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Indicador

por Fernando Zocca, em 22.03.16

 

 

 

Durante uma das minhas idas ao parque do Piracicamirim, onde corro todos os dias, encontrei-me com um conhecido que há muito tempo não via.

Ele vinha no sentido contrário ao meu; paramos perto de uma pinguela que fica quase defronte ao clube Cristóvão Colombo.

O camarada era daqueles que gosta muito de conversar; como não nos falávamos desde os tempos da militância no Fórum Trabalhista os assuntos fluíam com a maior facilidade e alegria.

Naquele momento, manhã clara e quente, na Avenida Alberto Vollet Sachs, uma vontade antiga, imensa de saber, sempre contida pelo temor, pompa e circunstância do ambiente profissional, voltou-me e eu então, sentindo-me seguro, perguntei como ele perdera parte do dedo indicador da mão esquerda.

O colega, já aposentado, começou então a contar sua história:

- Quando eu era criança meu pai comprou um Simca Chambord. Era um carro imenso, amarelo e branco. Depois que ele estacionou defronte a nossa casa ele entrou contente e contou pra minha mãe o negócio que tinha feito. Passada a euforia meu velho me convidou pra dar uma volta de carro.

Descemos a Rua Riachuelo, entramos na Benjamim Constant e quando chegamos na Doutor Paulo de Morais, seguimos até a Governador Pedro de Toledo, pela qual viemos descendo até a esquina com a XV de Novembro, onde paramos por causa do sinal vermelho. Logo uma fila de carros se formou atrás de nós. Durante a espera meu pai ligou o rádio do carro; o noticiário informava que naquele domingo o Corinthians viria pra Piracicaba onde enfrentaria o XV no estádio da Rua Regente Feijó.

Durante a sintonização da estação no dial, o semáforo abriu. Como meu pai estava atento ao rádio, demorou a sair. Então o sujeito que estava atrás, num Gordini verde, começou a buzinar. Meu pai, irritado botou a cabeça pra fora e mandou o cara tomar naquele lugar e a cheirar o dedo. Eu fiquei imaginando o que ele queria dizer com aquele “cheirar o dedo”.

Depois do passeio meu pai foi pra cozinha onde minha mãe fazia o almoço e eu fiquei na sala, sentado no sofá vendo televisão. Durante uma discussão mais forte entre meu pai e minha mãe, eu sem querer coloquei o dedo indicador da mão esquerda no fiofó e depois o levei ao nariz.

Bom, o tempo passou e eu fiquei com essa mania besta de, sempre que presenciava uma discussão, pôr à ocultas, o dedo no fiantã. Numa ocasião minha mãe me pegou fazendo isso e me deu uma surra tremenda, inesquecível. Apanhei que nem um não sei o quê.

Durante o tempo do ginásio, eu já adolescente, fazia parte de uma turma que não era muito chegada nos estudos. O pessoal era da bagunça; sentava-se nas carteiras de trás e vivia perturbando as aulas.

Era costume dos caras, durante os recreios, fumarem no banheiro. E lá também tinha uns manos que, trazendo de casa, aquelas bombinhas de festas juninas, colocando-as nos tocos de cigarro aceso, e deixando sobre o vaso sanitário, aguardavam o estouro sempre esperado durante o transcurso da aula posterior ao intervalo.

A repetição desse arremedo, de projeto de ato terrorista, perturbou tanto o diretor do ginásio que ele resolveu descobrir quem era o tal que fazia aquela coisa feia de atormentar o sossego do lugar.

Pressão vai, pressão vem, e o diretor me chamou na diretoria. Lá ele me disse que minhas notas estavam muito ruins e que se eu contasse quem estava explodindo bombas no banheiro eu poderia passar de ano mesmo com as notas baixas. Bom, eu então delatei quem fazia aquele fuzuê todo.

Não demorou muito e pimba. O tal das bombinhas e cigarro foi convidado a mudar de colégio.

O restante da turma queria saber quem tinha dedurado o pré-terrorista, aprendiz de guerrilheiro, exilado pra outro bairro. É claro que eu fiquei na minha; meu dedo indicador da mão esquerda coçava tanto que eu tinha vontade de passar a unha na lousa pra todo mundo se arrepiar.

Depois que me formei, disse pro meu pai que precisava trabalhar. Meu querido velho me ensinou que pra arrumar emprego bom a pessoa tinha que ter um alto Q.I. Eu já ia me lembrando daqueles testes de inteligência que os psicólogos aplicam nas escolas, nas empresas, quando meu pai me falou que esse tal de Q.I. significava “Quem Indica”. Ou seja, só quem tem “quem indica”, quem tem cunha, é que poderia conseguir um emprego bom. Mais uma vez eu senti raiva do meu dedinho.

O tempo passou e durante uma celebração religiosa eu ouvi dizer que se os teus olhos te escandalizam, diante das coisas que vê, arranque-os. E que se a tua mão te envergonha corte-a.

Como não tinha mesmo serviço na cidade, naquele tempo, meu pai me mandava roçar terrenos. Eu carpia quintais, e muitos terrenos baldios com o que eu ganhava uns troquinhos. 

Certo dia, sozinho, num lote cheio de mato, me deu uma tristeza tão grande que eu assim, bem de bobeira, peguei a enxada, coloquei-a com a lâmina pra cima e botando o indicador da mão esquerda sobre o fio do instrumento, bati fortemente nele com um tijolo; falanginha e falangeta caíram no chão onde logo se formou uma poça pequena de sangue.

Essa é a história do meu dedinho cortado. Eu não sei se estou certo. Mas depois que perdi o dedo, tive mais sorte. Talvez a pena, a compaixão, o dó que isso provocou nas pessoas tivesse favorecido a minha entrada no serviço em que me aposentei. Eu me lembro que, no cartório, sempre que desejava celeridade nas respostas aos meus pedidos eu apontava o toco do dedo amputado pra cima e esbravejando era logo atendido. Maneiro, né?

Depois dessa conversa e satisfeita minha curiosidade sobre qual teria sido a causa daquela amputação eu segui feliz pra minha corrida diária e meu velho colega de Fórum, que eu não via há tanto tempo, foi pro clube onde buscaria sua esposa que, atendendo aos conselhos médicos, fazia exercícios físicos.

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publicado às 18:30

Conferência São Judas Tadeu regulariza situação

por Fernando Zocca, em 31.07.12

A Conferência São Judas Tadeu do Conselho Particular Centro, da Sociedade São Vicente de Paulo, em Piracicaba SP, reuniu-se hoje às 19h30m, na escola paroquial, para dentre outros assuntos, regularizar por meio do voto, a situação da diretoria, uma vez que a atual ocupa o cargo há mais de seis anos.

Segundo a Regra da Sociedade São Vicente de Paulo, o prazo de gestão é de apenas dois anos, tendo a diretoria, comandada pelo confrade Salvador Venit sido eleita em 02 de outubro de 2006 e portanto, excedendo irregularmente o prazo por mais de quatro anos.

Estiveram presentes os confrades Josué Galani, Lázara Cristina Sorsen (presidente do Conselho Particular Centro), Sõnia Boschetti Frias, Ricardo Alves, Elder Wilhians Rossi, Maria Stela Pereira, Maria Carmem Penteado Alonso, Antenor Elias Júnior, Olívio Alonso, Guilherme Moraes Quitolino, Luis Carlos  Pasquot, José Francisco Ambrozano, Salvador Venit e João Batista Forti.
 
Depois de tratados os assuntos usuais da entidade, durante a palavra livre, realizou-se o pleito tendo o confrade José Francisco Ambrozano, candidato único, recebido oito votos.

A presidente do Conselho Particular Centro Lázara Cristina Sorsem, responsável pela aferição das cédulas, contou também os votos obtendo o resultado final.

O presente pleito teve por objetivo a adequação da situação irregular da Conferência ao regulamento da entidade.

Na prática a presidência vinha sendo exercida mais por José Francisco Ambrozano do que por Salvador Venit.

A posse do recém-eleito ocorrerá na próxima reunião (06/08) quando começará também o termo inicial da sua gestão.

Ambrozano escolherá o tesoureiro e o secretário que comporão a sua diretoria.
 
O grupo que conduziu os trabalhos até a presente data foi eleito no dia 02 de outubro de 2006 e era assim constituído: Salvador Venit (José Francisco Ambrozano), presidente; Fernando Antônio Barbosa Zocca, secretário e Antenor Elias Júnior, tesoureiro.

O blog monitornews  e seu responsável Fernando Antônio Barbosa Zocca deseja aos eleitos e aos demais confrades, uma boa gestão norteada pela prática da caridade. 

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publicado às 02:53

O Pior cego é o que não quer ver

por Fernando Zocca, em 09.09.11

 

              - Ela estava na piscina do clube se agarrando com um sujeito. Em volta deles havia uma turma do barulho. A zoeira que eles faziam chamou a atenção da diretoria que mandou um dos empregados reprimir a vergonheira.

                - É sério? – Naldo “puxando ferro” no quarto, aos pés da sua cama de solteiro, não podia acreditar no que dizia a irmã.

                - É verdade todo mundo viu. A doidinha tava na maior beijação com Alcindo, aquele que foi namorado dela. Lembra? – confirmou Silvinha.

                Baixando os halteres ao solo, Naldo agarrou a barra fixada nos batentes da porta, iniciando as dez primeiras flexões da série de cinquenta.

                O suor escorria-lhe pelo corpo empapando o short amarelo.

                - Eu não estou acreditando. Vocês falam muita mentira. Deixa ela vir aqui, que eu vou conversar.

                - Mas você é louco Naldo. A menina bota o maior chifre em você, na frente de todo mundo e você não fala nada? – desesperou-se Silvinha.

                - Vocês estão querendo que eu termine com ela. Estão com inveja. – Defendeu-se o atleta.

                Percebendo que não conseguiria arrancar uma postura hostil do irmão contra aquele projeto de cunhada, Silvinha saiu do quarto, indo direto para a cozinha onde a mãe preparava o jantar.

                Notando estar só, Naldo vestiu uma camiseta branca, o seu velho par de tênis e, capturando a bicicleta preta, jacente num canto da garagem, saiu para a rua.

                - Vou pra academia malhar. – avisou ele ao passar pelas mulheres que conversavam.

                - É uma besta mesmo. Todos lá no clube sabem que a Eliana está ficando com o Alcindo e esse tonto nem se toca. Até no bar do pai dela o comentário é geral. – Queixou-se Silvinha para a mãe.

                - Nem ligue Silvinha. O Naldo sabe o que faz. Vai ver ele não quer nada sério com ela. É só um passatempo.- Consolou a mãe enquanto fritava as batatas.

                - Pode não querer nada com ela, mas que está feia a situação está mesmo. Tenho até vergonha de entrar no clube. Bom, mas deixa eu ir embora que o Túlio já está chegando lá em casa pra jantar.

                - Mãe, põe na cabeça desse moleque que ele deve largar a vadia. – pediu Silvinha ao arrancar com o carro importado, depois das despedidas usuais.

6/09/2011. 

                

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publicado às 01:45