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Van de Oliveira Grogue, Zé Cílio Demorais e Ary Ranha estavam, na tarde de quarta-feira no bar A Tijolada, legitima propriedade do Maçarico, degustando a primeira cerveja, quando Van, olhando de repente, pra porta de entrada disse quase gritando:
- Ih, fica quieto. Para tudo!
- Nossa! O que foi Grogue. Está louco? Você assusta a gente, desse jeito pombas! - queixou-se o Zé Cílio, proprietário do Diário Tupinambiquense.
- Ah... Para com esses chiliques. Ô Grogue, manera aí caramba!!!!! - ralhou Ary Ranha.
- É o bi. - disse em voz baixa o Grogue, depois de levar a mão direita em concha a boca.
- Que bi? - inquiriu Ary Ranha. - Bimotor?
- Bivolt, bissexual? - quis saber o Zé Cílio.
- Não, seus burros. É o Bily Rubina, chefe do gabinete do Jarbas. Ocupa o lugar da vovó Bim Latem. Dizem que ele está namorando a irmã do Donizete Pimenta, o boca de porco, e que está meio pancadão.
- Imagina! - disse Bafão entrando na conversa. - O cara está legal, só exagera um pouquinho demais da conta nas biritas, nada mais que isso.
- Mas, me diga... Quem é mesmo essa vovó Bim Latem? - quis saber o Ary Ranha.
- É só você que não sabe, ô Ranha do inferno. - gritou Maçarico lá do fundo, onde tinha ido buscar mais garrafas de cerveja.
- A vovó Bim Latem foi a criadora do primeiro homem bomba tupinambiquense. - informou o Zé Cílio Demorais. - Nosso jornal fez várias matérias sobre o assunto. Está tudo documentado.
- É sim, seu zé arruela, saiba que o jornalismo é o rascunho da história. - afirmou Van Grogue, olhando o Ary bem nos olhos.
Enquanto confabulavam, Bily Rubina, caminhando lentamente, aproximava-se do grupo.
- Eu quero saber quem é o lazarento que tá espalhando pra cidade inteira que a polícia apreendeu os computadores do gabinete! - intimou o Bily, que chegava bufando feito uma maria-fumaça.
- Aqui ninguém mexe com política. - defendeu-se Van de Oliveira.
- Eu nem sabia que tinha polícia na cidade. - reforçou Ary Ranha. - Meu pai alugava uma casa pros "home", que faziam escuta telefônica e invasão de computador, de uns vizinhos, uma certa ocasião. Mas isso faz muito tempo. Naquela época meu pai bebia muito. Eu nem sei. Mas e daí, Bafão a polícia está investigando o Jarbas?
- Está nada. Esses bocudos inventam cada uma que eu vou te falar. Não é fácil, viu?
- O que é que vai ser seu Bily? - quis saber o Maçarico segurando uma garrafa de 51.
- Me dê um Campari.
Zé Cílio, Ary Ranha e Van Grogue entreolharam-se surpresos. Maçarico procurou na prateleira uma garrafa da tal bebida. Ele sabia que tinha, mas não lembrava onde a guardara. Por demorar mais tempo na localização, recebeu a solidariedade dos fregueses, que o ajudavam, olhando também as garrafas enfileiradas mais no alto.
- Serve Menta? - arriscou Maçarico sem muito ânimo para as procuras demoradas.
- Lá em cima. Estou vendo. Aquela ali com o rótulo amarelado. - Gritou Ary Ranha apontando o objeto.
Enquanto todos permaneciam atentos na busca do pedido do Bily, entrou no recinto a Luísa Fernanda ostentando todo o seu charme contido naquele 1,64m de altura.
- Seu Maçarico! Tenho pressa. Quero um litro de leite, um maço de cigarros, cinco filões e 500 gramas de mortadela. Por gentileza, quero ser atendida o mais rápidamente possível. Meu marido o Célio Justinho está nervosíssimo. Ele deu até um pontapé violentíssimo na Magna, a nossa cadela de estimação.
Os homens pararam e olharam a figura estranha, que desejava ser atendida, antes mesmo do que todos os que chegaram primeiro.
- Mas, como eu estava dizendo... A polícia não encontrará nada de errado na prefeitura. - disse o Bily Rubina procurando reatar a conversa.
- Ah, mas o Jarbas é um poço de honestidade. - garantiu o Zé Cílio Demorais. - E olha, não digo isso só porque a prefeitura publica frequentemente, editais imensos no Diário. O cara é caxias mesmo.
- O quê? Jarbas não tem culpa no cartório? - reagiu indignada a Luísa Fernanda. Pois saibam que eu e meu marido Célio Justinho fizemos a maior queixa contra esse homem. Ele será cassado. Quem viver verá. Ninguém pinta como eu pinto. Alguém aqui pinta do jeito que eu pinto? E a minha mortadela? Sai ou não sai... Caramba!
- Mesmo que mal lhe pergunte, minha nobre senhora: o seu Célio ainda tem aquele teclado velho? - perguntou à meia voz, o Van Grogue.
- Deve estar naqueles dias. - cochichou Ary Ranha pros amigos.
- O senhor prefeito não tem nada a temer. Saiba a senhora e seu marido também. O seu Célio Justinho é um gerente bancário que vive tentando tirar, de ouvido, o hino do Corinthians, que eu bem sei. - afirmou, com voz empolada, o Bily Rubina.
Num ataque de fúria incontida, Luísa Fernanda não esperou para pegar as coisas que havia pedido. Soltando vários palavrões, ela saiu do bar pisando firme e sem olhar pra trás.
Quando passou a pé, defronte a casa do Maçarico, ela tirou, de uma pequena bolsa, um pacotinho de sementes de tomate; rasgando-o com muita violência, jogou todo o conteúdo - numa espécie de simpatia - no jardim da casa do comerciante, dono do boteco A Tijolada.
- E o doutor Silly Kone, o nosso querido psiquiatra, por onde anda? - quis saber o Zé Cílio.
- Ele vai ter muito trabalho. - garantiu Van Grogue.
- Com certeza. - confirmou o dono do botequim.
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Mudando de assunto:
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Naquele sábado de manhã Célio Justinho levantou-se com uma ressaca terrível. Ele, Adam Olly, o doutor Silly Kone e Edgar Sá, passaram mais de três horas bebendo o que conseguiram no bar do Bafão.
Aos mal-estares da bebedeira, somavam-se a preocupação de Célio com o ensaio que ele e os integrantes da Bandadubo, fariam naquela tarde, no quintal da casa.
- Luísa Fernanda! – gritou Célio assim que entrou no banheiro, vindo do quarto abafado – Onde está criatura, o sabonete dessa joça?
Luisa Fernanda, na sala, falava ao telefone com a vovó Bim Latem, que a convidava para uma reunião a ser feita na segunda-feira à noite.
- Olha, não sei – dizia Luisa Fernanda ao telefone.
- Como não sabe criatura? Eu não mandei você comprar um novo lá no boteco ontem? – esbravejou Justinho, ainda cambaleante, no banheiro.
- A senhora sabe muito bem que no banco o pessoal pega no meu pé, não é? E tudo por causa daquela oficina de um ano, que tive de fazer depois que a diretoria trocou as guias amarelas pelas verdes. Lembra-se daquela papelada que eu carimbava todos os dias? Então...
- Mas que mané papelada Luísa? Deixa de ser burra. Eu quero um sabonete! – esgoelava Célio Justinho.
A cachorra Poodle Magna que, deitada ao sol na borda da piscina, ao ouvir os gritos ressoantes pela casa, iniciou uma caçada às pulgas que mantinha no cangote. Usando a pata traseira direita ela coçava-se com sofreguidão.
Ao perceber que não seria atendido, Célio resolveu ele mesmo procurar pelo objeto que precisava. Saiu e, abrindo com vigor maior do que o usual, a porta da despensa, apanhou o sabonete.
Caminhando de volta, resmungando desaforos, ele quase caiu ao tropeçar no tapete fixado defronte a porta do banheiro.
Por volta das 16 horas o pessoal da Bandadubo começou a chegar. Não vinham todos juntos, mas aqueles que aportavam primeiro paravam seus carros na frente da casa da Luisa Fernanda; meia hora depois havia oito veículos estacionados naquele trecho do quarteirão.
Ao vozerio e aos ruídos dos instrumentos sendo instalados ao lado da piscina, se juntavam os latidos estridentes da Magna, agora completamente enlouquecida com a perda do sossego.
Célio mandou vir cerveja e uma garrafa de pinga que deixou na mesa estrategicamente resguardada dos raios solares.
Na bateria acomodou-se Silly Kone que, com toques ligeiros, testava o som das caixas. No baixo, Pery Kitto fazia vibrar as cordas grossas usando o indicador e o médio da mão direita.
Na guitarra Billy Rubina que estreava uma palheta nova, para tanger as cordas de aço, disfarçadamente tentava também afastar Magna, que rosnando, buscava o pé direito do músico.
No vocal, testando o microfone, estava Van Grogue, o biriteiro mais querido de Tupinambicas das Linhas.
- Testando... 1,2. Teste. 1,2. Som... Som. 1, 2. Som... Som. Alô. Som. 1,2. Som – dizia Van de Oliveira, com a voz monocórdica, ao microfone encostado no queixo, logo abaixo do lábio inferior.
Depois de longos e terríveis cinco minutos de teste do microfone Luísa Fernanda, completamente descabelada, adentrou o local onde se dava a reunião e disse:
_ Mas que puta que o pariu é essa? Tenha a santa paciência Van! Pelo amor da sua pinga. Você está querendo torturar a vizinhança? Não é possível! Veja que nem pardal fica perto dessa zoeira. Para com isso porra!
Sentindo-se vexado pela reprimenda que a mulher fazia ao companheiro, Célio Justinho tentou esfriar os ânimos da nervosa Luisa:
- Calma, bem. Isso é praxe. Você sabe que os músicos têm esse hábito de testar os microfones. Nada mais que isso.
- Pô! Mas o cara já bateu com os dedos na coisa, já assoprou, contou até dois, disse “trocentos” som e ainda fica nessa? Qual é Van? Está tirando com a minha cara? – gritou Luiza com o rosto todo avermelhado pela ira.
As pessoas do quarteirão e os parentes mais próximos já sabiam que Luísa tinha mesmo esses rompantes irracionais. Alguns afirmavam que quando ela não tinha ninguém pra descarregar a raiva, acalmava-se varrendo as calçadas do quarteirão todo com a sua vassoura especial.
Demonstrando certa insensibilidade às críticas lançadas Van continuou o teste:
- Som... Som... Som. Teste, 1,2, som. Som. Som, testando. Som.
Tomada por um acesso avassalador de histeria Luisa saiu do quintal arrastando tudo o que havia na sua frente. Algumas caixas de cerveja empilhadas ao lado da porta de correr, que separava o quintal e a cozinha da casa, ao receberem o choque causado pelo encontrão da “Irene Tupinambiquence”, começou a desabar. Magna estava embaixo.
Tomado por aquele seu instinto de goleiro, Van largando o microfone, deu um salto magistral fazendo uma espécie de ponte superfaturada, com a qual desviou o caixote que esboroaria o cocuruto da cadela.
Luisa Fernanda percebendo o gesto heroico do biriteiro desmanchou-se em salamaleques de profundo respeito.
- Van, me desculpa. Você é meu herói. – disse Luisa choramingando ao ir para a cozinha com a cachorra no colo.
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