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O Rabo

por Fernando Zocca, em 18.05.15

 

 

 

 

Ele era um sujeito explosivo, isto é, "pavio curto", de temperamento conhecido como sanguíneo, pelos psicólogos.
Nas reuniões dos amigos, certos assuntos logo faziam-no perder o controle, partindo então para as altercações.
Havia aquele pessoal que atribuia seu modo de ser ao vocabulário bem limitado, fato que o fazia logo não ter argumentos para justificar suas posições.
Então ele partia, ou para a esculhambação dos argumentos do oponente, do próprio oponente, ou inventava simpatias.
Uma das suas simpatias foi a de deixar crescer o cabelo. Quando lhe perguntavam o porque daquele gesto, nosso amigo, eriçava o dedo indicador direito dizendo em tom de ameaça:
- Não posso contar. Mas vocês vão ver o que vai acontecer...
Os gaiatos de plantão já explicitavam estar aquela nossa amizade ainda no tempo da Jovem Guarda, quando os cantores usavam aqueles cabelões em forma de protesto contra os costumes opressores vigentes.
Bastante nervoso, irritado, com o rosto afogueado e naqueles tons ameaçadores o incansável considerado expectorava:
- "Oceis" vão ver só...
Aqueles seus gestos lembravam uma autoridade brava, nervosa, contrariadíssima com o que presenciava. Outros ainda diziam que ele se parecia com a velha senhora perturbadíssima com as estripulias das crianças que não conseguia controlar.
Notavam os amigos que, além de manter as longas madeixas, o amigo inquieto gostava de se alimentar com muitos vegetais, desde que fossem bem verdes tais como o alface, a couve, e o agrião.
Certo espanto causou, o nosso profeta, quando instigado respondeu, numa reunião informal:
- Eles que dançam, fazem a maior festa, e "é nóis que paga o pato? Isso num tá certo".
Diante desssa problemática toda surgida com as descobertas das sacanagens feitas pelas pessoas encarregadas de gerir o patrimonio público brasileiro, o nosso amigo imaginava que a revivência, dos tempos antigos, poria sossego nas destemperanças todas.
O fato é que aquele cabelo comprido, preso na forma de rabo, mais parecia o trazeiro de um cavalo velho, e que expressava, na verdade, o desejo do seu mantenedor, de ver de volta, no comando do país, os que antes aí estavam prendendo e arrebentando.
Faltou alguém lembrar ao nosso advinho que mesmo naqueles tempos em que os militares governavam o país a gandaia existia. Era mais oculta, opaca, recheada de violência, muita violência e morte.

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publicado às 13:59



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