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Engatinhando pela calçada

por Fernando Zocca, em 12.10.15

 

Vira e mexe a gente se depara com as notícias de que encontraram um bebê abandonado.
Então nos locais mais bizarros não é incomum acharem recém-nascidos deixados ali pelo medo.
Embalados nas caixas de sapatos, sacos plásticos ou somente envoltos em alguns panos sujos, jogados nas lixeiras, cemitérios, lagoas ou soleiras das portas, os frutos dos relacionamentos condenáveis, podem jazer ali por longos períodos de tempo.
Geralmente é desse jeito que os filhos naturais (de pais solteiros), ou adulterinos (quando um dos pais é casado com outra pessoa), cujas presenças atrairiam enorme avalanche de acusações, começam a vida.
Alguma sorte os acompanham quando não encontram a morte nas bacias das privadas, ou são devorados pelos animais nas matas.
Imagine a pressão sofrida pelo pai da adolescente que, tendo engravidado de um sujeito da vizinhança, não consegue mais encontrá-lo, a fim de providenciar a reparação com o casamento.
Acrescente aos sofrimentos dos pais da mocinha grávida, os fatos de morarem sob a moral provinciana do interior de São Paulo, em meados de 1960.
E se os avós, daquele neto inesperado, dependessem da opinião pública favorável, por tirarem o seu sustento do comércio de medicamentos duma farmácia, as chances da tal fonte de subsistência mirrarem, aumentariam imensamente.
Mas a criança indesejada, que apareceu assim, sem querer, conseguindo sobreviver à tentação do abandono, vivendo agora com a mãe e os avós maternos, pode não receber as atenções necessárias para o desenvolvimento natural e saudável.
Então seria frustrante para a família contrariada, com a presença daquele ser pequenino, ainda envolto em fraldas, de aproximadamente dois anos que, engatinhando pela calçada, fosse parar atrás da roda traseira direita de um caminhão basculante, estacionado defronte ao bar vizinho, não morresse esmagada.
É claro que o desgosto do vexame, causado pela presença da criatura inesperada, se voltaria contra aqueles que, ao verem o motorista ligar o caminhão, alertaram-no, avisando que atrás do seu veículo, havia um neném.
Àqueles que considerariam ser inegável o amor dos avós maternos e da mãe natural ao pequenino ser, restaria atribuir ao pai da criança, ou aos seus familiares, o desejo do desaparecimento dele. Só assim se livrariam da obrigação de ajudar no sustento.
Então o desespero e o ódio, causados pelo reconhecimento e obrigação inescapável, de trabalhar para sustentar o filho, se voltariam - na forma de perseguições e armadilhas - contra os que teriam impedido o caminhão de iniciar o seu movimento fatal.
Mesmo sendo um deles o menino que, no grupo escolar, começava aprender a ler e a escrever.

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publicado às 15:22

A Casa é Minha

por Fernando Zocca, em 02.07.15

 

 

 

 

Da mesma forma que aquele que não vê a remela no próprio olho apontando, com insistência, o formato do olho alheio, a oposição, descuidando dos delitos praticados por si, cacareja os supostos desvios do governo.
E se, é claro, a oposição inquieta, reivindicativa e querelante pratica (ou praticou) o que condena, será indubitavelmente, também condenada.
Faz parte do ônus da vitória ter de suportar o descontentamento dos vencidos. Mas vem cá… Criticar só por criticar, não tem outro sentido do que o de demonstrar certa inquietude patológica.
Imagina se tem cabimento culpar o defensor pela condenação do réu, sabida e comprovadamente, cometedor do crime?
A pena do delito criminal é circunscrita ao criminoso. Por exemplo: não pode ser isento do castigo aquele que, por ter alguém xingado sua mãe, dentro do ônibus, atropela propositalmente um cachorro, rouba a corrente de ouro de uma transeunte ou dispara contra o proprietário do trailer de lanches.
Imagine se “cola” justificar os crimes dizendo que fez isso tudo por estar ofendido, sua mãe foi xingada, ou blasfemaram.
Da mesma forma, ressalvadas as devidas proporções e os nexos, que culpa teria o administrador público, nos crimes praticados por alguém nomeado antes, por ele, com base nas informações de que era um ótimo funcionário?
Num destes dias o presidente dos Estados Unidos Barack Obama discursava, na Casa Branca, sobre a aceitação, pelos tribunais norte-americanos, dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
Durante a sua fala alguém começou a protestar insistentemente, quando então o presidente disse que ele – o que protestava – estava na casa dele – Obama – e que portanto deveria calar-se.
E é mais ou menos isso; é por aí. Enquanto o ocupante do cargo estiver legalmente exercendo a função, é ele quem manda. A casa é dele.
E não adiantam as tentativas de desalojamento com calúnias sob temas de pedofilia, inadimplência ou blasfêmia. Se querem a devolução da casa, o desalojamento dos seus ocupantes, é melhor procurar as vias legais, tipo impeachment, se houverem motivos, é claro.
Hoje o cidadão com 16 anos já tem noção do que seja certo ou errado, lícito ou ilícito, portanto deve responder criminalmente por seus atos. A ignorância – desde os tempos da Roma antiga – não exime ninguém das penas.
Cabe ao Judiciário, diante dos casos concretos, reais, analisar as provas, tanto as contrárias, quanto as favoráveis, existentes em relação aos acusados com 16 anos.

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publicado às 20:46

Crianças esgoelantes

por Fernando Zocca, em 29.08.14

 

 

O efeito causado foi o de crianças esgoelantes voando escada abaixo e desembestando pelo quintal afora até a rua

 

 

 

 

Eu tinha um primo (Deus o tenha em bom lugar), que gostava de tomar Biotônico Fontoura (quem não se lembra?), fazer exercícios puxando elásticos, e socar a mesa da cozinha, de vez em quando. 

Ele dormia bastante durante o dia. Além de consertar aparelhos de rádio, eletrolas e TVs, o cidadão praticamente não se preocupava com mais nada.

Um dia quando a molecada fazia a maior zoeira na cozinha da casa da minha tia (irmã do meu pai), o primo saiu do quarto vestindo uma camiseta regata branca, short azul e dando um grito tipo "banzai", esmurrou o centro da mesa.

O efeito causado foi o de crianças esgoelantes voando escada abaixo e desembestando pelo quintal afora até a rua.  

Crianças são sugestionáveis e esse gesto foi repetido por mim em algumas ocasiões. O soco na mesa de ping-pong, depois de não se sabe o quê ter acontecido, causou um edema feio na mão direita, havendo a necessidade da imobilização com faixas.

Na segunda ocasião, durante uma aula de processo civil, na universidade, um zunzumzum promovido por tagarelas reunidas e sentadas no corredor, do lado de fora da sala de aulas, obteve uma pancada forte numa das carteiras onde a traquinas chefe zunia.

O susto reduziu o volume da fofoca, possibilitando o entendimento da aula do professor. 

Você sabe que uma batida inesperada na mesa da cozinha acompanhada de um palavrão tipo corno, por exemplo, dito com muita ênfase produz um efeito devastador. Este pode ser mais terrível ainda se a vítima é um parente visitante demonstrando calma, que aguarda a sua presença.

Tudo pode ficar mais chato ainda se esse seu parente tentar, num desdobramento do fato, durante muito e muito tempo, fazer você sentir-se o verdadeiro corno.  

A pancada na mesa de vidro não é producente a não ser que o punho esteja equipado com um machado.  

O gesto de espancar algo pode deixar de ser negativo quando, por exemplo, é usado nos programas de TV, como no The Voice Brasil. 

Lá o cantor experiente, espalmando com certa força o botão, faz voltar a cadeira para o candidato que o agrada.

Legal, né?   

 

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publicado às 02:37

O Cavaleiro das Trevas

por Fernando Zocca, em 25.07.14

 

 

Quase todos sabem que a vida sedentária, isto é, aquela em que a pessoa fica muito tempo sentada ou parada, não faz bem para a saúde.

As consequências para aqueles que não se mexem são bastante desagradáveis. Uma delas é a obesidade. Depois disso, a pressão alta, o diabetes, os riscos maiores de infartos e os derrames cerebrais estarão sempre presentes. 

Sabedor disso eu vou, pelos menos quatro vezes por semana, até a área de lazer do Piracicamirim, onde corro durante uma hora. 

Não é uma corrida desabalada vista comumente nos campos de futebol. Os entendidos no assunto denominam o estilo de "trote"; seu ritmo é mais rápido do que o passo comum e mais lento comparado com o chamado galope.

Depois do exercício geralmente eu me sento num daqueles bancos até baixar a temperatura e o ritmo cardíaco voltar ao normal. 

Numa destas ocasiões sentou-se ao meu lado um cidadão magro, de estatura mediana; ele tinha os cabelos já embranquecidos, usava óculos de grau, vestia camisa de mangas longas  donde tirou um maço de cigarros, sacou um deles e acendeu-o com o isqueiro, que buscou no bolso da calça social cinza. 

Depois da baforada, que soltou sobre a minha cabeça suada, ele me perguntou:

- Vejo sempre você correndo por aqui. Como faz isso?

Eu lhe expliquei que antes de correr é preciso reaprender a caminhar. Para os que estão acostumados a locomover-se sentados, nos sofás dos carros, é bom começar fazendo trajetos curtos. Depois então é que se iniciam as corridas.

- Você é de Piracicaba? - ele me perguntou.

- Sou sim - respondi-lhe - moro aqui há mais de 60 anos.

- Eu também sou nascido e criado nesta terra. Sou funcionário afastado da prefeitura por causa do nervo ciático - contou ele soltando outra baforada para o meu lado,  -  mas no meu tempo de moleque não tinha esse tipo de diversão, essas áreas de lazer. A gente ia quase sempre para os ranchos de pescaria.

Eu então me lembrei de que há muito e muito tempo frequentava, de vez em quando, o rancho de pescaria de uns amigos. 

- Quando criança - continuou o funcionário - depois que meu pai se desentendeu com os irmãos dele a gente foi morar numa casa bem simples que estava desocupada. Meu pai colocou forro, soalho e fez outras reformas. Os parentes dele diziam que ele era o Batman, sabe o Batman, o cavaleiro das trevas? Falavam assim porque, segundo eles, meu pai, quando brigava, batia muito. Ele era o Batman e eu o Robin. Sabe aqueles dos gibis?

- É claro que sei. Eu colecionava gibis e trocava os repetidos, antes do início das sessões da tarde, nos cinemas naquela época. 

- Então, numa ocasião - continuou o meu mais recente confidente - um dos meus tios me convidou para passear de caminhão. Ele me disse que eu deveria ir na carroceria, que era de madeira. Eu tinha, acho que uns 10 ou 11 anos. Logo que subi na carroceria onde ia de pé e sozinho, vi um pano acetinado preto, jogado num dos cantos. Era uma espécie de capa. Sabe aquela do Robin?

- Sim sei.

- Então... Coloquei ela na costa e amarrei as duas pontas no pescoço. Ela tremulava com o movimento do caminhão. Ficava até bacana. Quando passamos perto da Rua do Porto, onde havia um grupo de pessoas, algumas delas gritaram "ei, mascarado!!!"; isso me deixou bem, mas bem chateado mesmo.

Eu percebi, naquele momento que o cigarro do meu interlocutor já havia chegado ao limite, quando então ele acendeu outro e continuou:

- Depois que a gente mudou para aquela casa que foi reformada por meu pai, logo em seguida uma outra família veio morar na vizinhança. O casal tinha quatro filhos. Três meninas e um menino. Eram todos ainda muito crianças. Mas fizemos amizade e eu ia mais na casa deles do que eles vinham na minha. Numa tarde, não sei porque (acho que por excitação, sabe... Tesão mesmo?) eu convidei uma delas pra brincar de médico. Ela ficou na dúvida. Então eu expliquei que ela seria a paciente e eu o doutor que a examinaria. Ela teria que tirar a roupa; só assim a brincadeira daria certo. A menina ao invés de me dar uma resposta foi consultar a irmã mais nova. Esta, por sua vez, resolveu perguntar para a mais velha. Se ela permitisse, ai sim, então a gente brincaria.

Eu estapeava os mosquitos quando então o funcionário afastado, por causa do ciático inflamado, continuou:

- A irmã mais velha, olhando-me de cima pra baixo, bem desconfiada e com certa zanga, chamou todo mundo e atraindo-nos para defronte a escada que ficava bem na frente do quarto de dormir dos pais dela, sentar-se num dos degraus e, com ar sério de autoridade, ouvir minhas explicações, sobre a brincadeira, disse que não permitiria que isso acontecesse. Mas de jeito nenhum. Eu fiquei muito chocado, contrariado, com cara de tacho. Bom, passou bastante tempo, até que recebi na minha casa a visita do meu coleguinha, irmão das meninas. Ele me convidava pra ir ao rancho de pescarias junto com o pai dele. A gente tinha que sair bem cedo. E foi isso mesmo o que aconteceu. Não me lembro se fomos de ônibus. Mas acho que percorremos uma parte de ônibus e outra, nós fizemos a pé. Quando chegamos lá e quando o paizão abriu a porta do digamos, barraco, o odor era muito desagradável. Ele então abriu as janelas e o clima melhorou. Bom, quando a noitinha vinha chegando ele resolveu fazer a janta. Para isso deveria lavar alguns objetos. Sabe aquela tralha de cozinha? Ele pegou uma frigideira, que continha resíduos de óleo e peixes, chamando-me até a escada que ficava na margem do rio, e sentando-se num dos degraus, pôs-se a, ostensivamente, esfregar limão no recipiente. Logo depois pegando areia do barranco passou a arear a frigideira. Sabe, foi a ênfase que ele pôs nos gestos que me deixou com a pulga atrás da orelha. Quando a noite chegou, o paizão chamou-nos, eu e o filho dele, pra frente da porta que dava pro terreiro pelo qual se devia passar pra chegar às margens do rio. Havia ali um bambuzal. Ele pegou uma vara grande, fina, bem comprida, e a sacudindo com força, fez com que os morcegos, que voavam por ali, se chocassem contra ela. Um dos morcegos, filhotinho ainda, caiu aos nossos pés. Ele então pegou, pela ponta da asa, o bichinho morto e mostrando-nos disse: "Está vendo como é?" Você sabe, eu sou bem retardado, demoro muito para entender as coisas, pra ligar lé com lé, cré com cré. Entende? Eu não imaginava o que o pai fera estava querendo dizer com aquilo tudo. Naquela noite, depois de tomar um café super forte, acho que coado na cueca do meu coleguinha, não dormi até o dia seguinte. Não sei, não tenho certeza, mas acho que foi naquela madrugada que começaram as minhas dores de cabeça e a insônia crônicas. 

- Mas agora você conseguiu sarar da insônia? Está curado disso? - perguntei me preparando para voltar para casa.

- É claro que hoje eu durmo normalmente. Não sofro mais por causa disso. Agora o que me incomoda é esse nervo ciático que não me dá trégua.

- Um dia, quem sabe, quando você sarar, poderá andar bem e até correr assim com eu faço hoje - disse-lhe.

- É verdade amigo. Tenho que parar como cigarro e a pinga. Não parece, mas é a "marvada" que me atrapalha - revelou ele. 

Cansado mas satisfeito, levantei-me e despedindo-me do meu mais novo colega, contador de histórias, fui direto para casa, onde um banho bem quentinho me aguardava.

 

 

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publicado às 03:07

O saguizinho bigodudo

por Fernando Zocca, em 17.07.14

 

 

Muita gente considera as reeleições sucessivas - às vezes cinco ou seis - dessa gente habituada a usufruir os bônus dos cargos públicos, como resultado das fraudes magistrais. 

No passado não muito distante, da história brasileira, houveram até revoluções onde muitos pereceram, ou foram mutilados, quando da preterição dos seus direitos às sinecuras centenárias. 

Há quem agradeça, entretanto, a redução sensível, do nível da violência empregada usualmente nesta área da atividade humana.

O chavão "manda quem pode, obedece quem tem juízo" usado durante séculos pelos coronéis do sertão e interior do Brasil, expressa a realidade inegável do uso da força bruta para a manutenção do poder. 

As mudanças tecnológicas, de certa forma, proporcionaram a troca gradativa do uso das pancadas, lesões corporais e até das mortes, por satisfações emocionais (e libidinais) frenadoras das oposições ferrenhas. 

Os anticoncepcionais, as camisinhas e a miríade de opções do arsenal farmacológico, a disposição do controle das doenças venéreas, vieram facilitar as estratégias de apaziguamento dos inconformados. 

Hoje, faz-se mais amor do que guerra. Isso é bom pelo fato de também alavancar tudo o que envolve as situações. A mídia se farta com os assuntos, a indústria de cosméticos vende horrores, viagens realizam-se facilmente, conceitos e opiniões pululam nos meios de comunicação, roupas e modas reformulam-se desenvolvendo as atividades construtivas. 

E o nosso saguizinho bigodudo ainda continua lá, na cadeira da presidência, por mais quatro anos e seus 48 salários.

A carência da vocação para safadezas é, de certa forma, um óbice à candidatura de gente que gostaria de vivenciar esse lado profissional da arte de ganhar muito dinheiro e não fazer nada. 

O cidadão comum levanta cedo, toma um café chinfrim, espera durante horas o ônibus, sacoleja-se durante outras horas sofridas no trajeto para chegar ao trabalho, produz bens de consumo palpáveis e, no fim do dia submete-se à mesma rotina torturante em troca de, no final do mês, um salário risível. 

O nosso homem político, ao contrário, com as verbas de gabinete, salários e falcatruas mil, que recebe em troca dos lero-leros parlamentares, pavoneia-se, exibe-se, humilha o povo, faz e desfaz.

Você já imaginou quanta incivilidade poder-se-ia reduzir usando os salários de um deputado federal ou senador?

O dinheiro usado para pagar esses políticos profissionais é muito mal empregado pela sociedade brasileira. Se fosse utilizado para melhorar os salários dos professores responsáveis pela educação e civilização das crianças, excepcionais ou não, o sucesso do Brasil seria mais louvável. 

Ou seja, um senador ou deputado federal ganha muito pra não fazer nada ou fazer menos do que faria o professor responsável pelo polimento das crianças.

Civilidade, bons modos, respeito aos mais velhos, às mulheres, às crianças, são mais indispensáveis à coesão social, do que um senador ou deputado federal. 

 

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publicado às 12:31

Razão e Emoção

por Fernando Zocca, em 26.02.13


 

O que leva um sujeito, ou um grupo de pessoas, a acreditar que dançando ou proferindo certas palavras, podem desencadear fenômenos como chuvas, maremotos ou até mesmo terremotos?


Um conjunto de valores baseados em crenças e superstições, que atribuem nexo causal (ação e reação, motivação e atitudes), de acontecimentos bem distantes, estaria entre o material dessa construção bizarra.


A confiança nos superpoderes capazes de destruir, por exemplo, com palavras maldosas, os desafetos é bem comum nas mentes psicóticas extremamente agressivas.


Os usuários de drogas, analfabetos, refratários aos ensinamentos de boa conduta, da convivência pacífica, teriam especial suscetibilidade para, dando vazão a esse tipo de mentalidade mágica, desenvolver a fala automática, em que predominam as estereotipias incansáveis.


E não há como cobrar dos pais ou parentes mais próximos a dignificação do comportamento mais respeitoso, na medida em que o próprio grupo familiar compõe-se da mesma argamassa.


Você observa nesses grupamentos obsessores a má formação genética, uma espécie de herança maldita ou maligna, à qual se somam os maus hábitos como o tabagismo e o alcoolismo redundantes nos comportamentos hostis.


É claro que o poder público tem acentuada culpa na proliferação dessas ações incivilizadas, quando é incompetente para distribuir o conhecimento por meio do ensino municipal.


Governo que só pensa em aplicar, as verbas que recebe, na construção de obras de concreto, não tem tempo, nem disposição, para aprimorar a qualidade da educação no município.


Educação é verbo, palavra, razão. As palavras, que foram o princípio, servem inclusive para civilizar. Ou não?


Onde predomina única e exclusivamente a emoção, (“o coração”), prevalecem os sentimentos mais vis como o ódio, a inveja, o ciúme e o revanchismo. Nas doenças mentais relacionadas ao afeto o que menos se nota é a razão.


Com esse tipo de emoção, paixão, “coração”, atestado da incompetência evangelizadora dos supostos responsáveis, a paz na comunidade é praticamente impossível.


26/02/2013

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publicado às 18:03

Contra os Cruéis, a Crueldade

por Fernando Zocca, em 23.01.13

 

 

 

Não pode o rico saber o que sente o pobre, pois seus ambientes, hábitos e consumo, são bem diferentes.


Nem mesmo os experts nos exercícios da empatia seriam muito assertivos ao descrever estas realidades tão distintas.


É bem por isso que os mais afortunados não entendem, ou custam muito a compreender, os reclamos das pessoas mais humildes.


Para os saciados, que desde que acordam têm suas necessidades básicas satisfeitas, é complicado imaginar gente que não usa, ou muito raramente, vale-se diariamente, dos produtos destinados à higiene pessoal.


Como é que o sujeito habituado a ir e a voltar do trabalho, usando o carro, pode se solidarizar com o semelhante que precisa acordar muitas horas mais cedo, pra esperar o ônibus e gastar um tempão extra nos seus deslocamentos?


Não tem como o milionário achar que o aumento da tarifa de ônibus possa ser prejudicial ao trabalhador que percebe um salário mínimo mensal.


Uma cidade governada por milionários, com certeza, terá dificuldades em desenvolver programas básicos de saúde, transporte público, segurança e educação para o povo.


Então você pode ver na urbe muito asfalto novo, pontes, viadutos e dezenas de outras obras feitas com cimento, cal, areia, água, brita e ferro, mas com os atendimentos bastante deficientes, naqueles setores desamparados.


Os milionários que governam a cidade deveriam gastar um pouco do seu rico tempinho em visitar a periferia, atestar como anda a recepção nos postos de saúde, o que sente e pensa o usuário do transporte coletivo, o que dizem as crianças que se alfabetizam e o que acham as que deixaram as escolas.


Ser pobre não é demérito nenhum. Mas às vezes esta condição social é usada para justificar as mais cruéis formas de agressão e expressão da malignidade dos portadores das terríveis afecções mentais.


Contra os cruéis a sociedade deve usar a crueldade. Não tem como ser diferente. Não tem como pacificar, educar e sanar, se não for assim.


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publicado às 12:04

Roubando o Cachorro

por Fernando Zocca, em 26.07.12

 

Criança mimada não deixa de ser um problema. Chega um momento da relação genitora filho, por exemplo, que diante do "emburramento" do guri, a mãe, às vezes, vê-se obrigada a prometer coisas ou a fazer concessões nem sempre legais.


Quando as vontades se opõem, e a fim de obter a anuência do infante, se a mamãe concordar com os desejos feridores dos direitos alheios, sinalizará uma certa fraqueza moral, servindo também de exemplo negativo para a criança que tenderá, no futuro, a repetir o comportamento.


Essas atitudes complacentes da mamãe contribuirão também para a má formação do seu descendente, se diante das situações conscientes de cleptomania, não corrige o filho, no momento exato do deslize.


O senso de justiça da progenitora responsável, certamente rejeitaria, por exemplo, que o filho, tomado pela paixão avassaladora, tentasse levar para casa um cachorro que lhe aparecesse pela frente, na rua, durante um passeio.


E não deixa de agravar a situação, a atitude materna que ao invés de reconhecer o erro, procura atribuí-lo a quem não tem nada a ver com o babado.


É claro que o quadro se complicaria ainda mais se o tal cachorro é mal tratado e ainda por cima abandonado na rua.


Seria muito mais fácil para a mamãe "bondosa" suportar as crises de teimosia do filhote mimado, do que aguentar depois, todas as consequências terríveis da sua benevolência.


Há quem ache que não pagar o café consumido num balcão seja semelhante a levar, “às ocultas”, no porta-malas do carro, o cachorrinho estimadíssimo por seu dono legítimo.


O reconhecimento do equívoco, tanto pela mamãe quanto pelo filhote, e o firme propósito de não cometê-lo novamente, contribuiriam para a vivência de momentos mais livres das influências negativas que certamente procurariam tirar proveito do caso.


Existem mulheres que, para vingar-se das surras dadas por maridos alcoólatras, enfeitam-lhes a testa com galhadas imensas.


Mas isso já é outra história e fica para uma nova oportunidade.  

 

 

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publicado às 12:46

A Felicidade dos Mestres

por Fernando Zocca, em 27.10.11

 

               Os cientista e pesquisadores do mundo todo afirmam que logo a terra terá sete bilhões de pessoas. Isso implica em questões que envolvem a ocupação de espaço, produção de alimentos e também de trabalho.

        As crianças que virão ao mundo precisarão de cuidados básicos, sem os quais o amplo desenvolvimento físico e mental delas tornar-se-á deficiente.

        Numa família sadia, harmoniosa, ordeira, o progresso do novo ser é facilitado, ao contrário do que ocorreria, se naquele ambiente familiar prevalecesse a crueldade, a violência e a insensatez.

        A imaturidade dos pais contribui também para a formação psicológica do neném que chegará mudando, de uma vez por todas, os hábitos dos seus antecessores.

        A criança é formada com o material genético dos pais. Terá as feições de ambos, mas pode prevalecer a de um deles. Não é rara a ocorrência da predominância dos genes dos antepassados.  

        Assim, se um dos avós tem olhos azuis, a criança poderá nascer com essa característica. Se na parentela da mãe há a ocorrência da síndrome de Down, durante a formação do feto, essa entidade pode se manifestar.

        Logo depois do nascimento, o neném terá sua estrutura psicológica básica formada pelo ambiente comportamental dos avós, pais, tios, e irmãos. Não é a toa que se diz, há muito tempo que “filho de peixe, peixinho é”. 

        A criança terá um conjunto de valores e poderá responder aos estímulos da vida, praticamente da mesma forma que os pais. 

        É a vida social que se inicia no relacionamento com os vizinhos, na igreja e na escola, que as tendências psicológicas são realçadas. Se os mestres não forem felizes em burilar o espírito, de forma a socializá-lo, com certeza as disposições instintivas familiares prevalecerão.

        Dessa forma a parentela dos que aprenderam a ganhar dinheiro recolhendo lixo, tentando “endireitar” tudo com marteladas ou tijoladas, pode presenciar a repetição desses gestos incivis.

27/10/11  

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publicado às 19:05

Batendo em Crianças

por Fernando Zocca, em 12.04.11

 

 

                        Se as autoridades civis e religiosas não interferirem em alguns casos de violência contra crianças, praticadas por familiares, certamente muitas delas não chegarão à idade adulta gozando da plena saúde física e mental.

                        Podemos entender que a não intervenção dos padrinhos, tios, e avós, tanto dos enteados quanto dos padrastos, tenha como fundamento, o desejo de que os problemas surgidos sejam resolvidos por eles mesmos.

                        Os conflitos entre um padrasto adulto e um enteado, com aproximadamente 10 anos, portador de certa deficiência, podem não terminar bem para o menor se o padrasto tiver um nível nulo de escolaridade, fizer uso abusivo do álcool e acreditar que tudo o que está amassado deve ser consertado à marteladas.

                        Os modos grosseiros do padrasto insensível sujeitam o enteado desprotegido, aos terríveis sofrimentos desnecessários. A desculpa de que esse crime de maus tratos é um carma a ser experienciado pela vítima indefesa, serve para manter as testemunhas responsáveis a certa distância.

                        O analfabetismo cerra as luzes morais e religiosas que poderiam amenizar a situação. Tomado pela circunstância na qual o próprio agressor sofreu também na sua infância, a violência do pai bêbado, usa ele agora o mesmo método aprendido.

                        Alguém poderia alegar que um pai alcoólatra batendo na própria filha adolescente, tentando conter nela os impulsos da idade, seria até mais trágico do que o padrasto desejoso de controlar o enteado com a violência moral e pancadas.

                        Em ambos os casos as autoridades e os responsáveis mais próximos deveriam intervir. Tanto na situação horrenda em que o pai espanca a filha e a esposa, quanto na do padrasto que subjuga o enteado.   

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publicado às 16:26