? - inquiriu Icca.
- Na verdade ele caiu. Estava tão quente o dia que ele, esbaforido escorregou e pimba; lá se foi pra baixo. E quando tentou sair, agarrando-se no busto de um figurão (no qual havia uma placa com a palavra Bus) que havia ali na margem, derrubou o monumento que se despedaçou todo. Deu o maior bafafá. Veio polícia, perícia técnica e até processo.
- Misericórdia - admirou-se Inês.
- E depois, quando foram pegar o ônibus se assustaram ao saber que até o motorista estava ciente da história do busto - completou Grogue.
- Mas Van, é verdade que teve gente que se elegeu contando essa passagem mítica para o eleitorado? - perguntou Ester Icca.
- Teve sim. E como. Soube de um espertinho que entrou muleque na politica e já é trisavô. Envelheceu mamando no povo.
- Van, meu lindinho... Você quer bombom? - desmanchou-se toda a Icca ao ofertar a guloseima que tirara da bolsa.
- Olha, também tenho bombons pra te dar. Só que estão em casa. Você aparece depois por lá? - disse também Inês.
- De vocês, garotas lindas do meu coração, aceito tudo. Mas sem compromisso sério, entende?
É claro que elas entendiam.
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