Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Informação e entretenimento. Colabore com a manutenção do Blog. Doe a partir de R$ 10 depositando na conta 0014675-0. Agência 3008. Caixa Econômica Federal.
Vira e mexe a gente se depara com as notícias de que encontraram um bebê abandonado.
Então nos locais mais bizarros não é incomum acharem recém-nascidos deixados ali pelo medo.
Embalados nas caixas de sapatos, sacos plásticos ou somente envoltos em alguns panos sujos, jogados nas lixeiras, cemitérios, lagoas ou soleiras das portas, os frutos dos relacionamentos condenáveis, podem jazer ali por longos períodos de tempo.
Geralmente é desse jeito que os filhos naturais (de pais solteiros), ou adulterinos (quando um dos pais é casado com outra pessoa), cujas presenças atrairiam enorme avalanche de acusações, começam a vida.
Alguma sorte os acompanham quando não encontram a morte nas bacias das privadas, ou são devorados pelos animais nas matas.
Imagine a pressão sofrida pelo pai da adolescente que, tendo engravidado de um sujeito da vizinhança, não consegue mais encontrá-lo, a fim de providenciar a reparação com o casamento.
Acrescente aos sofrimentos dos pais da mocinha grávida, os fatos de morarem sob a moral provinciana do interior de São Paulo, em meados de 1960.
E se os avós, daquele neto inesperado, dependessem da opinião pública favorável, por tirarem o seu sustento do comércio de medicamentos duma farmácia, as chances da tal fonte de subsistência mirrarem, aumentariam imensamente.
Mas a criança indesejada, que apareceu assim, sem querer, conseguindo sobreviver à tentação do abandono, vivendo agora com a mãe e os avós maternos, pode não receber as atenções necessárias para o desenvolvimento natural e saudável.
Então seria frustrante para a família contrariada, com a presença daquele ser pequenino, ainda envolto em fraldas, de aproximadamente dois anos que, engatinhando pela calçada, fosse parar atrás da roda traseira direita de um caminhão basculante, estacionado defronte ao bar vizinho, não morresse esmagada.
É claro que o desgosto do vexame, causado pela presença da criatura inesperada, se voltaria contra aqueles que, ao verem o motorista ligar o caminhão, alertaram-no, avisando que atrás do seu veículo, havia um neném.
Àqueles que considerariam ser inegável o amor dos avós maternos e da mãe natural ao pequenino ser, restaria atribuir ao pai da criança, ou aos seus familiares, o desejo do desaparecimento dele. Só assim se livrariam da obrigação de ajudar no sustento.
Então o desespero e o ódio, causados pelo reconhecimento e obrigação inescapável, de trabalhar para sustentar o filho, se voltariam - na forma de perseguições e armadilhas - contra os que teriam impedido o caminhão de iniciar o seu movimento fatal.
Mesmo sendo um deles o menino que, no grupo escolar, começava aprender a ler e a escrever.
Quem crê em astrologia pode crer também naquela espécie de vaticínio existente, em forma de notícias, nas capas dos grandes jornais.
No meu caso, cidadão nascido no dia 1º de setembro de 1951, ano seguinte ao fracasso da seleção brasileira - atribuído ao goleiro Barbosa, jogador do Botafogo do Rio de Janeiro - no Maracanã, as matérias de capa de O Globo, traziam algumas notícias relevantes para mim.
Uma delas nos dá conta de que uma criança de colo, na Califórnia, Estados Unidos, diante da negativa da sua mãe em dar-lhe bombons, bateu com a cabeça no chão, matando-se.
A segunda matéria nos informa que um jardineiro negro, e sua família, deixariam a cidade de Campinas SP, para residirem numa favela do Rio de Janeiro.
Na tarde do dia 7 de abril de 1952, minha mãe, comigo no colo, defronte ao portão do Grupo Escolar Barão do Rio Branco, dáva-me de mamar usando a mamadeira.
Quem conheceu a região central de Piracicaba da década de 1950, sabe que na esquina das Ruas Governador Pedro de Toledo com a Ipiranga havia, além do Grupo Escolar, o bar do Japonês conhecido por Sasse, e um armazém de secos e molhados do Mário Moral.
Um irmão do meu pai, tio Bruno (Brunico), formado em contabilidade no Zanin, era alcoólatra, e não saia do bar do Sasse.
Ele ia e vinha ao boteco várias vezes durante o dia. Vestindo um paletó surrado, sempre com um exemplar de jornal no bolso traseiro da calça, ele passava horas e horas seguidas sentado a uma daquelas mesas do botequim, diante de um copo de pinga e tagarelando muito.
Você sabe, meu amigo, que zum-zum de botequim pode ser contagiante.
Eu tinha sete meses de idade e, segundo a minha mãe (que Deus a tenha em bom lugar), a um movimento brusco meu desprendí-me dos seus braços caindo ao chão fraturando a clavícula.
Já contei essa passagem num dos milhares de textos meus publicados na Internet durante estes anos todos; fui atendido na Santa Casa de Misericórdia.
Durante os meses seguintes, com o tórax engessado, fui submetido a massagens periódicas por um massagista conhecido por Peixe.
Bom, depois disso tudo, recuperei-me, tendo uma infância e adolescência praticamente normais, a não ser por problemas surgidos após vários anos, quando precisei de atenção hospitalar.
No hospital ocupei, provisoriamente, durante algum tempo, uma vaga destinada aos pacientes cujos tratamentos eram financiados pela prefeitura.
Aí, meu astuto e inteligente leitor pode perguntar: mas o que tem a ver as notícias (a criança que bateu com a cabeça no chão e a família campineira que se mudaria para o Rio de Janeiro), publicadas em O Globo, no dia 1º de setembro de 1951, com a sua vida?
Eu diria que quando o ódio, o ressentimento, o rancor e a intolerância, suplantam os sentimentos de afeto, compaixão e solidariedade, todos os fatos relacionados com você podem ser usados de forma negativa, não para construir, mas para destruir.
Considero valorosas as almas que conseguem transmutar as situações adversas em bendições.
Dentre as provações da vida, cabem aquelas em que recebendo as asperezas hostis, os méritos estariam em transformá-las em carinho e afeto.
Mas isso não é muito fácil. Depende do tempo e da maturidade.
Van de Oliveira Grogue parou seu fusca branco defronte ao Bar do Maçarico e sem dizer qualquer palavra acomodou-se numa das mesas ao fundo.
Dina Mitt chegou logo em seguida, olhou ostensivamente para o fusca velho, parado longe da guia, e entrou no boteco pisando com o pé direito. Ao ver o colega macambuzio com o rosto inchado perguntou-lhe:
- Van, é verdade que você vai ter de retificar o cabeçote?
Para não responder com palavras de baixo calão, Van Grogue olhou pro Maçarico, e com um gesto pediu-lhe cerveja.
Dina Mitt sentou-se numa cadeira ao lado do colega perguntando-lhe em seguida:
- Por que a cidade está cheia de lixo? Já faz mais de trinta dias que não passa o caminhão pra recolher, e veja a situação da cidade. Ela apodrece.
- Isso é culpa do caquético testudo. Ele não foi reeleito e em represália, não renovou o contrato com a empresa terceirizada que recolhe o lixo.
- Estamos cercados por tanta sujeira. – observou Dina.
Maçarico que estava atento à conversa, ligando o rádio e aproveitando a deixa, entrou na roda:
- Li ontem a notícia, no Diário de Tupinambicas, que o sucessor do caquético vai fazer uma pista nova no aeroclube.
- Mas aquele sítio só tem aeromodelos. Como é que pode?
- O quê? Aeromodelo? – Maçarico mostrou-se indignado. – Eu já vi muito Teco-Teco decolar e pousar no aeroporto. Não brinca não. Num domingo teve até bimotor voando por lá.
- O caquético não estava com câncer? – indagou a Dina, mudando completamente de assunto.
- Estava, mas sarou. Eu li a notícia no jornaleco da cidade.
- Como ele sarou? – quis saber a pinguça.
- Tomando chá de ipê roxo. – concluiu Maçarico.
A tarde transcorria dessa forma na pacata e distante Tupinambicas. O pouco movimento que se percebia nas ruas era creditado aos latifundiários, grandes proprietários de canaviais extensos, alimentadores das usinas de açúcar e álcool da região.
O comércio, bastante fraco, não suportava grandes empreendimentos. A prestação de serviços limitava-se a poucas oficinas mecânicas encarregadas da manutenção do maquinário dos usineiros.
Não havia motivos econômicos para que os grandes bancos se instalassem numa economia tão modesta. Tupinambicas das Linhas mirrava. Fenecia.
Mas no jornal e nas rádios o prefeito (comprometido com a ética) pavoneava-se contando loas.
Apesar de tudo muitos criam que Tupinambicas nunca deixaria de ser o eterno fim da linha que sempre foi.
Sentado sozinho a uma mesa isolada do bar, Van Grogue comia pastel com sorvete.
- Ficou maluco? Ô Grogue, que mistura é essa? - Indagou irônico o Adan Molly que chegava bem entusiasmado ao botequim.
Van levantou a cabeça e, envergonhado respondeu:
- Você também vai ralhar comigo?
Molly voltou-se para o Maçarico que, alisando o tampo do balcão com um guardanapo, e apontando o Grogue com o queixo, girou o indicador da mão direita na altura da fronte. Quando Molly se aproximou o dono do boteco sussurrou-lhe:
- Depois que disseram que o bilau dele parece sorvete, que quando esquenta amolece, ele ficou assim, meio jururu.
- Que mico hein Maça? - gracejou o Adan.
- Uma verdadeira estilingada no bom-senso.
Adan Molly pegou a garrafa de cerveja e o copo que lhe dera o Maçarico e caminhou em direção à mesa do Grogue perturbado.
- É verdade que te internaram num manicômio Van?
- Hã hã. - respondeu, envergonhadíssimo, o mais famoso pingueiro de Tupinambicas das Linhas. Então ele continuou:
- Tinha um enfermeiro lá dizendo que ia injetar gás na minha cabeça só pra tirar um raio X. É mole? Ele era malvado. Amarrava-me na cama e punha um soro no meu braço que me fazia sofrer muito.
- Mas por que ele faria mal pra você? - Quis saber o Adan Molly.
- Vingança. Eu fiquei devendo alguns meses de aluguel para outro enfermeiro que era primo dele.
- Nossa! Impressionante. Como é que você descobriu isso tudo?
- Sabe aquela borracha que se usa pra amarrar o braço quando se tira a pressão da pessoa? - continuou o Van choroso.
- A tripa de mico?
- É essa mesmo. Então… O cara esticava e soltava a borracha contra os meus braços e as minhas costas; era cada borrachada que eu vou te contar; doía tanto que eu tinha de sair correndo.
- Mas quem era o enfermeiro? - perguntou Adan Molly bebendo com satisfação a cerveja geladíssima.
- O que me agrediu eu não conhecia. Mas aquele de quem aluguei a casa tinha sido condenado por homicídio. O cara ficou preso durante dois anos. Ele fez um aborto numa empregada doméstica que morreu.
- Mas por que você alugou a casa justamente do assassino? - indagou Adan Mollly.
- Porque eu não sabia.
- E essa história do bilau?
- É brincadeira. Sou macho pra caramba.
- Será?
Depois que tomou o sorvete, comeu o pastel e ouviu do Maçarico a resposta negativa, para a sua indagação sobre a existência de peixe frito pra vender, Van pagou a conta e saiu do bar.
Ele permaneceu parado no ponto de ônibus por pouco tempo. Grogue entrou no coletivo, pagou a passagem e preguntou ao cobrador se aquele carro passaria defronte ao zoológico.
- Pergunte para o motorista. - respondeu com rudeza, o cobrador.
Grogue então, por causa do ruído do motor, falando em voz alta ao motorista, quis saber se ele pararia perto de um ponto, próximo ao zoológico.
Van desceu e andando duas centenas de metros chegou ao jardim zoológico onde viu a águia, o leão, e o burro.
Depois, caminhando de volta ao ponto de ônibus, viu de longe, que já havia um parado ali.
Ao entrar no coletivo ele notou um pedaço de papelão deixado sobre o primeiro degrau. Não muito distante o motorista falava ao celular:
- Gritou sim. Gritou feio com um colega nosso.
Van desconfiou que aquilo não deixava de ser mais uma trança que se formava à sua passagem.
28/08/2012
Parado na esquina, com o cacete na mão, Donizete Pimenta esperava por alguém que viesse atacá-lo.
Na verdade o moço delirante, por sentir-se ameaçado, mantinha-se em posição de defesa.
Quem passava pela rua via aquela figura grotesca, primitiva, de short bege, sem camisa, descalço, com o tacape em riste, pronto para o combate imaginário.
Diziam no quarteirão que o amalucado tinha ascendência chilena e que viera para Tupinambicas das Linhas fugido da polícia. Segundo comentários, no bar do Maçarico, Donizete envolvera-se com o sequestro de um velho carteiro.
Os vizinhos notaram que o doidinho tinha o hábito de sair de casa sempre acompanhado de uma jovem morena, de cabelos pretos e longos, caminhar rapidamente pelas ruas, e de não falar com ninguém.
No boteco, Maçarico já demonstrara a sua desconfiança ao conversar com a figura, que entrara numa ocasião, para comprar cigarros.
Num domingo de manhã quando Van Grogue, Zé Cílio Demorais e Billy Rubina bebiam tranquilamente, comentaram as impressões causadas pelo novo e misterioso vizinho, que passara naquele momento, ligeiro assim, feito uma sombra, pela porta do bar.
- Dizem que é muito rico. A mulher deve ter umas oito casas. Com escritura e tudo. – disse Van de Oliveira ao notar a dupla que caminhava.
- Eles não têm filhos. – emendou Zé Cílio.
- Eu ouvi dizer que eles têm filhos de outras uniões. Se não me engano são quatro menores.
- Ninguém nunca viu esses dois com guris, zanzando de lá pra cá. – contribuiu Maçarico.
- Talvez fiquem escondidos dentro da casa. – arriscou Van Grogue.
- Será? – questionou Zé Cílio.
- Eu não acredito que esse bagre cabeçudo tenha capacidade pra fazer isso. – desafiou Maçarico.
- Olha, não duvide. Tem louco pra tudo. Pelo jeito que esse pé-rachado age, não duvide que ele seja capaz de gerar filhos com a própria filha. – garantiu Billy.
- Pra mim esse retardado mental quer fazer bonito pra impressionar a mocréia miserável que caiu na rede dele. – concluiu Maçarico.
Agora ali, parado na esquina, com a borduna na mão, à espera do inimigo imaginário, Donizete assustado, com o coração a galope, viu a polícia que chegava.
Ao ser detido ele confessou que mantinha uma das crianças presas num cubículo, construído dentro de um dos quartos da casa, feita lá no fundo do quintal; e que a sujeitara, para aprender, a ouvir diuturnamente, centenas de músicas sertanejas.
Depois das primeiras providências, tomadas no inquérito policial, o delegado determinou que Donizete Pimenta fosse levado ao sanatório psiquiátrico do doutor Silly Kone, onde recebeu o tratamento especializado.
24/10/11
Tupinambicas das Linhas não era uma cidade agradável. Essa conclusão antiga baseava-se no fato de que a maioria das edificações civis foi construída sobre pântanos.
As emanações gasosas pútridas foram observadas pelos primeiros colonizadores, mas insuficientemente desagradáveis para os convencerem de que o lado do rio, onde ergueram as primeiras construções, não era o mais saudável.
Os gases fétidos, resultados da podridão fermentada no subsolo, emergiam a todo o momento, tornando insalubres alguns locais específicos da urbe. Esse desconforto era intensificado quando não havia ventos e o calor tornava-se desprazível.
Jarbas o prefeito caquético e testudo, fora comunicado, há muito, sobre a existência dessa malignidade, entretanto ele afirmava que não podia fazer praticamente nada a não ser instalar dutos que facilitassem a vazão das exalações. O assunto ocupava boa parte dos espaços na mídia e das conversas dos moradores dos locais mais prejudicados.
Foi nesse clima que, naquela manhã de quarta-feira, Van de Oliveira Grogue adentrou o bar do Maçarico cantarolando:
- Litrão ê, ô... Litrão ê, ô...
Maçarico lia o Diário de Tupinambicas, que aberto sobre o balcão, noticiava uma blitz dos agentes da polícia, na prefeitura.
- Minha pinga! – exclamou Van de Oliveira notando o desprazer que provocava no Maçarico ao interromper sua leitura.
- Você viu o que descobriram na prefeitura? – perguntou o dono do boteco, enquanto enchia rapidamente o copo do cliente.
- Sempre tem maracutaia nova. Qual foi dessa vez? - questionou Van, depois de emborcar a “branquinha”.
- Prenderam um grupo de funcionários que simplesmente apagava dos computadores da Dívida Ativa, os débitos dos devedores de impostos que se propusessem a pagar 30% dos valores. E parece que o Jarbas sabia de tudo. Diziam que ele recebia alguma comissão.
- Eu ouvi essa notícia pelo rádio, no começo da madrugada. Levaram os computadores, e cinco suspeitos. – confirmou Van de Oliveira.
- Descobriram que o esquema de sumiço dos dados era feito há muito tempo. Desviaram milhões e milhões de reais da prefeitura. O prejuízo é bem grande. – completou Maçarico.
- Isso explica o carro novo que o Mariel Pentelini Demorais comprou de uma hora pra outra. – concluiu Van de Oliveira.
Atendendo a um gesto do bebedor, Maçarico abriu uma cerveja postando-a sobre o balcão.
– O cara não tinha nada, mas depois que passou a trabalhar na prefeitura, deixou o bigode crescer e comprou até apartamento no centro da cidade. – continuou Grogue.
- O Mariel Pentelini não é aquele mocorongo entrevado que tinha uma serralheria, falida logo depois da morte do pai dele? – quis saber o Maçarico.
- É esse mesmo. Eu o conheço desde criança. Na casa em que os pais dele moravam havia um limoeiro, uma pitangueira, um orquidário feito com bambus e, bem defronte a porta da cozinha, um gramado pequeno. Naquela casa, antes dos pais do Mariel mudarem pra lá, funcionou uma lavanderia. Isso explicava a existência de quatro tanques enormes num dos lados da morada. Perto dos tanques tinha um aposento com uma janela pequena e a porta bem rústica. Ali o pai do Mariel depositava pneus usados e até material de campanha política.
- Não era naquela casa que funcionou um asilo de insensatos? – indagou o dono do boteco.
- Isso eu não sei. Mas naquele tempo na sala havia cristaleira, mesa e cadeiras no estilo colonial, quadros nas paredes e o ambiente todo era bem agradável.
- Que eu saiba esse Mariel Pentelini vive de bar em bar curtindo as “canas” que entorna e cofiando o bigode branco. Ele não estava aposentado? – inquiriu Maçarico.
- Nada. Juntou-se com a “virgem dos lábios de mel” da Vila Dependência e toca o trole até hoje. – garantiu Van de Oliveira.
- Fazer o que, não é? Temos de ter paciência, muita paciência. – garantiu Maçarico.
Dando-se por satisfeito e finalizando o encontro, Van de Oliveira perorou:
- Por falar nisso, Maça, anota pra mim essa continha, que logo no fim do mês eu passo pra acertar. Tudo bem?
06/10/2011
- Ela estava na piscina do clube se agarrando com um sujeito. Em volta deles havia uma turma do barulho. A zoeira que eles faziam chamou a atenção da diretoria que mandou um dos empregados reprimir a vergonheira.
- É sério? – Naldo “puxando ferro” no quarto, aos pés da sua cama de solteiro, não podia acreditar no que dizia a irmã.
- É verdade todo mundo viu. A doidinha tava na maior beijação com Alcindo, aquele que foi namorado dela. Lembra? – confirmou Silvinha.
Baixando os halteres ao solo, Naldo agarrou a barra fixada nos batentes da porta, iniciando as dez primeiras flexões da série de cinquenta.
O suor escorria-lhe pelo corpo empapando o short amarelo.
- Eu não estou acreditando. Vocês falam muita mentira. Deixa ela vir aqui, que eu vou conversar.
- Mas você é louco Naldo. A menina bota o maior chifre em você, na frente de todo mundo e você não fala nada? – desesperou-se Silvinha.
- Vocês estão querendo que eu termine com ela. Estão com inveja. – Defendeu-se o atleta.
Percebendo que não conseguiria arrancar uma postura hostil do irmão contra aquele projeto de cunhada, Silvinha saiu do quarto, indo direto para a cozinha onde a mãe preparava o jantar.
Notando estar só, Naldo vestiu uma camiseta branca, o seu velho par de tênis e, capturando a bicicleta preta, jacente num canto da garagem, saiu para a rua.
- Vou pra academia malhar. – avisou ele ao passar pelas mulheres que conversavam.
- É uma besta mesmo. Todos lá no clube sabem que a Eliana está ficando com o Alcindo e esse tonto nem se toca. Até no bar do pai dela o comentário é geral. – Queixou-se Silvinha para a mãe.
- Nem ligue Silvinha. O Naldo sabe o que faz. Vai ver ele não quer nada sério com ela. É só um passatempo.- Consolou a mãe enquanto fritava as batatas.
- Pode não querer nada com ela, mas que está feia a situação está mesmo. Tenho até vergonha de entrar no clube. Bom, mas deixa eu ir embora que o Túlio já está chegando lá em casa pra jantar.
- Mãe, põe na cabeça desse moleque que ele deve largar a vadia. – pediu Silvinha ao arrancar com o carro importado, depois das despedidas usuais.
6/09/2011.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.