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Quando um não quer, dois não fazem

por Fernando Zocca, em 22.11.14

 

 

 

Você sabe muito bem que quando ocorre uma invenção relevante, ela muda o comportamento das pessoas e até alguns costumes sociais.
Foi o que aconteceu com a pílula anticoncepcional. Antes dela milhões de atos sexuais foram evitados pelo temor da gravidez.
Antes da pilula, algumas mulheres não casadas aventuravam-se nos relacionamentos suportando o receio das indubitáveis consequencias negativas que fariam surgir o engravidamento não desejado.
Então, mais comedidas elas, ou casavam-se, ou mantinham-se no celibato, por muito e muito tempo.
Os homens, por não terem outros problemas do que o de suportar os encargos do sustento de um descendente não esperado - aliás, tirados "de letra" -, viam-se livres, leves e soltos, vivendo a "galinhar", com as que se dispusessem a correr os riscos.
Homem "pegador", isto é, que "namorava" muitas mulheres, inclusive casadas, não eram, como ainda não são (nem devem ser), bem aceitos nas comunidades, por promoverem a discórdia e a dissolução da família.
Acontece que depois do advento dessa tal de pílula, a característica aventureira, antes própria somente do homem, passou também a fazer parte do rol do comportamento de algumas mulheres.
E hoje pode-se dizer, sem medo de errar, que há sim mulheres "pegadoras", isto é, aquelas que assumem o papel de conquistadoras, indo à luta, em busca da saciedade dos seus desejos.
Olha, essa história não é de hoje. Há muitos e muitos anos, desde o início da década dos anos 1960, que o atributo "caçadora" é próprio também do gênero feminino.
Acontece que não é incomum a senhora casada, depois de procurar por aventura, e pega em "maus lençóis", explicar o erro para as amigas, parentes e vizinhos, que o culpado de tudo, não foi outro senão o tarado que a "atacou".
E daí? Como explicar que o sujeito estava quieto no seu canto, curtindo as percepções do aporte do pastel de palmito, nos tecidos acolchoados do estômago, quando então, assim, de repente, sem mais nem menos, lhe apareceu aquela tentação, propondo ações libidinosas?
Você acredita que tem até candidato a cargo eletivo que, pra ganhar a eleição, promete ao, - com o devido respeito - "corno", que o sujeito que "namorou" a sua mulher vai se trumbicar?
É mano.
E tem cara que se elege.

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publicado às 21:37

Bens públicos

por Fernando Zocca, em 29.10.14

 

 

 

Excetuando os casos evidentes de idiotia, é bastante difícil acreditar que ainda existe quem nunca tenha ido ao cinema.

Você pode não acreditar, mas há sim, quem não consiga ler e compreender notícias simples de jornal. 

Os que tiram proveito econômico, ou politico, desse tipo de fenômeno garantem que a ausência de entendimento dos noticiários da TV, ou do rádio, não passa do resultado da concentração das imensas doses de preguiça.

Sim, mas a preguiça, - dirá meu astuto e preclaro leitor - pode ser muito relativa. Ou seja, a sua conceituação depende do ponto de vista de quem a conceitua. 

Por exemplo: para o cortador de cana, vagabundo é todo aquele que não trabalha como ele o faz. 

Assim, para o sujeito que usa os músculos para ganhar a vida, todos os demais como artistas, professores, cientistas, médicos, advogados e engenheiros, não deixam mesmo de ser os verdadeiros "braços curtos". 

Entretanto acredita-se que a educação - apesar de ser impossível fazer funcionar corretamente um bólido de fórmula 1, com motor de fusca 1600 - possa ser o caminho para a pacificação de certos trechos do bairro turbulento.

Dessa ideia surge a noção de que "quem nasceu goiabeira nunca será videira" não é muito correta, e tudo pode se acomodar.

Sim, nada contra, mas a escola e os professores devem ser especialistas. 

Afinal, os componentes dessa turma de educandos carecem do entendimento propiciador dos comportamentos sociais condizentes com a paz.  

Longe de nós qualquer tipo de preconceito, mas a paz, a tranquilidade, a harmonia são bens públicos passíveis de exigência do poder público. 

As autoridades não podem negar-se a cumprir a legislação pertinente ao assunto, sob a alegação de que "a culpa" de todas as perturbações seja das "vitimas". 

Aceitar essa tese é o mesmo que validar o crime do exercício arbitrário das próprias razões (linchamento).

Em todo caso, apesar dos esforços da parentela e da comunidade em tentar fazer funcionar programas avançados de computador em suportes físicos inadequados, ou de outorgar a gerência dos negócios comerciais a pessoas habituadas aos trabalhos de reciclagem, a cidade torce para que todas as quizumbas tenham bons termos. 

Eu também.

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publicado às 12:06

Domando cavalos

por Fernando Zocca, em 03.12.13

 

 

Ontem logo depois do almoço estive no Juizado Especial Cível; quando cheguei defronte ao balcão deparei-me com uma bela senhora de olhos azuis, que já esperava, há algum tempo, o atendimento.

Nesses encontros, tal como os que ocorrem nos elevadores, os diálogos que se propõem visam a descontração para momentos de mais conforto.

E não há assunto melhor para a "quebra do gelo" do que o tempo. Então, por exemplo, as observações sobre o calor sufocante que tem feito nestes dias, são as de escolha.

Do calor passamos a falar sobre os sorvetes, das suas marcas, dos seus sabores e a propriedade que eles têm de engordar.

Quando minha interlocutora foi informada que não poderia consultar os autos e, ao ser cientificada sobre os próximos atos processuais a serem efetivados, ela conformou-se, fazendo com que a atendente se voltasse para mim.

Ao se afastar em busca do processo que eu lhe pedira, minha nova conhecida segredou-me que "nunca mais entraria com um processo nesse lugar" e que "preferia a morte, do que esperar tanto tempo assim". 

Eu respondi-lhe que é preciso ter muita paciência para lidar com certos assuntos. 

Aproveitando a oportunidade passei a contar-lhe um caso que presenciei quando era adolescente.

Falei-lhe que, há muitos anos, as pessoas eram mais rudes, grossas mesmo. Havia gente que, acostumada a lidar com burros e cavalos, chicoteando-os e os esporeando, tratava do mesmo jeito as pessoas.

Esse tipo de "domador" de animais propunha-se a ensinar com muita estupidez, grosseria e hostilidades, todos aqueles julgados merecedores da aprendizagem condizente com a vida saudável no bairro.

Quando a má educação, os maus tratos são as formas dominantes da expressão das pessoas, pode ter a certeza de que as colaborações, quando necessárias, não estarão presentes.

Geralmente a estupidez é fruto também dos preconceitos e prejulgamentos.

Então aquele dito "a gente não sabe porque batemos, mas ele sabe porque está apanhando", pode ser a regra cruel vigente em determinados grupos. 

Neste caso, como naquele do Fórum, há quem se proponha a, com muita paciência, tentar desatar os nós causadores de tantos mal entendidos, agressões e injustiças.

Sem dúvida nenhuma que as apurações das possíveis infrações aos artigos do Código Penal que tratam da calúnia, difamação e injúria estarão presentes. 

 

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publicado às 03:24

O Dono da Coleira

por Fernando Zocca, em 01.06.12

 

 

Quando o xaroposo tinha "o cabresto curto" não era raro precisar consultar o dono da coleira sobre o que fazer.

 

A dependência era tamanha que, às vezes, um simples peidinho inaudível gerava dúvidas se poderia ou não ser liberado.

 

Era terrível. E veja que foi aquela própria pessoa dele que buscou a ’sarna’ pra se coçar.

 

Ainda bem que, da mesma forma com que ele se enrolou todo, livrou-se também; mas não sem antes muita luta. Saiba disso.

 

Foi bem dolorido, mas ele entendia que a autonomia não poderia deixar de ser conquistada, sob pena do desande geral da maionese.

 

Sabe aquele grito de desespero, revolta, indignação, que antes de subir aos céus, permanece entalado no gogó, enrolado no emaranhado de tanto constrangimento?

 

Dizer ter sido o tal um zumbi escravo, pra ilustrar o tema, é bem pouco, muito pouco, pouco mesmo. Mas era.

 

No final o ilustre deu graças por tudo, pedindo e agradecendo sempre, as benesses da liberdade.

 

Veja que tinha também o tal, naquela fase horrenda, a mania da autoajuda. Você sabe o que é isso?

 

É um lero-lero antigo baseado num milhão de livros sobre o assunto. A bazófia gira em torno da "arte de fazer amigos", "o poder do subconsciente" e por aí vai.

 

Entretanto com o passar dos anos ele percebeu que se não houvesse a verdadeira conexão com Deus, a coisa não daria mesmo certo. Compreende?

 

Com a autoajuda, os cambau e tudo o mais, se não "caísse a ficha", conectando-o ao Criador, meu amigo, saísse de baixo.

 

Na quebra dos grilhões ele deve ter cometido algum exagero. Portanto quis, numa certa ocasião, deixar consignado o seu mais humilde e respeitoso pedido de desculpas.

 

Ele apanhou muito, mas também desceu o cacete sem dó nem piedade.

 

Pra finalizar ele fez dele as palavras da Ana Maria no Mais Você de ontem: “A briga pode ser feia, mas a vitória é linda”.

 

Eu também acho.

 

Sabia?

 

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publicado às 13:48

Governo de Castro viola direitos humanos

por Fernando Zocca, em 04.02.12

 

 

Os imperadores perenes Fidel e Raul Castro negaram pela décima nona vez, o direito da blogueira cubana Yoani Sánchez (foto) de sair e voltar para o seu país, na hora em que bem entender.


Ela está impedida ilegalmente de sair de Cuba, bem como tem o direito de se expressar na internet, limitado pela política equivocada, do regime castrista.


Desde 1959 os imperadores vitalícios Fidel e Raul Castro conduzem de tal forma, a política cubana que o país se vê, ainda hoje, atolado num incrível obsoletismo industrial e inacreditável atraso cultural.


A tal orientação ideológica transforma também o estado, num vergonhoso violador, dos mais elementares direitos individuais.


Yoani Sánchez é opositora da política dos Imperadores e isso lhe tem custado uma forte discriminação, por parte das autoridades governamentais da ilha.


Apesar de ter autorização brasileira para vir ao Brasil, Yoani não obteve o consentimento para sair de Cuba.


Na tarde de ontem (03/03), ela postou no Twitter a mensagem "Não há surpresas. Voltaram a me negar a permissão de saída. É a ocasião de número 19 em que me violam o direito de entrar e sair do meu país".


Yoani, que luta pelo respeito à Declaração Universal dos Direitos Humanos, gravou a conversa que teve com os funcionários, durante a entrevista que lhe concederia, ou não, o visto para deixar Cuba.


Ouça o diálogo.

 

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publicado às 23:38

vereador José Aparecido Longatto (PSDB), atual presidente da câmara de vereadores de Piracicaba, deu entrevista coletiva à imprensa, na tarde de ontem (16/12). Ele fez uma avaliação da administração e confirmou a devolução de cerca de R$ 3,5 milhões para a Prefeitura.

 

Dizendo "Nós contribuímos bastante para o crescimento e engrandecimento da nossa cidade", Longatto iniciou a reunião, onde destacou que a câmara publica suas contas na internet antes mesmo da exigência legal para isso e que os gastos da entidade estão "enxutos".

 

João Manoel dos Santos (PTB) que comandará o legislativo pela terceira vez, a partir de janeiro de 2011, falou do papel do vereador da situação. "Pessoas desinformadas e pouco esclarecidas acham que combativo é o vereador de oposição. Mas, sem uma parceria a cidade não caminha. Sinto prazer em ser da situação e fazer parte de um grupo afinado e comprometido para que a cidade caminhe", garantiu ele.  

Confirmando a parceria José Aparecido Longatto (PSDB), fez questão de frisar que durante a sua gestão, o prefeito municipal Barjas Negri (PSDB) teve todos os seus projetos aprovados e vetos acatados. "Não perdeu nenhuma", lembrou.

 

Para o atual 2º Secretário e futuro 1º Secretário Carlos Alberto Cavalcante (PPS) a união dos vereadores da Mesa Diretora merece destaque.

 

Por falar em câmara de vereadores veja o que aconteceu na Câmara de Vereadores de Viamão (RS) na sessão do dia 14 de Outubro.

 

Estava em discussão o projeto de lei 065 que destinava mais de R$ 31 milhões para a Prefeitura de Viamão (RS). Vereadores contra e vereadores a favor partiram para o confronto físico. Instalada a desordem na Casa do Povo, a sessão foi encerrada.

 

 

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publicado às 16:59

Danos Morais

por Fernando Zocca, em 24.11.10

 

               Você consegue imaginar a dimensão dos danos morais que o médico Roger Abdelmassih causou nas suas 39 vítimas?

 

                Proprietário de uma das clínicas mais famosas e caras de São Paulo, especializada em fertilização, Roger se aproveitava da inconsciência das pacientes, para praticar estupros e abusos sexuais.

 

                As consultas caríssimas, só permitiam o acesso à clínica, de mulheres com grande poder aquisitivo. Pacientes ricas e lindas mais a suposta inconsciência foram fatores estimulantes, despertadores da sanha criminosa no doutor.

 

                As queixas contra o comportamento doentio do médico não foram feitas por uma única paciente. As vítimas desse crime talvez tenham sido muito mais numerosas do consta na denúncia do Ministério Público paulista.

 

                Mas somente 39 delas conseguiram ser ouvidas tanto na delegacia de polícia, quanto no juízo da 16ª Vara Criminal de São Paulo.

 

                Consta dos autos que o tarado, aproveitando-se da sonolência das pacientes, induzida por hipnóticos e anestésicos, praticava atos e cometia outros abusos de ordem sexual.

 

                As vítimas, no momento da perpetração dos delitos, usavam somente camisolas hospitalares e, na posição deitada, para a aspiração de óvulos, sofriam as consequências do comportamento psicótico.

 

                A juíza Kenarik Boujikian Felippe da 16ª Vara Criminal ouviu mais de 200 testemunhas num processo que chegou a 10.000 páginas.

 

                Na sentença, prolatada ontem (23/11), baseado em tudo o mais que dos autos constava o veredito: 278 anos de prisão.

 

                De acordo com as normas, que regem o processo penal, o réu pode pedir um novo julgamento, que aguardará em liberdade.

 

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publicado às 12:45

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por Fernando Zocca, em 18.11.10

O ARMÁRIO PRATA




Pitirim Zorror acordou, naquela manhã de segunda-feira, com uma dor de cabeça horrível. Seu companheiro de quarto, ali no famoso Spa Naka, roncara a noite inteira. Apesar do adiantado da hora, aquele gogó ainda estrondeava.

 

Ambos internaram-se na clínica objetivando perder peso e livrar-se dos incômodos da intoxicação causada pelo uso diário do álcool. Pitirim arrancou o travesseiro debaixo da cabeça pesada e lançou-o contra a fonte insuportável de ruídos.

 

Ernesto Mail assustou-se com o impacto. Atordoado, ele pode ouvir o trinado dos pássaros, àquela hora da manhã. Nervoso ele exclamou:

 

 - Que saco! Não se pode mais, nem ao menos, dormir direito nesse lugar.

 

Um odor de café coado naquele momento evolava no ambiente, aguçando a fome nos demais residentes.

Pitirim percebeu suas mãos trêmulas. Ele sabia que só as teria firmes, depois duma talagada generosa. E. Mail começou a falar:

 

- Eu notava que os vizinhos da minha casa conversavam, sobre mim, com os vizinhos daquele boteco, lá no centro. Eu tenho certeza que eles todos comentavam sobre minha... minha... nobre... pessoa, com os vizinhos da construtora onde eu aparecia todas as manhãs, para trabalhar.

 

Pitirim levantou-se e foi dizendo:

 

- Já está delirando a essa hora! Você não é oceano, mas tá cheio de ondas hein, ô da psicose! Vai se levantando rápido. Aquele enfermeiro maluco vem chegando aí. Você sabe que ele não vai com a tua cara.

 

Pitirim sentiu que fora um tanto quanto seco e rude com o parceiro. No fundo sabia que Ernesto Mail tinha razão e estava certo com as suas percepções. O pessoal da seita maligna do pavão-louco não era flor que se cheirasse. Aquela gente era de morte.

 

E. Mail, tossindo, botou os pés no chão. Seus cabelos estavam desgrenhados; o rosto mal barbeado e vermelho. Em tom de cochicho ele perguntou:

 

- E a mais lindinha? Acabou?

 

Pitirim, percebendo que aquela concorrência, poria em perigo o prazer da embriaguez do dia, asseverou:

 

- Acho melhor você se cuidar. Aquela turma do pavão-louco está todinha atrás de você. Eles estão com ódio e desejam ver-te mais seco do que roçado nordestino.

 

Ambos se preparavam para descer e tomar o café matinal. Vestiam-se vagarosamente. De repente, as palmas estaladas à porta, assustaram os internos. A enfermeira Lucila Mao Mé, magra à semelhança dum frango morto, depenado e dependurado, mostrando muita irritação, esbravejava:

 

- Vamos logo, se não vocês perderão a hora do desjejum. Parece que não sei... Parece que bebem...

E. Mail sussurrou:

 

- Ih rapaz! É aquela louca que confunde colega com Corega. Tamos ferrados!

 

 Pitirim emendou:

 

- Essa capivara não tem carrapato com maculosa, mas pode te esquentar a cabeça. Vamos logo, ô praga de usineiro, sai da frente!

 

No refeitório, sentados um defronte ao outro, eles conversavam, entre goles compassados de café com leite. Ernesto Mail disse:

 

- Piti hoje tenho consulta com o endocrinologista. Ele pediu que eu escrevesse alguma coisa relacionada com o meu peso. Bolei essa cartinha. O que você acha?

 

Pitirim pegou o papel e mordendo um pedaço de torrada, passou a ler. O texto dizia assim:

 

"Quando era criança e já bastante gordinho, a molecada do bairro zoava-me muito durante as corridas pelo quarteirão. Eu sempre chegava por último. A gozação era geral: todos subiam na jabuticabeira e eu não podia nem ao menos passar pela segunda forquilha. Confesso a você que até mesmo as escadas conseguia descer. Eu próprio sentia compaixão por minha pessoa. Vá vendo... Mas do rio não é bom falar. Todos chegavam correndo às margens e, aos saltos, entravam n´ água. Saíam nadando, enquanto eu afundava igual a martelo."

 

"Diante desses fatos fui ficando assim meio caseiro, inferiorizado. Aquele senso de dessemelhança que se apossa do fofinho que vive num grupo de magros, obrigou-me a desenvolver a inteligência agressiva e a astúcia exuberante. Eles não contariam com a minha astúcia."

 

"Passei a escrever poesia quando estava supergamado e não tinha coragem para declarar meu amor."

 

"Os dias sucederam-se e eu ficava cada vez mais velho. Comecei a fumar. Pensei que fosse emagrecer com o tal hábito. Mas que nada. A adiposidade em meu corpo aumentou de tal forma que eu já não conseguia mais ver o biribiguá. Mas também pelo tamanho com que ele se apresentava, seria melhor que eu não me lembrasse da sua existência. Era humilhante."

 

"Reuni minhas poesias em alguns livrinhos xerocopiados e passei a oferecer às pessoas. Houve certa aceitação. Pelo menos em tais contatos sociais não haveria tantos rebaixamentos. Eles (os contatos sociais) se davam sob assuntos intelectuais e não por desempenhos físicos. Até aí tudo bem. Não encontrei nenhum concorrente que me pudesse fazer sombra."

 

"Reinei só durante alguns anos em nossa comunidade, sendo conhecido como Ernesto Mail Catão, o poeta pimpão."

 

"Mas você sabe como é: precisamos fazer algo de útil e remunerado durante essa nossa passagem pela terra. Se não, como sobreviveremos, não é verdade?"

 

"Ingressei então, pelo poder e graça dos grandes padrinhos, e por que não dizer, por minha capacidade intrínseca também, no serviço público municipal."

 

"Meu salário era ruim. Era tão minguado que me impedia de ver, e não via mesmo, outra alternativa para reforçar o orçamento, do que a da aceitação de bolas."

 

"A corrupção a que me submetia, quero deixar bem claro, não era prejudicial ao empregador a ponto de o fazer instalar uma CPI e me defenestrar do cargo. Tudo era muito leve e sutil. Espirituosamente sutil."

 

"Os anos passaram e agora, curto o diabetes, responsável pela minha disfunção erétil."

 

"Estou careca, gordo e com o bimbo mole. Mas escrevo minhas poesias. Gosto ainda de contar mentiras e, às ocultas, assoprar os defeitos alheios. Apesar dos laranjas e larápios viverem a dizer que não enxergo a trave no olho próprio."

 

"Nada mal para quem era um gordinho com nádegas flácidas e sem futuro. Não é verdade?"

 

Pitirim Zorror terminou a leitura e tossindo levemente disse:

 

- É bastante significativo. Tem conteúdo. O doutor vai entender que você era inferior e que por isso, para compensar, fazia essa poetagem toda. Seu caso assemelha-se aos demais integrantes dessas seitas malignas. Para ser aceito nelas é preciso estar separado do cônjuge, ser tabagista, obeso, alcoólatra, analfabeto, adolescente ou idiota. As maldades que praticam são compensações pela inferioridade material. Ajudam manter a autoestima.

 

Enquanto falava Pitirim não percebeu a aproximação de um novo interno. Era um sujeito alto, pelancudo, usava bigodes brancos e sujos; seus óculos estavam embaçados. Ele caminhava arrastando a perna direita. Calçava pantufas verdes e sua blusa era azul. O adoentado batia palmas e cantarolava: "É na palma da bota/ É na sola da mão..."

 

Ernesto e Pitirim se entreolharam e sem dizer palavra, saíram correndo a caminho do quarto. Lá no canto, no fundo do armário prata, estavam escondidas as garrafas de filha-de-senhor-de-engenho, néctares muletas que os fariam aguentar as chatices daquilo tudo.

 

Texto publicado originalmente em 14/10/2005 no site usinadeletras

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publicado às 13:07

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por Fernando Zocca, em 25.10.10

O líder comunitário e a rabiola presa

 

                              Quando um líder comunitário tem entre os seus credores um deputado federal, dificilmente poderá repercutir opinião diferente deste, mesmo que totalmente equivocada.

 

                Dentre as confusões que fazem sobre o que seja ou não roubo, esquecem-se de classificar os de maior ou menor potencialidade danosa ao bem comum.

 

                Apesar de o delito estar presente tanto no furto de um panetone, quanto num fardo de dinheiro público, este último produz muito mais malefícios do que o primeiro.

  

                  Quando falamos em panetones não podemos deixar de lembrar os roubos ocorridos no Distrito Federal, em que estiveram envolvidos, dentre outros, o ex-governador José Roberto Arruda, então filiado ao DEM.

 

                Para quem ainda não sabe, DEM é a sigla do partido dos democratas, aqui no Brasil, aliado ao PSDB que por meio de José Serra, disputa a presidência da república.

  

                O PSDB tem afinidades com o partido Republicano dos Estados Unidos e no tempo de FHC, Bill Clinton então presidente daquele país, comprometeu todo mundo a sua volta, quando veio a público o escândalo com a estagiária Mônica Lewinsky.

 

                Poderíamos dizer, sem medo de nos enganarmos, que não haveria crime sem lei anterior que o definisse?

 

               Então, como é que podem estes senhores, afirmar serem delitos, a publicação das fotos de um contador meliante, sua concubina bancária e filha desocupada, flagrados no exato momento em que agrediam, com socos e pontapés, a um pacato cidadão, no corredor de uma lan house?

 

                Como é que podem afirmar ser delito o uso de fotografias, vídeos e textos publicados na internet, se não existe lei anterior que defina tais atos como crime?

 

 

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publicado às 14:03

Os tranca-ruas

por Fernando Zocca, em 19.10.10

 

                O funileiro maluquete que insiste em provocar o vizinho, lançando na sua casa a tinta spray, usada na pintura de automóveis, prossegue com a sanha demencial diária. O doente não tem serviço na funilaria, mas pra não ficar quieto, provoca com a poluição do ar, com o barulho e as vibrações nas paredes.

 

                O imbecil tem parentes funcionários públicos, que garantem as sacanagens por ele promovidas.  Já disseram que a besta não é galinha, mas que também não tem nenhum dente na boca. Isso todo mundo sabe.

 

                Na verdade o cara é desocupado, um meliante frustrado, que começou a construção de um sobrado, num bairro próximo e depois de muito tempo, não conseguiu concluir. As estruturas apodreceram; se não fosse a parentela funcionária, que o ajudou na venda dos escombros, a múmia tabágica teria perdido tudo. Veja como é louco, como não sabe calcular.

 

                Um de seus filhos também desocupado, vadio e sem educação, amancebou-se com uma carroceira, catadora de papelão. Ela já tinha filhos de outros relacionamentos e vivia vagando pelas ruas, em busca do tal lixo reciclável.

 

                Essa jovem envolveu-se com um metalúrgico casado e já aposentado, com quem teve uma criança adulterina.  A pensão alimentícia que o vovô fanfarrão paga mensalmente à bastarda, é usada pelo vagabundo amancebado, no sustento dos seus próprios vícios.

 

                Os tranca-ruas vivem bêbados, sentados nas sarjetas e calçadas, promovendo desordens e arruaças. Num tempo que não vai muito longe, era mania de um deles, incendiar móveis, portas, paus e outros lixos que encostava numa parede do terreno,  situado em frente à casa deles.

 

                Há muitos anos havia uma senhora idosa, viúva que residia sozinha numa casa vizinha dos meliantes. A pobre velha era atormentada dia e noite até que se mudou. Mas você pensa que a loucura dos degenerados cessou? Enquanto não viram as três casas que pertenceram à infeliz, completamente vandalizadas, em ruínas, eles não sossegaram.

 

                Essa gente é do tipo que não dorme sem antes ter feito o mal para alguém. Mas para os parentes, frequentadores da Igreja do bairro, eles são uns santos, vítimas de muita incompreensão.

 

                O uso das drogas pesadas não é novidade entre eles. Há uma criança que padece em decorrência de afecção pulmonar crônica, adquirida no contato constante com o clima poluído pela fumaça dos cigarros dos malucos.

  

                O ambiente é fétido, empestado, sujo, mal ventilado e mal iluminado.  Há muita gente para pouco espaço. A tensão emocional é diuturna. As autoridades públicas do município não se importam muito com isso. Parece que pontes e asfalto das ruas, já os ocupam bastante.

  

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publicado às 13:16