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O Notebook

por Fernando Zocca, em 26.08.10

 

 

Para silenciar aqueles que diziam ser ele ladravaz, Jarbas o caquético testudo, chefe da seita maligna do pavão muito bem louco, (que matava caminhantes por atropelamento nas estradas) precisava fazer edificações.

 

Mas Tupinambicas das Linhas já mostrava saturamento de construções principalmente na área central, a região mais visível, mais notável e mais cara.

 

As investigações da polícia chegavam muito perto do patife e toda aquela ansiedade produzida pelos comentários efervescentes na população, levava-o, cada vez mais, a buscar nos projetos de engenharia, o escape emocional.

 

Mas, onde erguer mais um elefante-branco cristalizador das angústias de ladrão-assassino?

 

Vovó Bim Latem, a mocréia setuagenária, aposentada do serviço público há meio século, e aproveitada pelo prefeito meliante como chefe de gabinete, foi quem apresentou a sugestão, logo muito bem aceita. Naquela manhã fria de terça-feira, quase no final de junho, reunidos no gabinete, Bim Latem disse:

 

- Façamos um prédio no terreno hoje usado como estacionamento na câmara dos vereadores.

 

Jarbas, sem pestanejar respondeu:

 

- A resistência, se houver será vencida. Se eu conheço as figuras que ocupam aquelas cadeiras, balangandãs vistosos comprarão consciências. – E arregaçando as mangas da sua camisa branca, exclamou fechando o assunto:

 

- Deixa comigo!

 

Então vovó Bim Latem, tomada por um júbilo incontido e esfregando as mãos, pegou o telefone discando um número só conhecido por ela.

 

A amante do presidente da câmara

 

Lucila estava deitada assistindo TV. Ela comia bolachas recheadas e bebia café com leite, desconhecendo outro jeito melhor de passar o tempo. O soar da campainha daquele seu telefone antigo, assustou-a: “Quem poderia ser?”, pensou ela.

 

Levantando-se e ajeitando os óculos de aros pretos caminhou com os joelhos colados, atendeu ao telefone e alegrou-se ao ouvir a voz da sua amiga Bim Latem.

 

Seu cenho, porém, franziu quando ela ouviu instruções sobre o presidente da câmara de vereadores. Ela deveria sugerir ao amado que desse um agrado a todos os colegas componentes daquela legislatura.

 

Sem esboçar reação ou expressar dúvida Lucila, que atribuía sua felicidade amorosa aos bons fluídos e vibrações da colega Bim Latem, acatou logo a instigação.

 

O vereador Fuinha Bigoduda, quando chegou para jantar foi recebido com alegria e durante a refeição foi convencido a doar um Notebook moderníssimo a cada um dos vereadores de Tupinambicas das Linhas.

 

Na semana seguinte e com um calhamaço de quase quinhentas folhas, distribuído inclusive aos jornais e rádios da cidade, o Fuinha Bigoduda justificava seu ato de benevolência, amizade, necessidade e economia ao doar um computador portátil a cada um dos colegas camarários. Poderia existir gesto mais nobre e lindo que este?

 

A aprovação do projeto de doação do terreno

 

Na segunda-feira seguinte, numa reunião ordinária do plenário, foi posta em discussão o projeto de lei de autoria do líder da bancada do testudo. A norma aprovava a doação, pela câmara dos vereadores, de área do terreno usada como estacionamento pelos “representantes” do povo.

 

Os edis eufóricos com o brinquedo informático puderam narrar nele, a aprovação por unanimidade, do projeto proposto pelo líder da bancada do caquético.

  

Dois meses depois

 

No gabinete, Jarbas e Bim Latem comemoravam sorvendo laranjada (com adoçante, é claro) o encerramento das formalidades da tradição, ou seja, da passagem do domínio da propriedade do seu antigo dono para a atual proprietária, a prefeitura municipal de Tupinambicas das Linhas.

 
Bim Latem limpando a garganta com um pigarro disse eufórica:

  

- Passemos a fase seguinte, meu rei?

Jarbas incontido exclamou:

 

- Sim, minha lindinha! Vamos ao degrau de cima. À licitação! Vamos à licitação que preciso pagar logo aquele apartamento novo que comprei. Ninguém é de ferro, pô

 

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publicado às 20:33

A Fuinha bigoduda

por Fernando Zocca, em 30.05.10

 

Zelão Mané, um sujeito macérrimo, tinha os cabelos negros e seu rosto era afilado. Abaixo do nariz um bigode tosco e ralo lembrava o das fuinhas.

 

 Nas últimas eleições Zelão Mané se enroscara com Jarbas (o caquético-testudo), e ambos revolvendo formas de manterem-se nas mamatas do poder, acharam a fórmula: uniriam as crenças, antes antagônicas, em torno do projeto de destruição dum sujeito previamente demonizado por ambos.

 

Só pra situar meu nobilíssimo leitor, o tipo da quizumba era igual à existente entre o Carlos Lacerda e Getúlio Vargas, em 54.

 

A fuinha viera dum local ermo, lá do estado de Minas, completamente abandonado pelas autoridades locais. Ao Chegar em Tupinambicas das Linhas, resolveu freqüentar aulas onde aprendeu as primeiras noções da língua que falava.

 

Seus 12 filhos nasceram na cidade. Quando ele percebeu que trabalhar como empregado, não seria brinquedo, pois não tinha qualificação nenhuma, ponderou nas chances de se tornar vereador.

 

Ora, Tupinambicas das Linhas, sempre conhecida como a cidade concentradora da maior quantidade de loucos, jamais vista em qualquer outra parte do mundo, não se opôs ao projeto do pretendente.

 

Afinal, não existia gesto maior, e nem mais completo, de prova da hospitalidade, do que o de oferta dum cargo bom e vitalício.

 

Zelão Mané elegeu-se então uma, duas, três, quatro e cinco vezes, como o mais supimpa e festejado vereador de todos os tempos da cidade histórica.

 

Seus filhos todos, empregados na prefeitura municipal e nas demais repartições autárquicas, cresceram, casaram-se e quando se viram enrolados com os problemas causados pelo excesso de adolescentes improdutivos, dentro das suas casas, procuraram logo o presidente da câmara municipal de Tupinambicas das Linhas.

 

Acontece que os quadros funcionais da prefeitura, da câmara municipal, e do departamento de águas, estavam lotados. Ora, como a pretensão do Jarbas, de instalar logo a tecelagem Tupinambicas, não poderia concretizar-se, por motivos alheios à sua vontade, resolveram eles, reinaugurar o zoológico municipal.

 

No princípio haveria poucos animais, porém como o objetivo principal, não era esse, mas sim o da criação de cargos, com muito jeitinho, reconstruíram aquele próprio público.

 

Foi assim então que ajeitaram o destino de toda aquela safra nobre dos legítimos descendentes do mais vigoroso, hábil, prolífero e maquiavélico vereador come-quieto, jamais vista nas terras Tupinambiquences.

 

A fuinha bigoduda, um dia porém, cansada com tanta solicitação, achou que deveria tirar umas férias lá pros lados do nordeste.

 

Junto com dois outros vereadores, sacou 10 mil reais, (dez mil pra cada um), dos cofres da câmara municipal e partiram numa caravana alegre, em direção às praias paradisíacas.

 

Durante o trajeto o vereador pensava em implantar um plano que objetivava enfraquecer os adversários: Em Tupinambicas das Linhas os critérios de apuração do consumo d água, não seriam os numerais dos medidores, mas sim o comportamento dos consumidores. Se suas opiniões políticas divergissem da dos governantes, pagariam mais, devido às anotações superestimadas, feitas por correligionários, e aplicadas como punição.

 

Esse projeto de sangria deveria ser estendido, num futuro próximo, aos departamentos de energia elétrica e aos de serviços telefônicos.

 
Quando o grupo chegou, perceberam que a imprensa toda tinha noticiado o fato. Houve burburinho e vozes clamavam pela punição dos edis.

 

À pergunta do repórter, a um matuto, sobre o que fazer com tanta gente daninha, roubando as instituições públicas daquele jeito, ele respondeu: "Ah, tem que tacá na oréia desses cara aí, ó!"

 

 

O piracicabano revoltado e a câmara de vereadores

 

Boston Medical Group - Referência mundial no tratamento de Ejaculação precoce

 

Homem morre com cancro do útero

 

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publicado às 00:28






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