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A Urucubaca e a Satisfação

por Fernando Zocca, em 05.02.15

 

 

 

 

 

 

- Van, meu lindinho, cabecinha de corruíra pousada no fio telefônico do poste de ferro, diga-me aqui e agora, nestas filas paralelas pra pegar os ônibus, que nos levarão, a mim pra Vila Mariana e a você para Itaquera: é verdade que perdes os amigos mas não a piada? – questionou a sapiente Ana Menese.
– Sim, minha querida. É verdade.
– Então me conta: por quê você manca desse jeito, me olha só com um olho, e tapa a boca quando sorri?
– É que minha sorte tem me ensinado sobre a paciência. Veja você que quando caminhava, da minha casa até o bar do Bafão, no domingo passado, pela manhã, não percebi que uma das lentes dos meus óculos se desprendeu e desapareceu na calçada. Eu, quando percebi, busquei por ela, mas, é claro, sem a tal, não poderia enxergar quase nada. O resultado é que estou, até hoje, sem ver direito.
– E a história do pé? – Ana, que tinha o rosto maquiado, fazendo biquinho com os lábios, olhava o parceiro por cima das lentes dos seus óculos escuros.
– É o seguinte: durante uma das minhas caminhadas noturnas, depois de perder a lente e só ver com um olho, dei uma topada terrível num tijolo que esqueceram na calçada. O machucado infeccionou provocando-me dores ao andar.
– Mas e o sorriso? Conta pra mim, pingueiro do inferno – Menese, que manipulava o brinco da orelha direita, estava já cansada.
– Foi quando eu andava de bike. Havia um cara sentado na calçada, conversando com uma menina que tinha acabado de chegar. Ela recolhia material reciclável e parou para conversar com o homem. Ele bebia cerveja e fumava, ali, sentadinho no meio da passagem. Quando eu seguia pela rua, bem devagarinho, pedalando assim, numa boa, surgiu um carro esquisito, em alta velocidade e eu então, precisei subir rapidamente na calçada para não me complicar. Daí, pra não colidir com o camarada, que estava naquele local, onde não era aconselhável estar, freei bruscamente, vindo a cair de boca no chão. Ai você já viu, né? lá se foram os meus dentinhos.
– Mas que barbaridade – comentou Ana, dando um piparote no brinquinho.
– Daí então fui ao dentista da prefeitura de Tupinambicas das Linhas. Dizem que o trabalho do pessoal é muito bom e renomado. Pode até ser, mas que é enrolado, ah, isso é.
– Você diria que o bagulho é complicado porque é gratuito ou gratuito porque é complicado? – quis saber a Menese.
– Olha, eu diria que é coisa de rolo, cilindro, bobina. Você entende? – explicou o Van.
– Bobina? Não entendi.
– É assim: o Fuinho Bigodudo – você conhece, é claro… – Ele é vereador na cidade já faz uns 45 anos; mas antes de ser eleito, trabalhava como empregado doméstico. É isso mesmo: o Fuinho Bigodudo, que já foi até presidente da nossa Câmara Municipal, antes da vida pública, trabalhava como doméstico, fazendo faxina, lavando a louça, lavando e passando as roupas dos patrões até que cansou desse tipo de serviço. Então disseram pra ele que numa empresa precisavam de gente pra enrolar os fios dos motores elétricos. Você manja motor de liquidificador, enceradeira, batedeira de bolos, furadeira, serras? Então… Fuinho passou a enrolador oficial da auto-elétrica, que cuidava também da instalação de som, rádios e toca-fitas nos carros, compreende? Como a vida não estava, já naquele tempo, fácil pra ninguém, o Fuinho percebeu que aquela enrolação de fios de cobre não o tirariam do miserê institucional, característico dele mesmo. Então, junto com um outro sócio do empreendimento, depois de saírem de uma rodada de cerveja, no bar do Japa, resolveram enredar uns moleques que viviam pelas ruas do local. De noite, o sócio do Fuinho chamou um dos meninos e dizendo-lhe que se conseguissem pular aquele portão amarelo, pegariam fios de cobre que venderiam ganhando assim bastante dinheiro. Quando o sócio e o menino entraram no barracão, andaram às escuras, e não distinguiam nada que pudessem furtar. Ao saírem da propriedade, Fuinho apareceu de repente e, conforme o combinado, deu o maior flaga no garoto que, assustadíssimo se molhou todo. Fuinho espancou o moleque, (ele devia ter uns nove ou dez anos), de tal forma que se sentiu aliviado de todas as frustrações que carregava até aquele momento. E foi assim que tudo de ruim que acontecia naquela empresa era considerado culpa do moleque ladrão. O incauto virou um bode expiatório, um saco de pancadas. Você entendeu? A história foi se alastrando, criando marolas tão grandes, causando certas reações (diziam que o menino roubava os “fios” e até as “fias” dos casais). Então, o Fuinho que não era bobo, besta e nem nada, resolveu aproveitar a oportunidade lançando sua candidatura à vereança como o mais notável, eficiente educador, punidor, moralizador, caçador e castrador de meninos maus-elementos da cidade. E o resto da história você conhece: Fuinho já tem mais tempo de Câmara Municipal, do que anos de vida, quando nela entrou pela primeira vez.
– Que história complicada, hein seu Van? – Menese estava boquiaberta, segurando os óculos escuros na ponta do nariz.
– Pois é. O bagulho cresceu, se desenvolveu e ficou tão complicado que, durante um bom tempo, chegou a ser comum ver pares de tênis pendurados nos fios e cabos dos postes.
– É… Pra quem não distingue tênis de pênis… – Ana tinha a expressão de que entendia. – Só mais uma perguntinha – continuou ela – Van… Por acaso, aquele menino… Aquele bodinho expiatório… Era você?
– O pior é que era eu mesmo – respondeu o ébrio enrubescendo.
– Ah, tadinho. Mas, agora esquece isso, meu amigo. A vida continua. Olha… Lá vem o meu ônibus. Tchau. Tudo de bom pra você, viu? – disse ela beijando-o no rosto. Havia um tom de consolo na voz da mulher.
Dois ônibus se aproximaram encostando ao meio fio dos locais onde se formavam as filas.
Quando todos começaram a entrar, depois da saída dos que estavam dentro, Van percebeu que nenhum dos carros seguiria para o local onde ele desejava ir.
– E não é que eu fiquei esse tempo todo – mais de uma hora – na fila errada? – choramingou com a voz quase inaudível.
Nosso amigo tinha como consolo a certeza de que não havia urucubaca interminável e nem regozijo que não tivesse fim.

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publicado às 23:41

A galera internacional

por Fernando Zocca, em 30.11.14

 

 

Algumas observações sociológicas nos dão conta de que a era industrial, iniciada por volta de 1750, chega finalmente ao fim.

Nesse espaço de tempo - entre a metade do século 18 até o advento da Internet - quem não tivesse uma colocaçãozinha produtiva que fosse, numa fábrica qualquer, era logo diagnosticado como deficiente. 

E se antes o trabalhador braçal julgava ser vagabundo o servidor sedentário, hoje em dia, com o desenvolvimento dos equipamentos substituidores da força muscular, - as colheitadeiras de cana, por exemplo - ele pode falar o mesmo de si próprio. 

Sabe-se que até nos casos em que a morfologia não favoreceu plenamente os componentes do grupo turbulento, na grande maioria das situações de conflito, pode haver a acomodação, com a aplicação das penalidades legais.

Considero, no presente momento, os maiores vilões da paz social, a ausência da educação, da cortesia, da solidariedade, agravados com o analfabetismo, uso abusivo do álcool, drogas e tabaco.

Esses elementos, mais a omissão das autoridades, são os ingredientes do desassossego de uma rua, de um quarteirão, de um bairro inteiro.

Não é possível manter a opinião "os incomodados que se retirem", quando a efervescência antissocial é produzida contra as leis. 

Como pode a sâ consciência de um deputado federal, de uma "dirigente espiritual", e outras mentalidades legislativas/executivas municipais, fazerem crer que todos os que se incomodam - por exemplo - com os ensaios de uma banda se mudem do local, mesmo sabendo que o tal grupo invade as madrugadas, espargindo o pandemônio, confrontando a legislação existente? 

É claro que o conflito não terminaria bem para os que, afrontando as disposições legais antes aceitas, renega-as no momento considerado oportuno, em benefício próprio e em detrimento dos outros. 

O suprassumo da incoerência, do contraditório, da injustiça dos dois pesos e das duas medidas, não podem nunca sobrepor-se sob pena do arrepio geral da galera internacional atenta.

Mesmo por serem os turbulentos, infratores do sossego público, tidos como carecedores dos bons substratos fisiológico/morfológico, bases da boa saúde mental, não haveria ausência da compreensão do que seria certo ou errado, razão pela qual a impunidade serviria como estimuladora de mais e mais distúrbios. 

Como progridem as personalidades se não recebem, plenamente, o que lhes proporcionam as suas más obras?

A alegação do desconhecimento da lei não exime os infratores das penas a eles cominadas. 

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publicado às 16:52

Os Coices do Burro

por Fernando Zocca, em 08.02.12

 

 

       Não se estranha mais, hoje em dia, a ocupação de cargos de liderança por obtusos.

        Há alguns aspectos que se deve ter em conta na observação desse fenômeno: o primeiro deles é o interesse político dominante, na colocação e manutenção do desajeitado, para liderar um grupo.

        O segundo seria a falta de conveniência, dos que se acham mais preparados, na assunção dos postos de chefia.

        Esses dois fatores somados, resultam nas mais variadas situações, em que se experiencia as desagradáveis reações grosseiras, da tal inteligência estúpida.

        Aquele que está acostumado a lidar com tijolos, reboco, colheita de cana ou fritando bolinhos, não compreende o palavreado do emérito senhor professor doutor catedrático e por isso, este se comunicando distraidamente, pode ter como respostas, repentinas manifestações próprias, daqueles portadores de circunferência abdominal avantajada.

        Nessas “fritadas” onde se evidenciam o enfezamento da tal criatura, o professor doutor, catedrático, metido a besta, não terá outra alternativa do que a de ficar quietinho, se não quiser provocar a maior confusão do mundo.

        Já pensou naquele velho mestre, alquebrado pelo peso dos anos, metido numa situação em que não sabe se contradiz ou não, o burro que acabou de lhe escoicear?

        Se o mestre é um ex-deputado, que para exercer o mandato “pendurou” seu cargo de professor, sem abrir mão dos vencimentos mensais da cátedra, certamente se verá muito, mas muito entristecido mesmo.

        Com muita certeza o vetusto professor aprenderá que não se pode ser muito espontâneo com as alimárias, sob pena de em assim o sendo, receber sem dó, nem piedade, quando menos espera, os mais violentos coices.

 

Mudando de assunto.

Veja como se toca um violão.

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publicado às 11:03