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Jacobice

por Fernando Zocca, em 15.03.15

 

 

 

 

Você percebe a incoerência no comportamento de alguém ao presenciar atitudes opostas, contraditórias.
Essa discrepância nas atitudes fica mais grave e danosa quando estão envolvidas muitas pessoas, crenças e coisas.
Só para exemplificar, digamos que o professor distribua entre os seus alunos um comunicado sobre as matérias que ministrará durante o semestre.
Depois de todos estarem bem cientes de quais serão os procedimentos, durante aquele período, o mestre, assim, sem mais nem menos, muda a ordem das coisas, causando muita surpresa.
E é claro que a situação torna-se mais confusa ainda se o tal responsável, ao tentar explicar as mudanças feitas na última hora, não consegue convencer a todos os envolvidos.
A motivação oculta faz pensar em hipocrisia, falsidade ou má intenção, com alguém ou o grupo todo.
A mecânica da ação assemelha-se ao do legislador que nega a palavra a alguém, durante uma sessão camarária, mesmo estando a manifestação garantida anteriormente por dispositivo legal.
Este projetar algo e mudar o curso da ação durante a execução é própria também daquele que idealiza uma viagem, por determinado caminho, mas durante o trajeto, resolve alterar a rota ou o meio de transporte.
Quando as mudanças repentinas, imprevistas, não causam danos a ninguém, não há do que reclamar. Entretanto, quando as pessoas esperam algo e ela não acontece, ocorrendo constrangimento ou até danos, sem dúvida nenhuma, adentra-se na área da reparação.
O contrário também ocorre. Se por exemplo, o traçado de uma ação, depois de consolidado demonstrar, com o passar do tempo, que ele seria menos prejudicial se fosse modificado, e em assim o sendo, comprovar os benefícios, com certeza evidencia muito mais méritos.
Na relação doador/donatário, o combinado, quando não cumprido, isto é, quando não executado, pode produzir manifestação de estranheza e até desistência da efetivação das doações futuras.
Olha, há quem creia que essa contestação entre o dizer e o fazer seja caso de atenção psicológica.
A noção da necessidade do auxílio especializado se reforça com a exacerbação do uso do álcool e o isolar-se frequentemente dos familiares - por exemplo - nos ranchos de pescaria para a prática do onanismo.

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publicado às 21:31

A Garrafa Perdida

por Fernando Zocca, em 28.05.13


Depois da quinta pinga Van Grogue já queria arreliar.
 
Na manhã de sábado ele entrou no bar do Bafão mais feliz do que ganhador da loteria norte-americana, do campeonato paulista.

- Ido, ido, ido, eu só como embutido - cantarolava o pinguço dançando com os braços erguidos, e os indicadores apontados para o teto.
 
Quando ele viu a Dina Mitt e Pery Kitto sentados à mesa, ao lado da janela semiaberta  emendou:

- Ina, ina, ina, a Dina é bafo de latrina.
 
Mitt sentindo seu rosto esquentar, levantou-se, pegou a garrafa pelo gargalo e atirou-a na direção do zombeteiro. Errando o alvo, o projétil atingiu a costa do Bafão que, distraído, lavava os copos na pia.

Pery Kitto, assustado com a reação violenta da mulher, tratou logo de apaziguar os ânimos:

- Calma Dina. Você não pode, e nem deve, desperdiçar tanta cerveja deste jeito. Está maluca, mulher?

- Que mané calma, o quê! - indignou-se a freguesa - você Pery Kitto, cachorro ordinário, Adam Olly e este traste mais conhecido como Van vagabundo Grogue, aprontam as maiores barbaridades, por toda a cidade, durante todo esse tempo, e quem leva a fama de pervertida sou eu - concluiu a embriagada chorosa.
 
- Já vejo que chegou a hora de internar a figura - sentenciou Bafão fixando o olhar condenador em Dina, enxugando as mãos no guardanapo e pegando em seguida, a garrafa caida sobre o engradado, que revestia o solo, atrás do balcão.

Adam Olly que passava defronte ao boteco, quando ouviu mencionar seu nome, entrou rapidamente para assuntar as novidades:

- O que se passa? Já na fofoca a essa hora do dia? A senhora não se emenda mesmo hein dona Dina abelhuda Mitt? - censurou Adam.

- Eu quero que parem de me encher o saco. Só porque fui catadora de recicláveis, vocês me perseguem. Isto é preconceito. Vou denunciar na ONU - respondeu Mitt aquecidíssima.

- Ela, ela ela... A Dina não é mais aquela... - começou Grogue outra provocação.
 
Contendo toda a raiva, Mitt ainda pôde ouvir dos marmanjos que, em unissono, e cadenciados por palmas, cantavam:

- Inha, inha, inha a Dina é uma sardinha.

Sentindo-se vencida e humilhada Dina saiu do boteco dizendo:

- Põe na minha conta as cervejas. Bebi três. Queria tomar a quarta, mas esta besta monumental, também conhecida como Grogue não permitiu. Não tem nada não. A lagoa há de secar jacaré...

À saída tumultuada da freguesa a rapaziada festejava:

- Inha, inha, inha... A Dina é uma sardinha!!! 

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publicado às 12:26



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