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As mentecaptas cabeças politicas

por Fernando Zocca, em 12.03.14

 

Diferente do que disse Pilatos ("o que eu escrevi, está escrito"), aos judeus que se queixavam do que ele mandara redigir na placa, pregada no alto da cruz, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando assumiu o poder, mandou o povo esquecer o que ele havia, durante muito tempo, ensinado.

Os judeus se queixavam que o governador romano mandara grafar, sem razão, as iniciais I.N.R.I. (Iesus Nazarenus Rex Iuderum), que quer dizer Jesus Nazareno Rei dos Judeus.

A queixa dos crucificadores era no sentido de que a frase, equivocada, fosse trocada para "este homem disse que é o rei dos judeus".

Foi quando então o representante do povo romano encerrou a conversa com o "o que eu escrevi, está escrito".

A inflexibilidade do governador imperial contrapõe-se à maleabilidade do governante brasileiro que, para dirigir o pais durante oito anos, precisou renunciar a todas as teorias que esposava quando era professor. 

Quero entender a dinâmica do desenvolvimento das teses do ex-presidente como sendo semelhante a do sujeito que, sob ataque, em legítima defesa própria, e a dos seus, revida moderadamente a opressão, afastando o perigo. 

Em sendo ou não exatamente isso, os fatos comprovam que os dois mandatos, exercidos pelo ex-presidente, seguiram os ditames do capitalismo, da economia de mercado e de todas as regras econômicas usadas no mundo ocidental.

E foi assim também com os governos de Lula, Dilma ou de quem mais vier. A história recente das nações está vivíssima na memória do mundo para provar quais são as melhores formas de governo e sistema econômico.

Convenha, meu querido leitor, não ser nada saudável que, por não ser simpático ao governo vigente, num determinado local, o cidadão deixe de se defender com o uso de todas as formas garantidoras das prerrogativas, especialmente as expressas na DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948.

Nem mesmo o mais lesado entendimento das mentecaptas cabeças politicas provincianas pode negar que o Artigo XII da citada declaração vem assim expresso:

Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Esgotadas pois, as instâncias administrativas, religiosas e judiciais sem que cesse o despotismo, nada mais honesto do que a busca da implosão das embasadoras teorias absurdas, injustas e opressivas.

 

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publicado às 17:44

O Exercício Arbitrário das Próprias Razões

por Fernando Zocca, em 07.08.13


Para quem pintava automóveis sem atender aos padrões da boa técnica, causando com isso a poluição ambiental, o desconforto inegável aos vizinhos, e que agora pinta unhas, até que a mudança foi bem significativa.

É bastante interessante notar que nestas duas atividades um componente comum faz-se distinto: o pintar.

Com base nas atitudes e comportamentos das pessoas pode-se saber perfeitamente sobre suas intenções. Os desejos de maltratar, de oprimir e de machucar brotam com frequência dos cérebros doentes, equivocados, de gente que julga, condena e pune o semelhante por conta própria.

Psicopatas autossuficientes, convencidos erroneamente sobre supostos atos condenáveis de alguém, não raro, exercem a loucura de aplicar a justiça pelas próprias mãos.

Daí não haver outra alternativa satisfatória, para as vítimas dos opressores, do que a de valer-se do amparo das leis. 

A aplicação das penas previstas na legislação existe também para ensinar os sociopatas a se comportarem na sociedade. Sem o castigo, especialmente o pecuniário, acredita-se que a reiteração dos atos lesivos seria tão certa quanto o retorno do porco à lama, logo depois de banhado. 

A paz é um fruto da justiça e esta não deixa de ser a imposição das penas das leis aos comportamentos delitivos.

Se os pais não ensinam, se a escola não consegue adestrar corretamente, se a Igreja não tem como conduzir ao bom caminho as "ovelhas desgarradas", cabe ao Judiciário a aplicação dos corretivos.

O julgamento é a melhor oportunidade para o bairro todo, a comunidade, os vizinhos, parentes e os próprios equivocados, de inteirarem-se de como proceder quando encontrarem-se diante de situações semelhantes.

Hostilizar pessoas, por "saber" serem elas "merecedoras" de castigos não só incorre os agressores nos enquadramentos penais como os caracterizariam como pretensos poderosos superdotados autossuficientes justiceiros do quarteirão.

O sujeito equivocado, o "dono do quarteirão", o "xerife do pedaço", o mandachuva, o tranca-ruas, o pelintra, geralmente agride cães, gatos, crianças e não raro, o tio gay. 

É comum ouvir dos agressores criminosos a frase: "não sei porque estou batendo, mas ela sabe porque está apanhando".

Os vizinhos não se envolvem, ou frequentemente apoiam os sociopatas, mais por medo das represálias do que por senso de justiça.

É chegada a hora de mudar essa escrita: punição institucional para quem merece. 

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publicado às 14:35

O Tabique

por Fernando Zocca, em 30.04.13
O tabique instalado recentemente no plenário da Câmara de Vereadores de Piracicaba tem causado questionamentos. Foto: Monitornews.blog


Fenômenos estranhíssimos estão acontecendo em Piracicaba. Pelos sinais observados, oriundos das atitudes dos senhores detentores do poder, parece-nos que há muita coisa oculta, prestes a se revelar.

Nem mesmo a nulidade total, do decreto do executivo, que majorou os preços das passagens dos ônibus foi suficiente para fazer as tarifas voltarem aos patamares anteriores.

O executivo, apesar de ter nas mãos a planilha dos custos (receita e despesas) do transporte coletivo, posterga sem razões aparentes, a sua publicação.

Enquanto isso, na Câmara de Vereadores, completamente modernizada com equipamentos de última geração, os eleitores testemunham os embates causados pelas correntes distintas de pensamento.

Para o cidadão piracicabano médio, não representa ofensa nenhuma, às leis religiosas, o negar-se a se levantar durante uma leitura da Bíblica sagrada.

No entanto, para a atual presidência, o assunto é tão sério, mas tão sério, que deve levar o desobediente para fora das dependências do plenário a manu militari.

As revoltas, os protestos públcos promovidos pelo Sindicado dos Bancários, o mandato do vereador Paiva (PT), e outras entidades civis foram intensificados exatamente por não terem os cidadãos interessados obtido informações satisfatórias, fornecidas pelo poder considerado autoritário.

Entretanto, ao contrário de tranquilizar a população, agindo com lisura depois, o poder fecha-se em copas, isolando-se, numa vã tentativa de manter-se incólume, abrigando as arbitrariedades.

A colocação de um tabique separador dos legisladores do público que comparece, para assistir as sessões da Casa de Leis, soa a tentar livrar-se das possíveis consequencias da má condução dos negócios públicos.

Então os interessados na verdade precisam pedir ao Judiciário, com Mandados de Segurança, que o prefeito explique em quais bases fundamentou-se para elevar os preços das tarifas. 

Todas estas ações não podem significar outra coisa do que a existência de atos condenáveis, ardentemente desejados de que permanecam ocultos.

Só pode ser.

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publicado às 20:06

O Pai Maldoso

por Fernando Zocca, em 09.03.13

 

O limite de tolerância dos autoritários é muito baixo. Qualquer mísera crítica induz a uma avalanche de atos restritivos em retaliação. O exemplo disso é o que ocorre na Coréia do Norte, Cuba, China e Irã.


Na Argentina a presidenta Cristina Kirchner procura calar os veículos de comunicação social que não se dispõem a concordar com as suas decisões.


Em Cuba, o governo fossilizado de Fidel e Raul Castro, tornou sofrida a vida da cidadã Yoani Sanchez por ela publicar no seu blog, as suas opiniões sobre a situação que presenciava.


Os dirigentes cabeças-duras sempre agem com violência quando já não possuem argumentos suficientes para justificar as atitudes condenáveis.


Perceba que as hostilizações públicas feitas a Yoani Sanchez em Recife, Salvador e Brasília possuem o mesmo elemento componente do que as feitas ao prefeito Gabriel Ferrato, em Piracicaba.


Politico ladino, aproveitador do inconformismo natural dos adolescentes, contra a figura paterna, busca vergonhosamente, a condução destas energias contestadoras contra as instituições e seus representantes.


Significa isso a expansão, sem resultado prático positivo nenhum, do braço politico manipulativo, aos nichos adolescentes e pré-adolescentes da cidade.


Já dissemos e achamos oportuno repetir: se barulho e pular as catracas resolvesse alguma coisa, certamente que a população usaria gratuitamente o transporte coletivo desta cidade.


Ainda que mal comparando duas situações diversas, diríamos que este bafafá é semelhante ao feito pelo pai inexperiente, de primeira viagem, que tentando educar a filha, espalha tanta maldade que pode tornar insuportável o ambiente em que a moçoila e todos os demais vivem.

 

A lição que se tira disso tudo é que bagunça, indisciplina, maus modos, falta de educação, preconceito de classe social e desrespeito, são menos eficientes, mas muito menos eficientes mesmo, do que os atos administrativos previstos na lei.


Nos dias atuais nenhuma cidade, estado ou país precisa deste tipo de política.

 

09/03/13

 

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publicado às 11:17

O Mau-olhado

por Fernando Zocca, em 24.11.12

 

A fotógrafa. Foto: Vika Sokova/Internet

 

Você já passou por aquela situação em que um sujeito te encara de forma ostensiva, com a cara bem feia, tentando te intimidar?


Tirando as audiências no Fórum onde os adversários se encontram e é bem comum essa ocorrência, não lhe pareceria estranho, bem estranho mesmo, isso acontecer em lugares onde deveria imperar a solidariedade, a congregação e a louvação?


Em tese sim. Mas o que você pode dizer para o retardado mental que leva tudo ao pé da letra?


Dizem que pra você saber o que sente uma pessoa deve calçar os sapatos dela. Isto é uma forma metafórica de induzir à empatia, ou seja, sentir ou ver, ou pensar como o seu semelhante pensaria, veria ou sentiria.


Mas como eu disse, tem demente mental que leva a coisa tão a sério, tão ao pé da letra, que ele calça mesmo os sapatos das outras pessoas.


Ai você pergunta: como é que pode uma besta dessa ter o emprego público que tem? Com esse nível mental o cara deveria ser o zelador da escola e não o diretor.


Com um chefe desses você já pode imaginar o nível de ensino e aprendizagem das crianças sob sua tutela.


Com gente assim uma guerra nunca acaba. Ou demora pra terminar. Já imaginou a perda de tempo e o desgaste que isso provoca?


E é exatamente neste ponto em que entra a responsabilidade daquele senhor político que, entendendo tudo errado, laborando sobre premissas falsas, ou conceitos desatualizados, coloca o tal no cargo relevante onde tem, sob sua responsabilidade, um mundaréu de gente.


Para os maus-olhados usavam um galhinho de arruda sobre a orelha. Podia ser a direita ou a esquerda. Dependia do lado onde a criatura "zoiúda" estava.


Eu me lembro que quando criança havia um comerciante que usava um lápis sobre a orelha direita. Quando lhe perguntavam do porque daquilo ele respondia que em não tendo o tal galhinho de arruda, usava o lápis com o qual marcava os débitos dos fregueses no livrão preto.


Uma cidade só melhora com o progresso cultural e intelectual dos seus cidadãos.

 

Com um nível medíocre desse a situação só é bem boa para a política obscurantista com a qual somente alguns "poucos e bons" teriam direito de usufruir da divisão do bolo.

 

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publicado às 12:19

O Festival de Besteiras que Assola Piracicaba

por Fernando Zocca, em 01.11.12

Deste festival de besteiras, que assola o setor político de Piracicaba, você pode concluir que ele se embasa também sobre muita fraqueza e mediocridade.

Raciocinando com premissas falsas, os engendradores dessas determinações, com tudo o mais que “aprontaram”, durante esses anos todos, quase enlouqueceram uma cidade inteira.

A existência de catedráticos na composição desse grupo dominante mostra que o usufruir das ondas culturais imperantes omitindo-se vergonhosa e covardemente, seria muito mais saudável financeiramente, do que a imposição da lógica, do equilíbrio e do bom senso.

E a cidade, apesar de se ver trajando pontes, viadutos e edifícios voluptuosos, assiste a evolução da gangrena que lhe destrói os setores do ensino, da saúde e também da segurança pública.

A estrutura do estado brasileiro assemelha-se a dos grandes estados modernos; e o laicado é uma dessas características. Isto é, há a distinção entre a Igreja e o comando político.

No Brasil essa característica foi escolhida a partir de 15 de Novembro de 1889 quando houve a proclamação da República.

Entretanto aqui em Piracicaba, o modelo político adotado há décadas, para a infelicidade geral e atraso cultural de todos, é semelhante ao do proposto por Antony Garotinho no Rio de Janeiro, na década de 80.

E é por isso que os absurdos acontecem. Você veja que a decisão de submeter os vereadores novatos, eleitos agora em sete de outubro, a um curso supletivo, do tipo madureza, só pode ser tomada por quem os consideraria retardados, inferiores e incapazes de agir no exercício das funções para as quais foram eleitos.

Nos estados onde predomina o autoritarismo a religião é usada para oprimir, para manter a situação politica praticamente imutável.

Dentre os expedientes usados para a permanência eterna no poder há a invasão da privacidade, enganos, furtos de dados sigilosos, traições e muita crueldade.

Esse desequilíbrio, além dos males já conhecidos, favorece a eternização da pobreza.

E você sabe, meu querido leitor, que um país bom para todos é, sem dúvida nenhuma, um país sem miséria.

 

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publicado às 14:45

Despertadores Matam Sonhos

por Fernando Zocca, em 10.09.12


 

Em cidade pequena quase todos se conhecem, pelo menos de vista. Essa familiaridade implica em conhecimento dos hábitos relacionados a tudo.

 

Dessa forma não é exagero afirmar que as preferências alimentares, e as reações a determinados estímulos, não sejam do saber dos vizinhos.

 

Se você está em Roma deve agir como os romanos. Mas se você está num bairro cercado por idiotas, o não comportar-se como tal, pode distingui-lo, e isso gera, inclusive, bastante ciúme.

 

Então, as atitudes hostis prevalecerão no entorno do menos estúpido, com o objetivo de afastá-lo do lugar.

  

A concentração do lúmpen torna o quarteirão bastante sujo, com a qualidade do ar comprometida, depredações, pichações, furtos e agressões.

  

A incapacidade dos vereadores, prefeitos e demais autoridades em revitalizar certas áreas, faz com que a deterioração se alastre pelo bairro todo, tornando a qualidade de vida bem medíocre.

 

Na verdade não há interesse dos políticos, que vivem do superfaturamento das obras públicas, em melhorar o nível de vida das pessoas, nos bairro periféricos. Isso não lhes daria visibilidade e por consequência não lhes traria votos.

 

Para essas pessoas que enriquecem com o dinheiro destinado a pontes, viadutos e edifícios públicos, quanto menos instrução e informação o eleitor tiver mais facilidade haveria para a permanência dos modos de vida oportunistas.

 

Então, numa sociedade que tem líderes obscurantistas, dizer que "despertadores matam sonhos", não teria outro significado que não fosse "a instrução pode acabar com a alegria dos corruptos", aliás, há décadas no poder.

 

Os antigos senhores de engenho, escravocratas, hoje nos mais altos postos governamentais de Piracicaba, podem até tolerar a presença de todos, desde que sejam concordes com tudo o que lhes é dito.

 

Entretanto a partir do momento que que há discordância, o autoritarismo entra em ação objetivando o abafamento das opiniões contrárias.

 

Nesse contexto julgo que a cordialidade, a boa educação e o respeito entre as pessoas devem ser muito mais importantes do que qualquer obra pública.

 

É o que eu tenho dito. 

 

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publicado às 12:58

Abaixo o Diploma de Jornalismo

por Fernando Zocca, em 14.08.12

Lúcia Guimarães - O Estado de S.Paulo
 
NOVA YORK - Faltei à formatura da minha faculdade. Fiquei pendurada porque tirei nota baixa em estatística, tive de fazer o crédito em recuperação e colei grau sozinha no meio do ano. Confesso que não me recuperei em estatística. Assim como não aprendi jornalismo na escola de jornalismo. Lembro dos professores complacentes, um lacaniano esquisito (pleonasmo?), um comunista feroz, uma preguiçosa que não preparava nada e flertava com alunos.

Só fui boa aluna até o fim do segundo grau. Faltava muito à aula na faculdade porque já trabalhava como repórter. Aprendi o ofício na redação.

Uma vez, não preparei o trabalho final de uma matéria e só me lembrei na manhã da última aula. Lavei um vidro de geleia, datilografei várias palavras e joguei o papel picado lá dentro. Sacudi e entreguei para o professor, dizendo que era um poema concreto. Tirei nota 8.

Obrigar o jornalista a ter diploma de jornalismo é como obrigar um cantor a tomar aula de voz antes de cantar no palco, uma violação da liberdade de expressão. Não que uma boa escola de jornalismo seja inútil, pelo contrário, a da Columbia University, aqui perto, é uma usina de grandes profissionais. Mas é uma escola de pós-graduação, você só é aceito se já escrever num nível cada vez mais raro na nossa imprensa.

As redações eram a lição de anatomia do jornalista da minha geração. Hoje é indispensável aprender técnicas do jornalismo digital. Jornalista deve estudar, acima de tudo, português e se educar em história, literatura, economia, ciência, filosofia e ciência política. Quem chega à redação passou pelo crivo de editores e competiu com seus pares, mesmo por um estágio.

Não compreendo por que um graduado em economia que escreve bem seria impedido de cobrir o Banco Central e substituído por um foca que pode ser facilmente enrolado, já que não decifra a informação financeira. Não fui capaz de questionar porta-vozes do governo quando tive que substituir colegas na cobertura da negociação da dívida externa em Nova York. Não entendia bulhufas dos comunicados.

O senador paraibano Cícero Lucena declarou, orgulhoso, pelo Twitter, que votou a favor da obrigatoriedade do diploma porque "democracia se faz com jornalismo ético, profissional e técnico". Sua excelência vai me desculpar, mas essa frase não passa pelo copidesque. O que tem a democracia a ver com a profissionalização do jornalista? E com sua capacidade técnica de fazer fotografia com foco? A ética começa ainda na primeira dentição, em casa, é aperfeiçoada durante a educação e é fundamental para qualquer profissão.

A democracia se faz com jornalismo, ponto. Quando Thomas Jefferson disse que era melhor ter um país sem governo do que um país sem jornais, a inspiração era o civismo, não o corporativismo. O baixo nível da maioria das escolas de comunicação é que erode a democracia porque joga milhares de jovens iletrados na vala comum do subemprego, fabrica profissionais despreparados para contestar o poder e investigar a corrupção num mundo cada vez mais sofisticado e falsificado pelo marketing. Não foi coincidência Charles Ferguson, ganhador do Oscar de 2011 por Inside Job, ter conduzido as entrevistas mais reveladoras já feitas sobre o crash de 2008. O homem se formou em matemática e fez PHD em ciência política, sabia o que perguntar.

A desculpa usada pelo senador sergipano Antonio Carlos Valadares - empresas de comunicação se opõem ao diploma porque querem contratar mão de obra barata - é absurda. A epidemia de cursos superiores de jornalismo alimenta a distorção de mercado que baixa os salários. Por que só o senador Aloysio Nunes Ferreira teve coragem de apontar a aberração constitucional do voto? Qual o motivo por trás da esmagadora maioria dos votos a favor?

E o que define para esses parlamentares a tal profissão, numa era em que qualquer um munido de smart phone pode narrar e fotografar um atentado no Afeganistão e apertar "enviar"? A diferença é editorial e o público vota no bom jornalismo selecionando onde deposita sua atenção. As empresas de comunicação que quiserem produzir seu conteúdo com mão de obra medíocre e barata terão na exigência do diploma sua maior aliada.

O jornalismo é um bem social importante demais para ficar nas mãos de jornalistas diplomados.
 

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publicado às 02:10

As Palavras do Donizete

por Fernando Zocca, em 20.05.10
 

                                Donizete Pimenta era um cara muito chato. Ele teimava em fazer seu enteado passar a noite toda acordado para que ouvisse as histórias que tinha pra contar.

 

                               Por ser incapaz de contrariar a vontade do Pimenta chato, o menino fazia as vontades do cara. Na verdade o mocinho queria dormir para acordar esperto, sair às ruas e gozar os prazeres do ar livre e do sol abundante.

 

                               Mas não. Nada disso. Para morar naquela casa, comer daquela comida o menino tinha que submeter-se ao Donizete Pimenta, o sujeito mais implicante que a Vila Dependência já vira.

 

                               Até mesmo o prefeito da cidade o ilustríssimo senhor professor doutor Jarbas exclamava, quando no gabinete alguém mencionava a agitação promovida pelo tal Pimenta:

 

                               - O quê? Misericórdia, não me fale nesse assunto. Pelo amor de Deus!

 

                               E assim seguia a sina do garoto que já evidenciava sinais de efeminação. É que por ser bastante rude e cruel Donizete só parava de agredir, tanto moral quanto fisicamente o seu enteado, quando este apresentava reações próprias das meninas.

 

                               Então pra não apanhar e ser xingado, o garoto tinha que desmunhecar. E como ele já se tornava um adolescente, a certeza de que sua escolha sexual seria o homossexualismo evidenciava-se a cada dia.

 

                               Na vizinhança ninguém esperava outra coisa. O enteado do Donizete seria o mais novo, belo e lindinho gay produzido em Tupinambicas das Linhas.

 

                               Na noite de domingo para segunda-feira o obsessor contara a mais torturante história sobre os médicos, enfermeiros e banheiros públicos. Quase ninguém sabia, mas Donizete era paradão em banheiros.

   

                               Diziam os vizinhos da esquina que o Pimenta ficava ligado o dia todo escutando os barulhos que chegavam das casas do entorno. Quando alguém puxava uma descarga ou ligava um chuveiro ele se excitava todo.

 

                               O pessoal do centro de reabilitação de Tupinambicas das Linhas não tinha como medicar o Donizete, pois ele mostrava-se refratário aos apelos das autoridades. Com isso a inquietude propagava-se pela cidade, do mesmo jeito que a dor de uma infecção na unha encravada dum dedão, se irradiava pra todas as demais partes do corpo.

 

                               Mal sabia o moço perturbado, que as palavras proferidas por ele, ali naquele quintal sujo, depois de girarem pelo mundo, retornariam com a força sextuplicada para ele mesmo.

 

                               Quem não conhece a história do bater das asas da borboleta?   Se um simples movimento, de um bichinho tão delicado, desencadeia uma miríade de ocorrências para todas as pessoas, imagine os desastres que provocavam as palavras carregadas de ódio, proferidas diuturnamente pelo famoso Donizete Pimenta.

 

                               Ele não era fácil, minha amiga.

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publicado às 16:38