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Burro é burro

por Fernando Zocca, em 19.02.16

 

 

O vereador Dirceu Alves (PROS) disse na reunião desta quinta-feira (18) que “vereador é que nem burro. Não sabe a força que tem”.

Milhares de eleitores estão, neste momento, perguntando o que fazer, ou como fazer, para pagar as contas de água impostas pela politica desequilibrada do presidente do Serviço Municipal de Água e Esgoto.

Discordando plenamente da opinião deste nobilíssimo legislador, muita gente acha que se vereador fosse burro, a câmara municipal seria estrebaria e, em assim sendo, a pergunta que não calaria seria a seguinte: o que a estrebaria tem feito contra os aumentos abusivos, desproporcionais e desequilibrados da água, determinados pelo presidente do SEMAE?

Essa inflação nos preços leva muitos a pensarem que a população está pagando contas que não são suas. Há quem considere a privatização da autarquia um dos objetivos da tal presidência.

Seja qual for a motivação desta politica maluca da direção do SEMAE o que na verdade a tal gera é um descontentamento tremendo  no eleitorado.

O prefeito Gabriel Ferrato dos Santos não tem como contornar a situação. Aliás, o PSDB todo, em Piracicaba não tem como livrar-se do martírio imposto aos consumidores.

O poder legislativo existe para contrabalançar o executivo.

Se o SEMAE, que é uma empresa pública do poder executivo, manda e desmanda, cometendo injustiças, e a câmara dos vereadores, vendo-se impotente, diante dos fatos, não confirma sua competência, a que serviria?

Afinal, perguntaria o eleitor: qual a utilidade de tanta organização, aparato, legião de funcionários, salários dignos das sinecuras mais invejáveis do mundo, se não defende o eleitorado contra os desmandos da politica doida?

Nos Estados Unidos o burro é o símbolo do partido Democrata.

Aqui no Brasil, em que pese um deles ter carregado a sagrada família, durante a fuga para o Egito, o burro é símbolo do burro mesmo.

É símbolo do bicho teimoso, empacador, coiceiro, estúpido, e ao contrário do que dizem bem vagabundo.

 

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publicado às 10:15

Aquele senhor chatíssimo

por Fernando Zocca, em 22.10.13

Imagine estar você, meu querido leitor, numa sala de aulas assistindo o seu professor, compenetradíssimo, ministrando aquela aula de suma importância, quando de repente, não mais que de rrepente, o vê ser interrompido brusca e assustadoramente pelo bedel afoito.

Se a aula fosse transmitida pela rádio ou TV a descontinuação grosseira, daquele tipo de quem joga um balde de água fria, causaria tanto espanto, nos milhares de telespectadores, que os motivos que a produziram seriam considerados bem mesquinhos.
 
A situação seria semelhante à daquele catedrático que na pós-graduação, ao passar o conhecimento para a classe atenta, é interrompido pelo bedel que avisa, batendo na porta, que já  terminou o tempo da primeira aula.

Mais estranhesa ainda provocaria aquele senhor chatíssimo se, em ato contínuo, avisasse que começaria a segunda aula e que todos poderiam novamente ficar à vontade.

Então você, meu arguto e inteligente leitor perguntaria: "Mas o que é mais importante para todos, em geral, a transmissão da mensagem do professor ou a ciência do burocrático encerramento da primeira e o inicio da segunda aula"?

Ora, faça-nos um favor.
 
Este fato, que já faz parte do festival de besterias, com o devido respeito, atravanca e atrasa indiscutivelmente o progresso da cidade inteira.

Piracicaba já foi considerada a Atenas Paulista. Mas a idiossincrasia de algumas pessoas acumuladoras de poder tem baixado as discussões ao nível tão primário que qualquer sinal de utilização do conhecimento universitário provoca alaridos e rumores.

E o pior não é isso. O pior é que a tentativa de igualar por baixo, esse tal de nível, é tão evidente que causa estranheza a falta de reação daqueles que a poderiam ter.

Há características da ditadura no legislativo piracicabano. Uma delas é a perene ocupação do poder por uma e invariável só pessoa.

A outra é a inabilidade para a troca saudável de idéias. O que emerge de algumas sessões camarárias são os resquícios do  mandonismo, muito próprio do coronelismo do sertão mineiro, da linha dura, utilizada pelos militares, naquela fase terrível iniciada em 64.
 
Há quem afirme que se houver o predomínio da filosofia desse senhor chatovski por mais alguns anos a razão da Universidade Metodista de Piracicaba deixará de existir.

O tempo passou. Ditadura só em Cuba, na Coréia do Norte, na China e na Síria.
 
Ainda bem que o nosso Bashar al-Assad caipira não usa mais o seu equipamento químico. 

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publicado às 17:10

O Festival de Besteiras que Assola Piracicaba

por Fernando Zocca, em 01.11.12

Deste festival de besteiras, que assola o setor político de Piracicaba, você pode concluir que ele se embasa também sobre muita fraqueza e mediocridade.

Raciocinando com premissas falsas, os engendradores dessas determinações, com tudo o mais que “aprontaram”, durante esses anos todos, quase enlouqueceram uma cidade inteira.

A existência de catedráticos na composição desse grupo dominante mostra que o usufruir das ondas culturais imperantes omitindo-se vergonhosa e covardemente, seria muito mais saudável financeiramente, do que a imposição da lógica, do equilíbrio e do bom senso.

E a cidade, apesar de se ver trajando pontes, viadutos e edifícios voluptuosos, assiste a evolução da gangrena que lhe destrói os setores do ensino, da saúde e também da segurança pública.

A estrutura do estado brasileiro assemelha-se a dos grandes estados modernos; e o laicado é uma dessas características. Isto é, há a distinção entre a Igreja e o comando político.

No Brasil essa característica foi escolhida a partir de 15 de Novembro de 1889 quando houve a proclamação da República.

Entretanto aqui em Piracicaba, o modelo político adotado há décadas, para a infelicidade geral e atraso cultural de todos, é semelhante ao do proposto por Antony Garotinho no Rio de Janeiro, na década de 80.

E é por isso que os absurdos acontecem. Você veja que a decisão de submeter os vereadores novatos, eleitos agora em sete de outubro, a um curso supletivo, do tipo madureza, só pode ser tomada por quem os consideraria retardados, inferiores e incapazes de agir no exercício das funções para as quais foram eleitos.

Nos estados onde predomina o autoritarismo a religião é usada para oprimir, para manter a situação politica praticamente imutável.

Dentre os expedientes usados para a permanência eterna no poder há a invasão da privacidade, enganos, furtos de dados sigilosos, traições e muita crueldade.

Esse desequilíbrio, além dos males já conhecidos, favorece a eternização da pobreza.

E você sabe, meu querido leitor, que um país bom para todos é, sem dúvida nenhuma, um país sem miséria.

 

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publicado às 14:45

A Notável Insatisfação Popular

por Fernando Zocca, em 19.10.12

 

Na terra da pamonha, também conhecida como o fim da linha, a câmara municipal, inovando, dará um curso supletivo para os vereadores novatos.


Sem dúvida que, por essa e outras razões, uma parcela bastante representativa da população de Piracicaba, não está nada satisfeita com a atuação dos senhores legisladores.


Tanto é assim que durante a reunião ordinária ocorrida ontem (18), um grupo de manifestantes, expressou a sua indignação, vaiando vigorosamente os parlamentares.


O grupo protestou ruidosamente, exibindo cartazes e bandeiras, contra o aumento dos salários dos legisladores, promovido por eles mesmos.


O enriquecimento conseguido pelos políticos, que lhes será agregado a partir do ano que vem, pode até ser legal, mas é totalmente imoral.


Convenhamos que não seria à toa, que essa decisão administrativa, fez ebulir tanto descontentamento e revolta entre os cidadãos de bem desta cidade.

 

Elogios fáceis como “Atenas Paulista”, “Paixão” e dezenas de outros, manifestados por comunicadores nas rádios e jornais da urbe a torto e a direito, não teriam outro motivo razoável do que a provável compensação pela mediocridade evidente, que buscam não ver.


O município coleciona milhares de leis reguladoras de todos os assuntos imagináveis. Não haveria, em tese, nada que não tivesse alguma norma que lhe regulasse o dever ser.


Portanto, aos senhores parlamentares, pouco trabalho restaria, em termos de elaboração de projetos de lei necessários, além das sessões solenes, discussões sobre moções elogiosas e questões de ordem infindáveis.


E é exatamente por esse motivo, a discrepância entre o tempo empregado pelo parlamentar e a sua produção, em troca dos vencimentos, considerados excessivos, que se revolta parte da população.

 

Trocando em miúdos, transformaríamos a questão na seguinte pergunta: por que tanto dinheiro, por tão pouco?


Apesar de toda essa turbulência, provocada pelas decisões do legislativo, queremos crer que a notável insatisfação popular, possa ser passageira.

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publicado às 12:12

Os Antigos Coronéis do Sertão

por Fernando Zocca, em 07.08.12

 

 

Lugar de coisa antiga é no museu. E isso se aplica também às ideologias políticas obsoletas. Do contrário o eleitor terá sempre mais do mesmo.

 

E o mais do mesmo, atualmente em Piracicaba, é o descaso no trato da coisa pública concernente ao atendimento da enorme parcela da população mais necessitada.

 

Perceba que a estrutura religiosa, embasadora dessa ideologia privilegiante, das estruturas de concreto, há décadas no poder em Piracicaba, seria bem menos sensível e dedicada à caridade. Nem duvide.

 

Por essa ética imperante, tanto no Executivo quanto no Legislativo piracicabano, o sujeito deve tornar-se o empreendedor, criando empresas, dando empregos e sustentando o Estado com o pagamento dos impostos.

 

Nada contra isso. Desde que as iniciativas não sejam logo sufocadas por exigências burocráticas, e que os tributos pagos pela população sejam revertidos à saúde, à segurança e à educação públicas.

 

Na minha opinião, não há atualmente nesta cidade, uma ideologia mais límpida e transparente, dedicada inteiramente ao trabalhador e às suas lutas, do que a representada  pelo PT.

 

Você leitor querido, pode constatar pessoalmente, durante esse tempo de campanha, que ainda há os resquícios dos antigos coronéis do sertão, representando as políticas octogenárias, ainda dispostas a manter a cidade naquele tempo bem antigo, de antanho.

 

Nos últimos 16 anos nós não vimos praticamente nada, das verbas destinadas ao desenvolvimento pessoal dos cidadãos, serem aplicadas nos setores que realmente valem a pena para o habitante comum.

 

E perceba que não será a orientação política semelhante à essa, arvorada no poder há tanto tempo, que mudará o destino do eleitor contribuinte.

 

Na ânsia de eternizarem-se, usufruindo das mumunhas e tretas do poder, esse pessoal teimoso, não vacilaria nem mesmo em tentar quebrar a resistência dos opositores, destruindo-lhes o que, muita vez, seria a única coisa que ainda lhes restaria: a família.

 

Politico que age assim desmerece a credibilidade do eleitor. Lugar de coisa antiga é no museu. 

 

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publicado às 12:38

É chegada a Hora do Voto

por Fernando Zocca, em 03.08.12

 

 

Está vendo como são as coisas? Todo mundo deseja ter telefone celular e isso não seria problema pra ninguém se os especialistas, em algum dia do passado, não tivessem impedido as instalações de antenas nos locais necessários.

 

Fizeram campanha, passaram abaixo-assinados, foram às rádios, buscaram os jornais, furtaram o material que estava previamente depositado, em alguns locais escolhidos, participaram dos debates acalorados e conseguiram impedir a multiplicação das antenas de telefonia celular na cidade.

 

E agora diante da expansão do setor, e do seu travamento total, não haveria outra solução sem as antenas.

 

Não é que eu seja chato, mas impedir o desenvolvimento industrial por birra, ciúmes ou burrice mesmo, não é coisa de politico inteligente fazedor do bem comum.

 

Eles estão ai de novo, pedindo o seu votozinho que lhes dará o direito de mais e mais decisões nem sempre muito corretas. Se não tivessem tido a teimosia de cercear a expansão dos empreendimentos, certamente não haveria agora a necessidade de reformulação das posições, que com certeza, implica no reconhecimento da própria culpa.

 

Eu não sei não, mas acho que tem agente político dando murro em ponta de faca. Não é possível.

 

Veja se compensou politicamente entrar numa "roubada" dessas. Por que impediriam a instalação do material sob a alegação de que seria cancerígeno? Ingenuidade? Interesse financeiro? Interesse político? Obstinação?

 

Fizeram e aconteceram e agora são obrigados a reconhecer, às vésperas das eleições, que estavam redondamente equivocados.

 

Ainda que mal lhe pergunte, meu querido leitor: será que já não é chegada a hora da renovação total do capital politico da nossa honrada e querida Câmara Municipal?

 

 

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publicado às 13:01

A Rotina da Cidade

por Fernando Zocca, em 05.06.12

 

 

Cena 01/interior/dia

Fechado dentro do seu gabinete, na câmara municipal, o vereador presidente da casa está nervoso. Aflito ele olha pro filho que espera dele uma solução.

Vereador:

- Noi precisamo fazê arguma coisa. Assim não dá mais. Assim não pode.

Filho:

- O que noi vai fazê pai?

Vereador:

- Tá sujeira. Negadinha já tá sabendo que noi robamo os notebook e parte do dinheiro da merenda escolar.

Filho:

- Mas e dai? O que noi vai fazê?

Vereador:

- Vamo fazê uma simpatia.

Filho:

- Como assim, pai?

Vereador:

- É. A coisa tá suja. Noi precisa limpa tudo. Noi precisa de muito sabão e detergente. Vamo fazê o seguinte: hoje à noite noi vai alivià a fábrica de sabão do João Mané. Noi vai carrega o que for possível e depois noi vende esse produto lá em Minas. Quem sabe dá certo.

Filho:

- Será, pai?

Vereador:

- É craro. Convide seu irmão e seu primo pra noi fazê o serviço hoje a noite. Falô?

Filho:

- Falô, pai.

 

Cena 02/interior/noite

O vereador, seus dois filhos e um sobrinho, colocam caixas de detergente e sabão dentro de um carrinho de mão, que pretendem levar pra caminhonete, estacionada nas sombras do estacionamento interno da fábrica.

Vereador:

- Vamo rápido, molecada. Chega de sujeira.

O filho:

- Num sei não, pai. Acho que vai melar.

Vereador:

- Melar nada. Roubar todo mundo rouba.

O sobrinho:

- Tio, acho que o caldo vai engrossar. Parou um carro ali fora. Deve ser os home.

Vereador:

- Será?

 

Cena 03/exterior/noite

Dois agentes da Guarda Municipal saem da viatura apontando suas armas.

Guarda Municipal:

- Estejam todo mundo presos.

Filho:

- Eu num falei, pai?

Vereador falando baixo:

- Que nada. Eles aceita um mimo.

Guarda:

- Negativo inoperante. Conosco ninguém podosco. Vai todo mundo em cana.

Chega mais uma viatura da polícia. Os guardas algemam e colocam os presos dentro do camburão.

 

Cena 04/Exterior/dia

Um grupo de homens reunidos na praça comentam as últimas notícias sobre a prisão do presidente da Câmara Municipal.

Velho de cabelos brancos:

- Mas que vergonha! A gente votamos nesses caras e olha aí no que dá. Tá vendo só?

Velho de cabelos pretos, paletó e um jornal na mão:

- Esse assunto não compete a nós. Isso é coisa de armação política. Eles que se entendam. A gente não tem nada com isso.

Silêncio geral. O grupo se dispersa. No rádio a notícia de que o juiz concedeu o alvará de soltura para os presos, traz de volta a rotina da cidade.

 

Zoom da câmera no relógio da matriz que faz soar as doze badaladas do meio-dia.

 

Fim.  

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publicado às 13:38

O Kadaffi Tupinambiquense

por Fernando Zocca, em 29.08.11

 

             Tupinambicas das Linhas não era a Líbia, mas também tinha o seu Muammar Kadaffi. Era o vereador Fuinho Bigodudo, conhecido como Muar Fuinho Bigodudo.

             Da mesma forma que o ditador líbio insistia em não deixar o poder, mantido com injustiças e violência, o Muar Tupinambiquense também se negava a “largar o osso”, mantido com verbas substanciosas, aos comunicadores dependentes da cidade.

             Mas na manhã de domingo, no bar do Maçarico, quando já degustava a cerveja gelada, com a barriga encostada no balcão, Gelino Embrulhano pôde notar a presença espalhafatosa do Omar Dadde que vestindo bombacha, chapéu de abas largas, bota de cano longo, camisa azul pavão e um lenço de cetim amarelo, amarrado no pescoço, entrou em cena declarando:

             - Eu vou/Eu vou/Pra casa agora eu vou... – Dadde mal terminou sua mensagem matinal quando foi interrompido por Gelino Embrulhano, que falou ao Maçarico, em alto e bom som:

             - Pronto! Acabou o sossego! O chato acaba de chegar.

             - Mas, olha... Veja quem está aqui. É o sujeito mais mentiroso, enrolado e falso que a cidade já viu. – respondeu Omar Dadde, olhando irônico para o Maçarico.

             E depois ainda, aproveitando o silêncio que se fez, por alguns segundos no botequim, Dadde continuou:

             - Que mané chato, mano? Parece que não me conhece.

             Gelino Embrulhano respondendo a pergunta defendeu-se:

             - Onde eu estou você logo vem atrás. Parece boiolagem, tesão de argola; qual é a tua parceiro?

             - O quê? Tesão de argola? Ocê tá louco Embrulhano? Eu sou é muito macho, meu chapa – indignou-se Omar Dadde. A cidade é livre, eu também sou. Por isso vou onde quero.

             - A cidade pode ser livre e seus habitantes também – interviu Maçarico interrompendo a conversa entre os dois fregueses. Ele julgou que a rixa poderia descambar para a agressão física e o quebra-quebra.

             - Ouvi um comentário que esse tal vereador Fuinho Bigodudo fez uma lei que proíbe o funcionamento de todos os bares e restaurantes da cidade, depois das 10 horas da noite. Ele instituiu o famoso toque de recolher.

             - O quê? Ele fez isso? – perguntaram em uníssono os dois contendores.

             - Fez sim. E se não me engano, o projeto de lei está no gabinete do prefeito Jarbas, pra ser aprovado – completou Maçarico, vendo que os birrentos esqueceram as hostilidades por alguns instantes.

             - Isso quer dizer que ninguém mais poderá tomar seus birinaites nos bares, depois das dez horas da noite? – questionou Embrulhano.

             - Mas isso é um absurdo! Vamos iniciar um abaixo assinado pedindo a cassação disse Fuinho. Ô Sujeito maldoso! Votar nele é a mesma coisa que adubar erva daninha – proclamou Omar Dadde brindando com um copo de cerveja que acabara de encher.

             - Vamos depor esse Kadaffi tupinambiquense! – decretou Gelino Embrulhano.

             A partir daquele momento Maçarico teve a certeza de que o bar e a sua própria integridade física, estariam assegurados. 

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publicado às 14:22

...

por Fernando Zocca, em 18.11.10

O ARMÁRIO PRATA




Pitirim Zorror acordou, naquela manhã de segunda-feira, com uma dor de cabeça horrível. Seu companheiro de quarto, ali no famoso Spa Naka, roncara a noite inteira. Apesar do adiantado da hora, aquele gogó ainda estrondeava.

 

Ambos internaram-se na clínica objetivando perder peso e livrar-se dos incômodos da intoxicação causada pelo uso diário do álcool. Pitirim arrancou o travesseiro debaixo da cabeça pesada e lançou-o contra a fonte insuportável de ruídos.

 

Ernesto Mail assustou-se com o impacto. Atordoado, ele pode ouvir o trinado dos pássaros, àquela hora da manhã. Nervoso ele exclamou:

 

 - Que saco! Não se pode mais, nem ao menos, dormir direito nesse lugar.

 

Um odor de café coado naquele momento evolava no ambiente, aguçando a fome nos demais residentes.

Pitirim percebeu suas mãos trêmulas. Ele sabia que só as teria firmes, depois duma talagada generosa. E. Mail começou a falar:

 

- Eu notava que os vizinhos da minha casa conversavam, sobre mim, com os vizinhos daquele boteco, lá no centro. Eu tenho certeza que eles todos comentavam sobre minha... minha... nobre... pessoa, com os vizinhos da construtora onde eu aparecia todas as manhãs, para trabalhar.

 

Pitirim levantou-se e foi dizendo:

 

- Já está delirando a essa hora! Você não é oceano, mas tá cheio de ondas hein, ô da psicose! Vai se levantando rápido. Aquele enfermeiro maluco vem chegando aí. Você sabe que ele não vai com a tua cara.

 

Pitirim sentiu que fora um tanto quanto seco e rude com o parceiro. No fundo sabia que Ernesto Mail tinha razão e estava certo com as suas percepções. O pessoal da seita maligna do pavão-louco não era flor que se cheirasse. Aquela gente era de morte.

 

E. Mail, tossindo, botou os pés no chão. Seus cabelos estavam desgrenhados; o rosto mal barbeado e vermelho. Em tom de cochicho ele perguntou:

 

- E a mais lindinha? Acabou?

 

Pitirim, percebendo que aquela concorrência, poria em perigo o prazer da embriaguez do dia, asseverou:

 

- Acho melhor você se cuidar. Aquela turma do pavão-louco está todinha atrás de você. Eles estão com ódio e desejam ver-te mais seco do que roçado nordestino.

 

Ambos se preparavam para descer e tomar o café matinal. Vestiam-se vagarosamente. De repente, as palmas estaladas à porta, assustaram os internos. A enfermeira Lucila Mao Mé, magra à semelhança dum frango morto, depenado e dependurado, mostrando muita irritação, esbravejava:

 

- Vamos logo, se não vocês perderão a hora do desjejum. Parece que não sei... Parece que bebem...

E. Mail sussurrou:

 

- Ih rapaz! É aquela louca que confunde colega com Corega. Tamos ferrados!

 

 Pitirim emendou:

 

- Essa capivara não tem carrapato com maculosa, mas pode te esquentar a cabeça. Vamos logo, ô praga de usineiro, sai da frente!

 

No refeitório, sentados um defronte ao outro, eles conversavam, entre goles compassados de café com leite. Ernesto Mail disse:

 

- Piti hoje tenho consulta com o endocrinologista. Ele pediu que eu escrevesse alguma coisa relacionada com o meu peso. Bolei essa cartinha. O que você acha?

 

Pitirim pegou o papel e mordendo um pedaço de torrada, passou a ler. O texto dizia assim:

 

"Quando era criança e já bastante gordinho, a molecada do bairro zoava-me muito durante as corridas pelo quarteirão. Eu sempre chegava por último. A gozação era geral: todos subiam na jabuticabeira e eu não podia nem ao menos passar pela segunda forquilha. Confesso a você que até mesmo as escadas conseguia descer. Eu próprio sentia compaixão por minha pessoa. Vá vendo... Mas do rio não é bom falar. Todos chegavam correndo às margens e, aos saltos, entravam n´ água. Saíam nadando, enquanto eu afundava igual a martelo."

 

"Diante desses fatos fui ficando assim meio caseiro, inferiorizado. Aquele senso de dessemelhança que se apossa do fofinho que vive num grupo de magros, obrigou-me a desenvolver a inteligência agressiva e a astúcia exuberante. Eles não contariam com a minha astúcia."

 

"Passei a escrever poesia quando estava supergamado e não tinha coragem para declarar meu amor."

 

"Os dias sucederam-se e eu ficava cada vez mais velho. Comecei a fumar. Pensei que fosse emagrecer com o tal hábito. Mas que nada. A adiposidade em meu corpo aumentou de tal forma que eu já não conseguia mais ver o biribiguá. Mas também pelo tamanho com que ele se apresentava, seria melhor que eu não me lembrasse da sua existência. Era humilhante."

 

"Reuni minhas poesias em alguns livrinhos xerocopiados e passei a oferecer às pessoas. Houve certa aceitação. Pelo menos em tais contatos sociais não haveria tantos rebaixamentos. Eles (os contatos sociais) se davam sob assuntos intelectuais e não por desempenhos físicos. Até aí tudo bem. Não encontrei nenhum concorrente que me pudesse fazer sombra."

 

"Reinei só durante alguns anos em nossa comunidade, sendo conhecido como Ernesto Mail Catão, o poeta pimpão."

 

"Mas você sabe como é: precisamos fazer algo de útil e remunerado durante essa nossa passagem pela terra. Se não, como sobreviveremos, não é verdade?"

 

"Ingressei então, pelo poder e graça dos grandes padrinhos, e por que não dizer, por minha capacidade intrínseca também, no serviço público municipal."

 

"Meu salário era ruim. Era tão minguado que me impedia de ver, e não via mesmo, outra alternativa para reforçar o orçamento, do que a da aceitação de bolas."

 

"A corrupção a que me submetia, quero deixar bem claro, não era prejudicial ao empregador a ponto de o fazer instalar uma CPI e me defenestrar do cargo. Tudo era muito leve e sutil. Espirituosamente sutil."

 

"Os anos passaram e agora, curto o diabetes, responsável pela minha disfunção erétil."

 

"Estou careca, gordo e com o bimbo mole. Mas escrevo minhas poesias. Gosto ainda de contar mentiras e, às ocultas, assoprar os defeitos alheios. Apesar dos laranjas e larápios viverem a dizer que não enxergo a trave no olho próprio."

 

"Nada mal para quem era um gordinho com nádegas flácidas e sem futuro. Não é verdade?"

 

Pitirim Zorror terminou a leitura e tossindo levemente disse:

 

- É bastante significativo. Tem conteúdo. O doutor vai entender que você era inferior e que por isso, para compensar, fazia essa poetagem toda. Seu caso assemelha-se aos demais integrantes dessas seitas malignas. Para ser aceito nelas é preciso estar separado do cônjuge, ser tabagista, obeso, alcoólatra, analfabeto, adolescente ou idiota. As maldades que praticam são compensações pela inferioridade material. Ajudam manter a autoestima.

 

Enquanto falava Pitirim não percebeu a aproximação de um novo interno. Era um sujeito alto, pelancudo, usava bigodes brancos e sujos; seus óculos estavam embaçados. Ele caminhava arrastando a perna direita. Calçava pantufas verdes e sua blusa era azul. O adoentado batia palmas e cantarolava: "É na palma da bota/ É na sola da mão..."

 

Ernesto e Pitirim se entreolharam e sem dizer palavra, saíram correndo a caminho do quarto. Lá no canto, no fundo do armário prata, estavam escondidas as garrafas de filha-de-senhor-de-engenho, néctares muletas que os fariam aguentar as chatices daquilo tudo.

 

Texto publicado originalmente em 14/10/2005 no site usinadeletras

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publicado às 13:07

O Conflito

por Fernando Zocca, em 16.11.10

 

                              Os Evangelhos afirmam que são bem aventurados, dentre outros, os pobres de espírito, pois deles será o reino dos céus.

 

                Quero entender aqui, como pobres de espírito, os analfabetos, que já no tempo de Jesus, medravam aos milhares.

 

                Imagine as ondas sucessivas de indignação, vindas das vísceras populares, ante os ensinamentos daquela criança, que no meio dos experimentados da lei, falava sobre os antigos profetas.

 

                - Mas como é que pode isso, quem deu autoridade, de onde vem esse conhecimento, dessas coisas? – perguntavam os embasbacados senhores dos templos, daquele tempo.

 

                Jesus queria ser profeta, sacerdote e rei, mas não contava com o apoio dos sacerdotes e nem dos políticos. E foi dessas áreas que vieram as tramas que o levaram à crucificação.

 

                Ainda hoje os pobres de espírito podem ter o reino dos céus. Mas se esse reino depender da lei dos homens, alguns analfabetos não poderão entrar.

 

                É o caso do palhaço Tiririca. Eleito com mais de um milhão e trezentos mil votos, identificáveis consigo, esse personagem da história brasileira, pode não usufruir das benesses do cargo, se a lei for seguida a risca.

 

                Veja você o que está na balança: de um lado as intenções de mais de um milhão de pessoas. Do outro as determinações feitas por políticos também alçados aos cargos eletivos, pela vontade popular.

 

                Na minha opinião o próprio interessado deveria resolver esse conflito entre o coração e a razão, entre as normas morais e legais dizendo, numa defesa por escrito, que é bem alfabetizado, tem interesse em ocupar o cargo e como poderia, com seus dotes circenses, auxiliar o progresso da nação brasileira.

                 

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publicado às 19:07