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A Dentadura Caipira

por Fernando Zocca, em 11.03.15

 

 

 

 

Como sofre o miserável para conseguir uma dentadura piracicabana. Pelo amor de Deus!!!!
O pessoal que trabalha no setor odontológico municipal, situado na Rua Tiradentes, prevê o início do atendimento de novos casos de próteses, para agosto ou setembro.
Eles estão chamando os inscritos em maio de 2014, segundo uma atendente do local.
Não deixa de existir a sensação da possível criação das dificuldades para a venda das facilidades. Quem é que sabe?
Desta forma, é claro que o cidadão pode valer-se dos serviços de um vereador, deputado estadual ou daquele suplente de federal, para conseguir, pela influência, a furação da fila.
Mas nesse caso, meu amigo, você contribuirá com a eternização do sujeito no cargo para o resto da vida dele.
E não é só isso. Veja que além de "mamar" por gestões e mais gestões, ficar 20 ou 30 anos "fazendo leis" não basta. Se puder, a exemplo do que sucedeu na Petrobras, Metros e trens de São Paulo e Brasília, o camarada botará a sua maõzinha na cumbuca, com toda certeza.
Então o que você vê é esse enorme descalabro, essa diferença entre o poder aquisitivo de uns e de outros.
Não dá prá deixar de concluir que não é bem o trabalho honesto que enriquece o homem. Entende?
Atualmente o cara, pra provar que é bom, homem, cabra macho, deve demonstrar a capacidade para iludir milhões de pessoas, roubando sem ser pego.
Pedro Barusco (aquele da Petrobras) juntou 97 milhões de dólares em contas no exterior. O cara disse que sentiu medo de ter tanto dinheiro de origem criminosa.
Enquanto isso a limitação do espaço das unidades de saúde, bem como as minguadas receitas municipais impedem a expansão dos serviços públicos nesta área, que só ocorrerá com a contratação de mais profissionais capacitados para atender tanta demanda.
Não basta prender os responsáveis pelo crimes cometidos contra as administrações públicas. É necessário, além da condenação dos culpados, (depois do processo legal, onde se assegura o mais amplo direito a defesa), a execução das penas, e a devolução de tudo o que foi roubado.
É claro que isso tudo não impedirá a ocorrência de novos e futuros casos de corrupção. Mas o candidato a ladrão saberá, que tem a favor da sua honradez, o exemplo daqueles que se deram muito mal quando escolheram esse caminho.
Crucificaram Jesus Cristo por ensinar a paz, o amor, a solidariedade, a compaixão e a bem-aventurança para bilhões de pessoas no mundo inteiro.
Por que não condenarão os ladrões que, ao contrário, jogam na miséria milhões e milhões de brasileiros?

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publicado às 17:13

Má-Fé

por Fernando Zocca, em 26.02.15

 

 

 

 

Tem governo que não é o Estado Islâmico, mas age como se fosse.
Não é difícil de acreditar na existência de alguns detentores do poder de plantão que, em se vendo contrariadíssimos com as opiniões expressas na mídia, resolvessem punir alguns responsáveis, a título de exemplo.
Então você veria situações como aquela em que o chefe do executivo municipal mandou cegar um jornalista, desafiando-o depois a continuar escrevendo.
Ou aquela em que além de cegar outro discordante, dos métodos burocráticos obsoletos, ordenou que lhe arrancassem também os dentes, apostando depois, com os parceiros do partido, que o tal, ainda assim, comeria algumas goiabas.
A miséria, a pobreza, faz do miserável, do pobre, o refém ideal dos audazes.
E não é novidade nenhuma dizer que em algumas localidades o comando político esteja intimamente relacionado com o empobrecimento, ou a manutenção da população na pobreza, a fim de eternizar a hegemonia política.
Quanto tempo pode uma administração municipal conservar sob seu jugo, usando a perfídia, todos os dependentes dos serviços que presta, na área da saúde?
A resposta é: o tempo que ela quiser, e que for necessário, para obter respostas positivas nas negociatas ou nos seus pleitos, mesmo que injustos.
Então quando você vê um governo federal agindo com a intenção de apoderar o pobre, erradicar a miséria, nota também ondas e ondas de indignação da elite arrepiadíssima com a audácia.
As reações observáveis vão além das de procura de pelo em ovo, ou de chifre na cabeça de cavalo.
Governo municipal bom, decente, digno, não precisa sujeitar dolosamente, com a má-fé costumeira, os dependente dos seus serviços de saúde.
Facilitar a apuração dos mal feitos, os julgamentos com o direito à ampla defesa, a condenação dos culpados e, finalmente, o cumprimento das penas é o caminho mais seguro para o governo popular e democrático chegar ao bom termo.

 

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publicado às 20:00

A Urucubaca e a Satisfação

por Fernando Zocca, em 05.02.15

 

 

 

 

 

 

- Van, meu lindinho, cabecinha de corruíra pousada no fio telefônico do poste de ferro, diga-me aqui e agora, nestas filas paralelas pra pegar os ônibus, que nos levarão, a mim pra Vila Mariana e a você para Itaquera: é verdade que perdes os amigos mas não a piada? – questionou a sapiente Ana Menese.
– Sim, minha querida. É verdade.
– Então me conta: por quê você manca desse jeito, me olha só com um olho, e tapa a boca quando sorri?
– É que minha sorte tem me ensinado sobre a paciência. Veja você que quando caminhava, da minha casa até o bar do Bafão, no domingo passado, pela manhã, não percebi que uma das lentes dos meus óculos se desprendeu e desapareceu na calçada. Eu, quando percebi, busquei por ela, mas, é claro, sem a tal, não poderia enxergar quase nada. O resultado é que estou, até hoje, sem ver direito.
– E a história do pé? – Ana, que tinha o rosto maquiado, fazendo biquinho com os lábios, olhava o parceiro por cima das lentes dos seus óculos escuros.
– É o seguinte: durante uma das minhas caminhadas noturnas, depois de perder a lente e só ver com um olho, dei uma topada terrível num tijolo que esqueceram na calçada. O machucado infeccionou provocando-me dores ao andar.
– Mas e o sorriso? Conta pra mim, pingueiro do inferno – Menese, que manipulava o brinco da orelha direita, estava já cansada.
– Foi quando eu andava de bike. Havia um cara sentado na calçada, conversando com uma menina que tinha acabado de chegar. Ela recolhia material reciclável e parou para conversar com o homem. Ele bebia cerveja e fumava, ali, sentadinho no meio da passagem. Quando eu seguia pela rua, bem devagarinho, pedalando assim, numa boa, surgiu um carro esquisito, em alta velocidade e eu então, precisei subir rapidamente na calçada para não me complicar. Daí, pra não colidir com o camarada, que estava naquele local, onde não era aconselhável estar, freei bruscamente, vindo a cair de boca no chão. Ai você já viu, né? lá se foram os meus dentinhos.
– Mas que barbaridade – comentou Ana, dando um piparote no brinquinho.
– Daí então fui ao dentista da prefeitura de Tupinambicas das Linhas. Dizem que o trabalho do pessoal é muito bom e renomado. Pode até ser, mas que é enrolado, ah, isso é.
– Você diria que o bagulho é complicado porque é gratuito ou gratuito porque é complicado? – quis saber a Menese.
– Olha, eu diria que é coisa de rolo, cilindro, bobina. Você entende? – explicou o Van.
– Bobina? Não entendi.
– É assim: o Fuinho Bigodudo – você conhece, é claro… – Ele é vereador na cidade já faz uns 45 anos; mas antes de ser eleito, trabalhava como empregado doméstico. É isso mesmo: o Fuinho Bigodudo, que já foi até presidente da nossa Câmara Municipal, antes da vida pública, trabalhava como doméstico, fazendo faxina, lavando a louça, lavando e passando as roupas dos patrões até que cansou desse tipo de serviço. Então disseram pra ele que numa empresa precisavam de gente pra enrolar os fios dos motores elétricos. Você manja motor de liquidificador, enceradeira, batedeira de bolos, furadeira, serras? Então… Fuinho passou a enrolador oficial da auto-elétrica, que cuidava também da instalação de som, rádios e toca-fitas nos carros, compreende? Como a vida não estava, já naquele tempo, fácil pra ninguém, o Fuinho percebeu que aquela enrolação de fios de cobre não o tirariam do miserê institucional, característico dele mesmo. Então, junto com um outro sócio do empreendimento, depois de saírem de uma rodada de cerveja, no bar do Japa, resolveram enredar uns moleques que viviam pelas ruas do local. De noite, o sócio do Fuinho chamou um dos meninos e dizendo-lhe que se conseguissem pular aquele portão amarelo, pegariam fios de cobre que venderiam ganhando assim bastante dinheiro. Quando o sócio e o menino entraram no barracão, andaram às escuras, e não distinguiam nada que pudessem furtar. Ao saírem da propriedade, Fuinho apareceu de repente e, conforme o combinado, deu o maior flaga no garoto que, assustadíssimo se molhou todo. Fuinho espancou o moleque, (ele devia ter uns nove ou dez anos), de tal forma que se sentiu aliviado de todas as frustrações que carregava até aquele momento. E foi assim que tudo de ruim que acontecia naquela empresa era considerado culpa do moleque ladrão. O incauto virou um bode expiatório, um saco de pancadas. Você entendeu? A história foi se alastrando, criando marolas tão grandes, causando certas reações (diziam que o menino roubava os “fios” e até as “fias” dos casais). Então, o Fuinho que não era bobo, besta e nem nada, resolveu aproveitar a oportunidade lançando sua candidatura à vereança como o mais notável, eficiente educador, punidor, moralizador, caçador e castrador de meninos maus-elementos da cidade. E o resto da história você conhece: Fuinho já tem mais tempo de Câmara Municipal, do que anos de vida, quando nela entrou pela primeira vez.
– Que história complicada, hein seu Van? – Menese estava boquiaberta, segurando os óculos escuros na ponta do nariz.
– Pois é. O bagulho cresceu, se desenvolveu e ficou tão complicado que, durante um bom tempo, chegou a ser comum ver pares de tênis pendurados nos fios e cabos dos postes.
– É… Pra quem não distingue tênis de pênis… – Ana tinha a expressão de que entendia. – Só mais uma perguntinha – continuou ela – Van… Por acaso, aquele menino… Aquele bodinho expiatório… Era você?
– O pior é que era eu mesmo – respondeu o ébrio enrubescendo.
– Ah, tadinho. Mas, agora esquece isso, meu amigo. A vida continua. Olha… Lá vem o meu ônibus. Tchau. Tudo de bom pra você, viu? – disse ela beijando-o no rosto. Havia um tom de consolo na voz da mulher.
Dois ônibus se aproximaram encostando ao meio fio dos locais onde se formavam as filas.
Quando todos começaram a entrar, depois da saída dos que estavam dentro, Van percebeu que nenhum dos carros seguiria para o local onde ele desejava ir.
– E não é que eu fiquei esse tempo todo – mais de uma hora – na fila errada? – choramingou com a voz quase inaudível.
Nosso amigo tinha como consolo a certeza de que não havia urucubaca interminável e nem regozijo que não tivesse fim.

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publicado às 23:41

A Luz do Mundo

por Fernando Zocca, em 02.06.14

 

 

kol da Mumunha já bastante embriagado, perguntou ao Donizete Pimenta, que saía do banheiro, do boteco do Bafão, -  naquela tarde de segunda-feira - depois da ingesta da terceira cerveja, conhecida por suas tampinhas enferrujadas:

 

- É verdade que o seu aviãozinho já não sobe mais?

 

- Subir, ele sobe, mas precisa de uma declaração de amor. Você me ama? - quis saber Donizete Pimenta. 

 

- Nem com toda a luz deste mundo - rebateu Kol da Mumunha.

 

Enquanto isso, Fuinho Bigodudo, o presidente da Câmara Municipal de Tupinambicas das Linhas, inconformado com o nível cultural dos vereadores da cidade, caminhava preocupado, pelos corredores da casa, perguntando quantos dólares - hoje em dia - seriam necessários para a compra da vaga de vereador nas próximas eleições.

 

- Nestas alturas do campeonato, depois de 6 legislaturas seguidas não sei se continuo ou não. O pessoal se queixa da minha permanência por tanto tempo nesta casa. Mas o que é que vou fazer? O nível está tão baixo que o resultado não pode favorecer a ninguém que não seja a mim mesmo. Por cansaço - e mesmo se não puder concorrer novamente - penso em fazer uma espécie de madureza para os novatos. As dúvidas são muitas -  murmurava o edil preocupado.

 

No bar do Bafão, Van Grogue era mais um que não se conformava com a reeleição seguida, dos elementos medíocres da cidade, para o exercício dos papéis de vereador.

 

- Não esquente a cabeça e nem se preocupe com isso. Não é o nível cultural que elege ou deixa de eleger um cidadão. Ele pode ser o mais idiota da comunidade, mas se puder pagar, ou tiver quem pague, a contagem dos votos dele, no dia das apurações, ele estará eleito - respondeu Kol da Mumunha ajeitando a braguilha. Tudo é corrupção: desde a violação de cartas nos correios, e-mails, ou contagem de votos.  Quem tem o dinheiro paga o preço obtendo as vantagens.

 

- Sim, mas como conseguir tanto grana se nem emprego a gente tem? - questionou Van de Oliveira.

 

- É questão do capital inicial. Dois ou três assaltos bem sucedidos, a bancos, podem lhe render o necessário para a aquisição daquela vagazinha esperta, nas tetas públicas, que lhe garantirá bons anos de vida mansa.

 

- Os caras não querem nem saber se o dinheiro vem de assaltos, tráfico de drogas, de armas, fraudes nas licitações ou violação de correspondência. Uma coisa é certa: pagando o preço você terá o número de votos necessários para 4, 8, dezesseis ou mais anos da boa vida das sinecuras - asseverou Dina Mitt reforçando as palavras do Kol da Mumunha ao desalentado Van Grogue.

 

No gabinete do vereador Fuinho, Jarbas, o caquético testudo, depois de anunciado pela secretária, entrou esbaforido:

 

- A polícia federal quer saber sobre a licitação da ponte que fizemos e entregaremos agora neste ano de eleições. Tem um inquérito imenso que vai ser mandado ao ministério público.

 

- Não dá em nada. Todos têm um preço. De metrô, de trem, pontes ou viadutos, violação de correspondência, tudo pode se arranjar - garantiu o Fuinho calejado pelos anos de vida burocrática.

 

Enquanto os dirigentes da cidade confabulavam mais sobre seus interesses, do que os dos próprios eleitores, a conversa corria solta no bar do Bafão.

 

- Você acredita que os caras acham ruim quando a gente fala que eles são dispensáveis, ou que recebem muito dinheiro, pra não fazer nada em troca? - questionou Donizete Pimenta a Van Grogue, Dina Mitt, Kol da Mumunha e ao Bafão que lavava os copos.      

 

- Eles me perguntaram um dia, porque eu não me candidatava - contou Kol. 

 

- Você tem que ser bem lazarento. Com o devido respeito, é claro - emendou Van de Oliveira. 

 

- Nem tanto. Nem tanto - corrigiu Donizete - mas tem de ter certa maleabilidade com a corrupção alheia; é preciso vocação - ensinou. 

 

- Não acho errado o sujeito levar algum por fora quando isso não prejudica o povo - disse Dina Mitt.

 

- Pode até ser. Geralmente quase ninguém acha falta - reforçou Donizete Pimenta - Mas segundo eu soube o eterno vereador Fuinho Bigodudo voltará pra sua terra natal. Ele está com os bolsos cheios. 

 

- Vocês querem mesmo saber da verdade? Eu acho que o que falta é vergonha na cara dessa gente. Falta coragem pra enfrentar esses canalhas nas urnas - desafiou Van Grogue.

 

- Os caras compram, eles pagam preços altíssimos. Não tem como ganhar deles - garantiu Dina Mitt.

 

- Dizem que quem nasceu pra couve não chega nunca a sibipiruna - filosofou Bafão.

 

No gabinete Fuinho Bigodudo e Jarbas recebiam o deputado Tendes Trame que vinha falando sobre a tia Ambrosina.

 

Depois de muita lengalenga e combinados sobre os próximos lances do jogo que lhes mantinha o poder e a fortuna, os membros do grupo de senhores coronéis dominantes resolveram sair. 

 

A bordo do carro oficial, distinguido com as placas do poder legislativo e, dirigido pelo motorista oficial da casa, eles rumariam para a capital onde se encontrariam com o governador do Estado. 

 

Ao passarem defronte ao bar do Bafão, Tendes Trame, que seguia sentado no banco do carona, ao lado do motorista, pediu para que ele parasse. 

 

- Quero comprar um Holls Mentho Lyptus - afirmou o deputado com a voz suave, quase feminina.

 

No boteco a conversa prosseguia, mas o pessoal estranhou quando aquele carro preto, com placas oficiais, estacionou defronte ao estabelecimento. 

 

Tendes Trame assustou-se quando ao pisar na soleira do bar todos os que estavam presentes abandonaram rápidos, os locais em que se encontravam. 

 

- Estranho... - concluiu o deputado, enfiando a mão no bolso, fazendo em seguida o seu pedido

 

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publicado às 20:29