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Travessia

por Fernando Zocca, em 01.12.15

 

O Papa Francisco disse recentemente que o homem, diante das mudanças que vem causando ao clima, está prestes a cometer o suicídio.
Estas transformações referem-se à temperatura da terra, mexida e remexida, pelas atividades industriais danosas.
Percebe-se que a queima das florestas, e também a retirada do material orgânico do subsolo, para a incineração na atmosfera, são dois dos maiores fatores contribuintes da devastação do local onde vive a humanidade.
A motivação para a destruição das florestas é basicamente a instalação dos pastos, para a criação do gado, com as finalidades econômicas.
O motor da subtração do petróleo, das camadas profundas da terra, é a alimentação dos produtos das indústrias automobilísticas.
Ou seja essa atividade econômica - fabricação de automóveis e seus combustíveis - requerem certa destruição da terra.
Essas riquezas todas produzidas sustentam governos que, teoricamente, deveriam proporcionar a melhoria da vida dos seus governados.
No entanto não é bem isso o que acontece. O produto dos impostos é mais usado na sustentação da vida particular luxuosa dos corruptos, seus familiares e amigos, do que em favor dos trabalhos que objetivam a melhoria da vida do cidadão eleitor.
Mesmo que a corrupção pudesse ser extirpada, como extirpa-se um nódulo canceroso, a deterioração do local onde residem os seres humanos, não deixaria de ser continuada.
Os governos orientam-se por regras praticamente fixas, da mesma forma que os motoristas, ao dirigirem seus carros.
Então é praticamente indiferente se este ou aquele condutor seja vermelho ou azul. As ações que ambos tomarão, diante dos problemas surgidos, durante o percurso, são específicas.
Nas navegações aéreas feitas nos balões, ou nas grandes travessias oceânicas com navios, quando em queda, ou na iminência do naufrágio, durante as tempestades, uma das medidas adotadas sempre foi a de livrar-se do excesso de carga. Ou seja, tudo o que obstava a manutenção da estabilidade, era lançado fora.
Alguns governos, empresários e administradores sabem disso: os primeiros privatizam; os segundos e terceiros, despedem empregados, vendem móveis e até imóveis dos seus patrimônios.
O que na verdade falta, e muito, neste momento do encerramento da era industrial é a solidarização. A compaixão é menos valorizada do que a satifação egoica dos desejos próprios.
Não tem mais valor o sofrimento do semelhante, sua pobreza, miséria, doença, do que a satisfação pessoal dos tais escolhidos para gerir os interesses deles.
Comprovada a culpabilidade dos indiciados por crimes de corrupção, devem eles sofrer as penas das leis sob pena do descrédito total das instituições.
Durante as travessias das planícies algumas manadas sofrem o cerco e os ataques dos animais ferozes. Nem por isso a marcha é detida, mesmo que à imolação se submetam os mais fracos, velhos e imaturos.
É claro que todos os princípios do direito, bem como a observância do direito à defesa, devem ser garantidos.

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publicado às 12:44

O Último a Sair

por Fernando Zocca, em 01.10.15

 

Alguém duvida que a causa principal da guerra na Síria (que já dura quatro anos) seja o enraizamento da família de Bachar al-Assad no poder?
O pai do atual ditador governou o pais por mais de 40 anos. Imagine o emaranhado das injustiças e dos privilégios formados com a manutenção do monopólio da autoridade, do açambarcamento do mando, durante tanto tempo.
A longevidade desse porte, em cargos públicos, a gente já viu nas monarquias. Mas em estados democráticos legítimos não.
Pense nos desequilíbrios sociais, econômicos, politicos, na corrupção e imoralidade que a estagnação da rotatividade no comando provoca num Estado e você terá, como resultado, essa guerra que matou milhares de pessoas, originou o êxodo de outros milhares, bem como a destruição de cidades inteiras.
Assad tem o apoio da Russia governada por Wladimir Putin. Esse suporte é dado com a venda de equipamento militar, assistência técnica e participação de tropas.
O ditador Sírio, e seus aliados russos, objetivando a eternização no governo, bem como os privilégios de tantos e tantos anos de mamata, garantidores das fortunas ganhas também com o comércio de armas, combatem os terroristas do estado islâmico que nada mais buscam do que a troca do governante com o uso da força.
As crueldades cometidas tanto pelos defensores de Assad quanto pelos terroristas do estado islâmico, publicadas nas redes sociais, chamaram a atenção do mundo.
Os norte-americanos, solicitados a intervir no conflito, consideram ser necessário, para derrotar o terrorismo, conhecido pela maldade extrema com que trata seus prisioneiros, destituir Assad do poder.
Já os Russos acham que não. Que mantendo o ditador será mais fácil a derrota do terrorismo.
Enquanto isso o mundo se prepara para receber os milhares de refugiados que, deixando para trás suas casas, suas coisas, suas cidades, buscando abrigo na França, Alemanha, Itália e até aqui no Brasil, carecem do auxílio humanitário.
Na verdade tanto o estado islâmico quanto o atual governo Sírio pouco se importam com a população, com as necessidades do povo.
O que lhes interessa são as mordomias relacionadas ao poder. É o desequilíbrio na relação entre os detentores da força e os mais fracos que, por indisporem dos meios de defesa, precisam fugir das vicissitudes por mar e terra.
Mas afinal, o que governarão os litigantes depois de tantos mortos, feridos e destruição?
Se a atual situação de desespero continuar na Síria, a frase "o último que sair apague a luz", não terá muito sentido.

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publicado às 15:44

O mentiroso

por Fernando Zocca, em 27.08.15

 

Há quem creia que os mitômanos, os sujeitos adeptos das mentiras, das falsidades, das dissimulações, assim agem objetivando afastar as atenções alheias dos seus projetos próprios que julgam passíveis de críticas, zombarias e desestímulos mil, da mesma forma que eles - os falsos - fazem com os empreendedores à sua volta.
Mas dentre os que falseiam a verdade existe os que se equivocam, enganam-se, confundem-se de tal forma que a semelhança entre os fatos reais e a verbalização, são bem distintos um do outro.
No caso do mentiroso contumaz o ditado "quem fala a verdade, não merece castigo", não teria muito valor. Com certeza, durante a sua formação, sempre que disse a verdade, foi severamente punido.
A inveja, o ódio, sentimentos de inferioridade, atitudes persecutórias, calúnia e a difamação embasariam os procedimentos opressores contra as vítimas próximas.
Não é incomum serem os falsos, os mentirosos e os enganadores, portadores dos famosos "espírito de porco" definido aqui como característica dos que têm mania de contradizer, de estarem sempre em oposição à lei, ao bom senso, à ordem e aos bons costumes.
Então, à estes basta você dizer: "não deixe seu cachorro na rua porque ele pode atacar e morder as pessoas, trazendo problemas com a polícia", que lá vão os espíritos de suíno, por birra, deixar os assustadíssimos e pobres cães na rua.
A esses, verdadeiras anomalias, equívocos da natureza, é o suficiente você avisar que entrar ou permanecer, sem permissão, na casa do vizinho, é delito passível de punição, que pronto: lá estão eles, os cabeças de bagre, (que Deus nos livre!!!) a fazer tudo ao contrário.
Aos verdadeiros e legítimos espíritos de porco quando o professor diz: "não é bom, nem saudável, mexer no lixo depositado defronte a casa das pessoas, a espera da coleta" para que os benditos iniciem verdadeiros garimpos na busca de saber o que consomem aqueles a quem maltratam.
Aos espíritos de porco renomados, de longa tradição familiar, quando lhes dizem, num hospital ou velório, que é de boa educação manter o silêncio e o respeito, não raras vezes, iniciam eles verdadeiras gandaias desafiadoras.
Há quem diga terem esses meliantes parentesco com Adão e Eva que, desobedecendo as ordens divinas, fizeram tudo o que não devia ser feito.
Tem quem veja, nos espíritos de porco, a rebeldia dos insensatos, dos jovens, sempre em luta contra os preceitos dos mais velhos.
Nada contra os que combatem, contestam as velhas normas nocivas, improdutivas e malignas.
O problema é fazer ver, aos cabeças de bagre, minhocas do inferno, que suas atitudes são contrárias à ordem, ao progresso, à paz entre os vizinhos, e também na cidade.
Qual é o professor que, na classe, ao dizer para não jogar bolotas de papel nos colegas ou grudar chicletes no cabelo das colegas, não se surpreendeu ao ver que o que evitava, por causa dos espíritos de porco, aconteceu?
Percebo que há uma certa insistência em tocar na tecla da importância do gregarismo. Havemos de nos lembrar que muitas das piores crueldades são perpetradas por coletivos, agrupamentos de espíritos de porco.
Sim, porque tem gente que só pratica o mal em companhia dos que os estimulam a isso.
Geralmente o verdadeiro espírito de porco não "apronta" sozinho, mas age quando bem acompanhado dos seus inúmeros parceiros.
Sozinho e longe do local onde costuma praticar suas insanidades o espirito de porco não passa de uma verdadeira gazela.

 

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publicado às 13:57

A Casa é Minha

por Fernando Zocca, em 02.07.15

 

 

 

 

Da mesma forma que aquele que não vê a remela no próprio olho apontando, com insistência, o formato do olho alheio, a oposição, descuidando dos delitos praticados por si, cacareja os supostos desvios do governo.
E se, é claro, a oposição inquieta, reivindicativa e querelante pratica (ou praticou) o que condena, será indubitavelmente, também condenada.
Faz parte do ônus da vitória ter de suportar o descontentamento dos vencidos. Mas vem cá… Criticar só por criticar, não tem outro sentido do que o de demonstrar certa inquietude patológica.
Imagina se tem cabimento culpar o defensor pela condenação do réu, sabida e comprovadamente, cometedor do crime?
A pena do delito criminal é circunscrita ao criminoso. Por exemplo: não pode ser isento do castigo aquele que, por ter alguém xingado sua mãe, dentro do ônibus, atropela propositalmente um cachorro, rouba a corrente de ouro de uma transeunte ou dispara contra o proprietário do trailer de lanches.
Imagine se “cola” justificar os crimes dizendo que fez isso tudo por estar ofendido, sua mãe foi xingada, ou blasfemaram.
Da mesma forma, ressalvadas as devidas proporções e os nexos, que culpa teria o administrador público, nos crimes praticados por alguém nomeado antes, por ele, com base nas informações de que era um ótimo funcionário?
Num destes dias o presidente dos Estados Unidos Barack Obama discursava, na Casa Branca, sobre a aceitação, pelos tribunais norte-americanos, dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
Durante a sua fala alguém começou a protestar insistentemente, quando então o presidente disse que ele – o que protestava – estava na casa dele – Obama – e que portanto deveria calar-se.
E é mais ou menos isso; é por aí. Enquanto o ocupante do cargo estiver legalmente exercendo a função, é ele quem manda. A casa é dele.
E não adiantam as tentativas de desalojamento com calúnias sob temas de pedofilia, inadimplência ou blasfêmia. Se querem a devolução da casa, o desalojamento dos seus ocupantes, é melhor procurar as vias legais, tipo impeachment, se houverem motivos, é claro.
Hoje o cidadão com 16 anos já tem noção do que seja certo ou errado, lícito ou ilícito, portanto deve responder criminalmente por seus atos. A ignorância – desde os tempos da Roma antiga – não exime ninguém das penas.
Cabe ao Judiciário, diante dos casos concretos, reais, analisar as provas, tanto as contrárias, quanto as favoráveis, existentes em relação aos acusados com 16 anos.

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publicado às 20:46

Subtração desnecessária

por Fernando Zocca, em 26.11.14

 

 

 

Quem já foi adolescente sabe que a fome, durante este período da vida, especialmente no denominado estirão, é inclemente. 

As pessoas, nesta fase, comem muito e por isso não é raro ouvirem copiosas críticas e condenações.

O comportamento repressivo dos pais, certamente, não inibirá a fome no ser que se desenvolve rapidamente.  Entretanto pode incentivar a criação de mecanismos que driblem os momentos de reprovação, permitindo que o jovem satisfaça-se. 

Então, é bem comum perceber que o garoto, ou a garota, procura comer às escondidas, a sós, geralmente na calada da noite. 

Essa atitude embasa-se tanto na busca da saciedade quanto na autoafirmação, no ato de rebeldia, quando viola as determinações superiores.  

A afirmação desse hábito pode inspirar comportamentos semelhantes, condenáveis. 

Sem dúvida que, desta forma, o ter consigo algo confortante, às escondidas, contribui para a formação da cleptomania.

A moça que não consegue emagrecer, cujos pais são alertados por parentes, amigos, vizinhos ou conhecidos de que a filha subtrai objetos, dos quais não necessita, ou que tem dinheiro para pagá-los, são os elementos comuns componentes de muitos dramas familiares.  

A conduta legal da vítima, como a de registrar queixa na delegacia de polícia, pode agravar a situação psicológica do rebelde.  É claro que o aconselhamento psicológico ou até mesmo o acompanhamento psiquiátrico, além das determinações da lei, serão fundamentais para a adequação do comportamento.

Nas culturas onde a educação seria mais liberal as consequencias da violação das normas não deixariam de ser punitivas, com ritos, porém, diversos dos usados no Brasil.

A função correcional das penas aplicadas pelo judiciário é fundamental para a manutenção da ordem, do progresso e, inclusive até, da coesão social. 

Quem não se lembra das verdades anunciadas nos versos "Perdoar é para Deus. A gente só se arrepende depois que faz"?

 

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publicado às 11:57

O zum-zum do botequim

por Fernando Zocca, em 17.06.14

 

 

Quem crê em astrologia pode crer também naquela espécie de vaticínio existente, em forma de notícias, nas capas dos grandes jornais.

No meu caso, cidadão nascido no dia 1º de setembro de 1951, ano seguinte ao fracasso da seleção brasileira - atribuído ao goleiro Barbosa, jogador do Botafogo do Rio de Janeiro - no Maracanã, as matérias de capa de O Globo, traziam algumas notícias relevantes para mim. 

Uma delas nos dá conta de que uma criança de colo, na Califórnia, Estados Unidos, diante da negativa da sua mãe em dar-lhe bombons, bateu com a cabeça no chão, matando-se. 

A segunda matéria nos informa que um jardineiro negro, e sua família, deixariam a cidade de Campinas SP, para residirem numa favela do Rio de Janeiro. 

Na tarde do dia 7 de abril de 1952, minha mãe, comigo no colo, defronte ao portão do Grupo Escolar Barão do Rio Branco, dáva-me de mamar usando a mamadeira.

Quem conheceu a região central de Piracicaba da década de 1950, sabe que na esquina das Ruas Governador Pedro de Toledo com a Ipiranga havia, além do Grupo Escolar, o bar do Japonês conhecido por Sasse, e um armazém de secos e molhados do Mário Moral.

Um irmão do meu pai, tio Bruno (Brunico), formado em contabilidade no Zanin, era alcoólatra, e não saia do bar do Sasse. 

Ele ia e vinha ao boteco várias vezes durante o dia. Vestindo um paletó surrado, sempre com um exemplar de jornal no bolso traseiro da calça, ele passava horas e horas seguidas sentado a uma daquelas mesas do botequim, diante de um copo de pinga e tagarelando muito.

Você sabe, meu amigo, que zum-zum de botequim pode ser contagiante.

Eu tinha sete meses de idade e, segundo a minha mãe (que Deus a tenha em bom lugar), a um movimento brusco meu desprendí-me dos seus braços caindo ao chão fraturando a clavícula.   

Já contei essa passagem num dos milhares de textos meus publicados na Internet durante estes anos todos; fui atendido na Santa Casa de Misericórdia.

Durante os meses seguintes, com o tórax engessado, fui submetido a massagens periódicas por um massagista conhecido por Peixe.

Bom, depois disso tudo, recuperei-me, tendo uma infância e adolescência praticamente normais, a não ser por problemas surgidos após vários anos, quando precisei de atenção hospitalar.

No hospital ocupei, provisoriamente, durante algum tempo, uma vaga destinada aos pacientes cujos tratamentos eram financiados pela prefeitura. 

Aí, meu astuto e inteligente leitor pode perguntar: mas o que tem a ver as notícias (a criança que bateu com a cabeça no chão e a família campineira que se mudaria para o Rio de Janeiro), publicadas em O Globo, no dia 1º de setembro de 1951, com a sua vida?

Eu diria que quando o ódio, o ressentimento, o rancor e a intolerância, suplantam os sentimentos de afeto, compaixão e solidariedade, todos os fatos relacionados com você podem ser usados de forma negativa, não para construir, mas para destruir. 

Considero valorosas as almas que conseguem transmutar as situações adversas em bendições.

Dentre as provações da vida, cabem aquelas em que recebendo as asperezas hostis, os méritos estariam em transformá-las em carinho e afeto.

Mas isso não é muito fácil. Depende do tempo e da maturidade.  

 

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publicado às 12:52

O jogador de baralho e a professora

por Fernando Zocca, em 06.05.14

 

 

Você já pôde notar a existência daquele tipo de personalidade que se faz de vítima. 

É um jeito de ser que atribui a alguém, ou a situações especiais, os seus sofrimentos intermináveis.

Entretanto não deixa de ter certa razão o adulto que passou a infância "triturado" pelo ressentimento dos tios e primos mais velhos. 

Ponha-se na situação de quem precisava muito do dinheiro para custear estudos em outras cidades, fazer frente às despesas comuns do dia-a-dia ou pagar dívidas de jogo, e não podia recebê-lo em decorrência de estar ele na posse de um...digamos usurpador.

Você já percebeu que todos os males do mundo teriam como fonte única o safadista desjuramentado que, com a mulher e um filho imberbe, se acomodaram na casa que deveria ser dividida entre todos os herdeiros do vovozinho falecido.

Agora, meu querido e paciente leitor, some às agruras dos frustrados o fato de não poderem ter eles mesmos um filho. Não por haver qualquer tipo de impotência sexual do varão, causada pelo tabagismo, alcoolismo e noitadas inteiras na gandaia, na jogatina de baralho, Não. Longe disso. 

Talvez por incompatibilidade sanguínea quis o destino que o casal, formado pelo exímio jogador de cartas e a professora promissora, não pudessem dar ao mundo um descendente legítimo. 

E então? Como fazem os casais que vivem tal vicissitude? 

É comum à essas pessoas, que passam por esse tipo de problema, resolverem-no adotando uma criança.  

Perceba que a frustração causada pela impossibilidade de ter um descendente foi suprida pela adoção, mas a de estar na posse do bem imóvel ficou latente, pulsante, teoricamente embasando, inclusive, as histórias de ninar do infante recém-chegado. 

Como sagaz que é o meu nobilíssimo leitor já pôde vislumbrar a existência dos parentes ascendentes do neném adotado. 

E haveria prazer mais satisfatório do que aquele em que se enreda, calunia e difama (aos familiares-ascendentes do guri)  o tal devedor que não desocupa o bem do espólio?

Não, meu caro, não haveria mesmo. 

E tome lero-lero: "deficientes mentais", "doentes do baço", "racistas", "nazistas" e "encrenqueiros", seriam os adjetivos mais leves dentre todos os impingidos àquela família, espécie de judeus usurpadores dos territórios palestinos do sertão paulista. 

Se a maledicência fosse face a face, até que não causaria tantos males. Mas calúnia à socapa é muito mais eficiente, destrutiva, mortal, tucana e infame.

Essa, meu amigo, leva a morte à cabeceira do leito. 

Deus me livre.  

 

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publicado às 11:40

Os baques da insônia

por Fernando Zocca, em 05.05.14

 

 

O baque tem tudo a ver com a funilaria, com o funileiro. Sem ele - o choque - não há danos, amassamentos, deformações; portanto, o "martelinho de ouro" pode ser o bálsamo para a alma dos que passaram por esses perrengues. 

Há quem duvide, mas por causa dos tais danos, existem os que “martelam” durante a noite, neste árduo serviço de "endireitar" as latas, os conceitos, reposicionando as direções. 

Para a concorrência não passa mesmo de covardia a intenção de laborar no silêncio das madrugadas, não dando, ao rival, a chance de se defender com mais trabalho nas latas. 

Há os baques causadores da insônia; fazem com que os elementos do entorno, a eles inerentes, sintam os tremores da ocorrência.  

Aos baques, os calmantes, neurolépticos, sedativos e antipsicóticos não seriam desnecessários. 

Tem gente que vai mais longe.  Os que buscam as causas disso tudo não cansam de afirmar que há na composição deste fenômeno o analfabetismo, as deficiências intelectuais, o alcoolismo, e a covardia. 

Então o meu industrioso leitor perguntaria: escola, educação, sensatez, bom senso, amorteceriam os tais baques? 

A resposta é sim. A educação ministrada por psicopedagogos, psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais minimizaria os efeitos maléficos e bem deletérios dos baques.

Baque bom é baque manso, sossegado. Mas não há que se confundir: baque é baque; encostamento é encostamento. 

Para os que acham que nos baques há muito de ignorância, de medo e covardia, dizemos que são portadores da mobilidade extrema; eles só cessam depois da parada total.

Há quem creia ser saudável dizer bom-dia, boa-tarde, boa-noite aos baques.

Eu particularmente, por enquanto, prefiro me abster; escolho as superfícies mais lisas, macias, planas, afáveis, amenas e sociáveis.    

 

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publicado às 11:24

Cãozinho estropiado

por Fernando Zocca, em 18.03.14

 

 

O pau que nasce torto e que, teoricamente morreria torto, se fosse um cãozinho, deveria aprender a conviver com os seus semelhantes, para não destoar assim tão ostensiva e agressivamente dos outros.

Pedagogias existem, tanto para os cãezinhos comuns, quanto para os assimétricos.

Cabe aos papais e às mamães o direcionamento dos seus filhotes a fim de que, adestrados, possam conviver no quarteirão sem ladrarem ou atacarem os vizinhos. 

O problema, entretanto parece não ter solução se, a mamãe cachorrinha também possui disparidade na consolidação do chassis.

Eu quero deixar expresso que não tenho nenhum tipo de preconceito contra os cachorrinhos estropiados. Só não concordo com o fato de serem, as suas deficiências, usadas como desculpa a todos os danos e dissabores que causam aos outros.

As alegações de que cachorrinhos assim não fazem mal a ninguém podem facilmente ser contestadas com a presença dos interessados no local, a fim de comprovarem o desassossego e os danos por eles produzidos. 

A cegueira dos parentes próximos para as crueldades dos cãezinhos tortos pode ser confortável. Afinal a negativa da existência dos problemas não deixa de ser uma espécie de defesa da própria paz.

Ou seja, é mais fácil dizer "eu não tenho nada com isso" do que estar presente, todos os dias, para afagar os bichinhos depois de servi-los com a ração e ossos.

As escolas especiais de adestramento exigem certa disciplina dos cachorrinhos morfologicamente prejudicados. Mas compete às mamães cachorrinhas a insistência do comparecimento e da permanência deles nas instituições veterinárias.

Engana-se, e muito, quem acha que cãezinhos tronchos, que latem, não mordem. 

Na opinião de muita gente eles são os piores: latem e mordem. Os desajeitados têm a característica de acreditar que, por apresentarem esta ou aquela forma, os olhares a eles dirigidos o são para a chacota. 

E quem meu amigo leitor, quem se disporia a dizer que, apesar deles serem feios, pobres e desengonçados, ainda assim possuem algo de venerável?

Eu, por estar escolado no assunto, - já levei mordidas que me doem até hoje - não me atrevo nem a chegar perto.

Você tem dó, compaixão? 

Adote. Leva um deles pra casa. 

 

 

 

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publicado às 19:00

Paz na Terra

por Fernando Zocca, em 06.03.14

 

 

Em 1917 Lenin e Trotsky, inspirados pela ideologia de Karl Marx, e comandando milhares de seguidores, instalaram o comunismo na Rússia.

O país passou a chamar-se União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e, segundo consta, até a sua volta ao atual sistema capitalista (na década dos anos de 1980), provocou a morte de 30 milhões de dissidentes.

A simples manifestação do descontentamento com o governo, seus líderes, ou sua política, ensejava prisões e condenações à pena capital.

A tomada do poder, a exemplo do que ocorreu em Cuba em 1959, foi pelas armas. Uma das primeiras providências dos revoltosos foi a de fuzilar toda a família do Czar. 

O confisco dos bens particulares, a proibição das práticas religiosas, com o fechamento das igrejas, e uma severa vigilância contra opositores, marcaram as quase oito décadas do predomínio comunista na Rússia.

Uma das justificativas embasadoras das atitudes revoltosas foi a de que a família imperial, e toda a corte, viviam ostentando o luxo, a riqueza, enquanto a população passava por dificuldades terríveis. 

Sob o regime comunista a União Soviética, destacou-se na II Guerra Mundial, tendo dado início à derrota do Reich alemão, com a vitória sobre as tropas nazistas que, durante 900 dias, sitiaram Leningrado.

A exemplo dos Estados Unidos a URSS auxiliava financeiramente aos governos simpáticos à sua causa.  Desta forma países como Cuba e dezenas de outros na África, recebiam aportes vultosos de numerário, em forma de supervalorização dos produtos que comerciavam.

Assim Cuba vendia à URSS açúcar por preços maiores dos que os praticados no mercado mundial. Comprava gasolina, a preços menores, mantendo a sua condição de satélite soviético. 

Dentre os países que se alinhavam à antiga URSS estava, na Europa, a Ucrânia.  

Com a mudança do regime comunista para o capitalista, o auxílio aos seus antigos simpatizantes foi drasticamente reduzido, quando não extinto.

Diferentemente do que ocorreu com a Cuba de Fidel, a Ucrânia ainda recebia aportes vultosos de dinheiro vindos da Rússia.

O governo de Moscou, por utilizar o território ucraniano, com os seus dutos de gás, injetava grandes somas  fortalecedoras do poder local.

Ocorre que, à exemplo do que aconteceu na Rússia Czarista, o luxo, a pompa, a corrupção e as necessidades insatisfeitas do povo, trouxeram descontentamentos sérios contra o governo ucraniano apoiado por Putin. 

Então revoltosos, simpatizantes das orientações politicas e filosóficas da União Europeia, assumiram o poder, fazendo com que os líderes pró-Rússia deixassem o país asilando-se em território russo. 

O presidente Putin, a pretexto de defender as propriedades Russas na Criméia (parte do território ucraniano), enviou tropas militares que se preparam para ações violentas.

Por outro lado, a União Europeia e os Estados Unidos ofertaram alguns bilhões de dólares ao novo governo ucraniano pró-Europa.

Cremos que as reações agressivas dos russos, ante essas questões como protestos e manifestações diversas das suas orientações, tenham suas raízes na antiga feição dos governos comunistas de agir.

Assim, do  mesmo jeito que houve a mudança da forma de produção, do regime comunista, para a da economia de mercado, do modo autoritário para o democrático, talvez a atual conduta russa também se coadune com os modelos democráticos de proceder. 

Tomara. Deus queira.

 

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publicado às 01:44