Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Informação e entretenimento. Colabore com a manutenção do Blog. Doe a partir de R$ 10 depositando na conta 0014675-0. Agência 3008. Caixa Econômica Federal.
Van Grogue entrou lentamente no bar do Maçarico naquela manhã de quinta-feira e disse em alto e bom som:
- Parei de beber. Hoje completam 30 dias que deixei de lado esse vício do inferno.
Billy Rubina, Célio Justinho, Donizete Pimenta, Pery Kitto e Zé Cílio Demorais paralisaram-se, depois de fitarem o afobado que chegava.
Van aproximou-se do grupo reunido e, num gesto heroico, aspirou desafiadoramente os vapores do álcool que, tal qual uma nuvem densa, envolvia os amigos assustadíssimos com a bravata.
- Quero comunicar a todos que não faço mais parte desse time e que me considero livre desse tormento. Hoje, exatamente hoje, completam trinta dias que estou sem beber nada dessa coisa vergonhosa que vocês põem na boca.
Célio Justinho não acreditando no que ouvia, tratou logo de menosprezar o parceiro de copo, que já tentara deixar o hábito, muitas e muitas vezes sem, no entanto obter sucesso.
- Conversa fiada. Parar de beber é para os fracos. Macho que é macho não tem medo de alucinação.
- Mas já estava mesmo na hora de você parar seu Grogue. - sentenciou Billy Rubina. - Ninguém aguentava mais as suas trapalhadas.
- Isso sem falar nos prejuízos para a família toda, da aposentadoria compulsória, dos desentendimentos com os filhos e a mulher, que de vez em sempre, levavam umas porradas. - Completou Zé Cílio Demorais.
- Imagine você que esse retardado, no estado em que estava, num dia, apareceu por aqui reclamando das dores nos joanetes. - relatou Pery Kitto - Ele disse que sentia muito incômodo e que por causa disso tinha até que usar uma bengala pra andar. Mas quando olhei pros pés dele vi que a besta estava com o sapato do pé direito no esquerdo e o do esquerdo no direito.
Diante da gargalhada que irrompeu no grupo, Pery Kitto arrematou:
- E já fazia uns 15 dias que ele andava assim. O "mental" tinha acabado de comprar os sapatos e gostou tanto deles que não tirava nem pra dormir.
Sentindo-se muito envergonhado Van Grogue tentou frear a gozação dizendo num tom sério, grave, que remetia a muita responsabilidade e importância.
- É minha gente... Eu parei mesmo com isso tudo. Não quero mais saber dessa vida. Queiram vocês saber que uma decisão dessas, igual a minha só é possível para poucos e bons.
Outra onda de gargalhada explodiu fazendo com que Maçarico se preocupasse com as possíveis queixas dos vizinhos que já davam sinais de mobilização, contra as 'gandaias' frequentes no boteco.
Van preparava-se para sair quando entrou a professora Dina Mitt. Ela trazia dois sacos de estopa que colocou cuidadosamente no chão logo depois que pediu uma cerveja.
- E aí Dina? Tudo certinho? - perguntou Donizete Pimenta. Vai tomar aquela cerveja esperta?
- Ninguém é de ferro, né meu filho? - respondeu a mestra, ajeitando com cuidado, os sacos que estavam no chão.
- Você já sabe da novidade? - indagou Pery Kitto.
- Que novidade? - Quis saber a mulher que recebia a garrafa de cerveja servida por Maçarico.
- O Van Grogue parou de beber.
- Verdade Van? - Perguntou Dina Mitt espantadíssima.
- Exatamente. Hoje faz 30 dias que parei com a esbórnia.
- Muito bem seu Van, mas eu só acredito vendo. Para ter a certeza de que você não pertence mais a essa nossa turma quero que passe uma semana comigo lá no meu rancho. Nós vamos pescar andar a cavalo e nos divertir muito. Estou saindo daqui a pouco. - desafiou Dina. - Topa?
Diante do pessoal todo que, em silêncio, o olhava, aguardando uma resposta, Van respondeu:
- Ah, vamos sim. Por que não?
Logo depois que Dina Mitt terminou de beber a cerveja, pagou a conta e, pegando os dois sacos com muito cuidado, pediu ao Grogue que a acompanhasse até o carro.
- O que é que tem nesses sacos dona Dina? - quis saber o Zé Cílio.
- Nesse aqui tem um garrafão de pinga. - garantiu a mulher levantando, com cuidado, um dos sacos.
- Mas pra quê? - indagou ingenuamente o Pery Kitto.
- É que lá tem muita cobra. E no caso de picada a gente cura com pinga. Você entende? - respondeu a mestra.
- Ah, bom. - Disse em uníssono o pessoal, já preocupado com o Van.
- Mas e no outro saco? O que é que tem? - inquiriu curiosíssimo o Donizete Pimenta.
- É uma cobra. Vai que a gente chegue lá e não tenha nenhuma, não é verdade?
Boquiabertos os amigos viram o Grogue entrar na velha Rural Willis da professora que, sem vacilar, pisou fundo no acelerador.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.