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Você já deve ter lido muitas histórias minhas sobre o Van Grogue. A maioria delas foi publicada, nos blogs que mantenho, e livros que escrevi, retratando os momentos em que o famoso personagem de Tupinambicas das Linhas, se embriaga nos bares da cidade.
Entretanto Grogue não é só um bêbado inconsequente. Quando menino e, vivendo na área rural de uma cidade vizinha, ele, além de ajudar os pais nos serviços domésticos, e da lavoura, também gostava de ler.
Ele era fã de Jorge Amado. Pra quem não sabe Jorge Amado foi um escritor brasileiro, nascido na Bahia, tendo se notabilizado pelas inúmeras obras literárias que se transformaram em filmes e séries para a TV.
Numa ocasião, quando Van se recuperava de um surto meníngico, o pai o presenteou com a novela Teresa Batista cansada de guerra do famoso autor baiano.
Van, depois de muito tempo, recuperou a saúde tendo guardado boas lembranças do Jorge Amado e seus livros, especialmente o Teresa Batista.
Já quase adulto Van de Oliveira ganhou de presente, de um padrinho, uma bela mula. Durante a entrega, numa festa de aniversário, ao passar-lhe as rédeas do animal, o presenteador disse-lhe:
- É um bichinho de estimação. Ela nunca foi montada. Você pode ver: é ainda muito nova e precisa ser domada. O pai dela era um burro orelhudo, cabeçudo, vigoroso, que carregou muita lenha e material de construção pra mim e meus irmãos.
Van recebeu a mula durante o "parabéns pra você" e ouviu a recomentação do padrinho:
- Olha, meu filho, ela adora milho. De vez em quando, pelo menos uma, ou duas vezes por semana, você deve serví-la com milho. Mas, veja bem, tem de ser milho bom. Não me dê desses já passados, amarronzados, que não servem nem pra pipoca. Sabe pipoca, que quando quente, pula insanamente de lá pra cá? Então... Tem de ser milho bom. Entende?
Dona Emiliana, a mãe do Van, curiosa e feliz com o presente do filho perguntou ao padrinho, logo depois do "é pique, é pique; é hora, é hora..."
- Essa mula não tem nome?
Diante da negativa do padrinho Van adiantou-se e, lembrando da bela história do Jorge Amado, disse em alto e bom som:
- Essa mula vai se chamar Teresa Batista.
Depois de algum tempo de treinamento carinhoso, nos arredores da casa sede do sítio, Van de Oliveira e Teresa tornaram-se bons amigos.
E foi assim que Van, numa bela e ensolarada manhã de domingo, um inesquecível nove de janeiro, ao surgir em Tupinambicas das Linhas, montando a Teresa, anunciou à cidade inteira que, uma, duas, ou até mais vezes por semana, cavalgava prazerosamente a inoxidável mula fogosa.
kol da Mumunha já bastante embriagado, perguntou ao Donizete Pimenta, que saía do banheiro, do boteco do Bafão, - naquela tarde de segunda-feira - depois da ingesta da terceira cerveja, conhecida por suas tampinhas enferrujadas:
- É verdade que o seu aviãozinho já não sobe mais?
- Subir, ele sobe, mas precisa de uma declaração de amor. Você me ama? - quis saber Donizete Pimenta.
- Nem com toda a luz deste mundo - rebateu Kol da Mumunha.
Enquanto isso, Fuinho Bigodudo, o presidente da Câmara Municipal de Tupinambicas das Linhas, inconformado com o nível cultural dos vereadores da cidade, caminhava preocupado, pelos corredores da casa, perguntando quantos dólares - hoje em dia - seriam necessários para a compra da vaga de vereador nas próximas eleições.
- Nestas alturas do campeonato, depois de 6 legislaturas seguidas não sei se continuo ou não. O pessoal se queixa da minha permanência por tanto tempo nesta casa. Mas o que é que vou fazer? O nível está tão baixo que o resultado não pode favorecer a ninguém que não seja a mim mesmo. Por cansaço - e mesmo se não puder concorrer novamente - penso em fazer uma espécie de madureza para os novatos. As dúvidas são muitas - murmurava o edil preocupado.
No bar do Bafão, Van Grogue era mais um que não se conformava com a reeleição seguida, dos elementos medíocres da cidade, para o exercício dos papéis de vereador.
- Não esquente a cabeça e nem se preocupe com isso. Não é o nível cultural que elege ou deixa de eleger um cidadão. Ele pode ser o mais idiota da comunidade, mas se puder pagar, ou tiver quem pague, a contagem dos votos dele, no dia das apurações, ele estará eleito - respondeu Kol da Mumunha ajeitando a braguilha. Tudo é corrupção: desde a violação de cartas nos correios, e-mails, ou contagem de votos. Quem tem o dinheiro paga o preço obtendo as vantagens.
- Sim, mas como conseguir tanto grana se nem emprego a gente tem? - questionou Van de Oliveira.
- É questão do capital inicial. Dois ou três assaltos bem sucedidos, a bancos, podem lhe render o necessário para a aquisição daquela vagazinha esperta, nas tetas públicas, que lhe garantirá bons anos de vida mansa.
- Os caras não querem nem saber se o dinheiro vem de assaltos, tráfico de drogas, de armas, fraudes nas licitações ou violação de correspondência. Uma coisa é certa: pagando o preço você terá o número de votos necessários para 4, 8, dezesseis ou mais anos da boa vida das sinecuras - asseverou Dina Mitt reforçando as palavras do Kol da Mumunha ao desalentado Van Grogue.
No gabinete do vereador Fuinho, Jarbas, o caquético testudo, depois de anunciado pela secretária, entrou esbaforido:
- A polícia federal quer saber sobre a licitação da ponte que fizemos e entregaremos agora neste ano de eleições. Tem um inquérito imenso que vai ser mandado ao ministério público.
- Não dá em nada. Todos têm um preço. De metrô, de trem, pontes ou viadutos, violação de correspondência, tudo pode se arranjar - garantiu o Fuinho calejado pelos anos de vida burocrática.
Enquanto os dirigentes da cidade confabulavam mais sobre seus interesses, do que os dos próprios eleitores, a conversa corria solta no bar do Bafão.
- Você acredita que os caras acham ruim quando a gente fala que eles são dispensáveis, ou que recebem muito dinheiro, pra não fazer nada em troca? - questionou Donizete Pimenta a Van Grogue, Dina Mitt, Kol da Mumunha e ao Bafão que lavava os copos.
- Eles me perguntaram um dia, porque eu não me candidatava - contou Kol.
- Você tem que ser bem lazarento. Com o devido respeito, é claro - emendou Van de Oliveira.
- Nem tanto. Nem tanto - corrigiu Donizete - mas tem de ter certa maleabilidade com a corrupção alheia; é preciso vocação - ensinou.
- Não acho errado o sujeito levar algum por fora quando isso não prejudica o povo - disse Dina Mitt.
- Pode até ser. Geralmente quase ninguém acha falta - reforçou Donizete Pimenta - Mas segundo eu soube o eterno vereador Fuinho Bigodudo voltará pra sua terra natal. Ele está com os bolsos cheios.
- Vocês querem mesmo saber da verdade? Eu acho que o que falta é vergonha na cara dessa gente. Falta coragem pra enfrentar esses canalhas nas urnas - desafiou Van Grogue.
- Os caras compram, eles pagam preços altíssimos. Não tem como ganhar deles - garantiu Dina Mitt.
- Dizem que quem nasceu pra couve não chega nunca a sibipiruna - filosofou Bafão.
No gabinete Fuinho Bigodudo e Jarbas recebiam o deputado Tendes Trame que vinha falando sobre a tia Ambrosina.
Depois de muita lengalenga e combinados sobre os próximos lances do jogo que lhes mantinha o poder e a fortuna, os membros do grupo de senhores coronéis dominantes resolveram sair.
A bordo do carro oficial, distinguido com as placas do poder legislativo e, dirigido pelo motorista oficial da casa, eles rumariam para a capital onde se encontrariam com o governador do Estado.
Ao passarem defronte ao bar do Bafão, Tendes Trame, que seguia sentado no banco do carona, ao lado do motorista, pediu para que ele parasse.
- Quero comprar um Holls Mentho Lyptus - afirmou o deputado com a voz suave, quase feminina.
No boteco a conversa prosseguia, mas o pessoal estranhou quando aquele carro preto, com placas oficiais, estacionou defronte ao estabelecimento.
Tendes Trame assustou-se quando ao pisar na soleira do bar todos os que estavam presentes abandonaram rápidos, os locais em que se encontravam.
- Estranho... - concluiu o deputado, enfiando a mão no bolso, fazendo em seguida o seu pedido
- Van, é verdade que você viajou para Wilmington, Califórnia, nos Estados Unidos? - quis saber Ester Icca que abordava o pingueiro na feira livre semanal do bairro.
Pigarreando e ajeitando os tomates, que acabara de comprar, no saco plástico branco, Van de Oliveira respondeu:
- Veja bem, minha querida Icca: é verdade sim que fui, numa ocasião para Wilmington. Mas não na Califórnia. Originalmente meu destino seria aquele. Entretanto por ironia do destino ou malvadeza, não sei, fui parar lá no Estado de Dalawere, nordeste dos Estados Unidos.
- Carolina do Norte? - indagou Ester.
- O estado é Delawere e a cidade, Wilmington, fica na confluência dos rios Christina e Brandywine.
- Ah, mas então você deu uma entradinha no rio Christina?
- Não. Imagina. Nem cheguei perto.
- Nem passou a mão na água?
- Não, bem. Não fiz isso não.
- Mas por quê? Era muito fria? - insistiu Ester.
- Fria eu sei que era. Mas não foi por isso que deixei de passar a mão ou entrar. Na verdade eu não estava a fim. E nem podia. Você sabe, a gente não pode fazer tudo o que quer. Tudo tem um limite.
Diante do espanto de Ester Icca, Grogue continuou:
- Aquele pessoal que estava comigo começou a brigar entre si. O marido acusava a mulher de traição, e ela, por sua vez, dizia que ele era um bêbado e que a vivia espancando.
- Nossa!
- Eu me lembro que quando estávamos passeando pelas margens do Christina a mulher gritava "você é um caminhoneiro frouxo, bêbado e que só espanca sem dó nem piedade. Não reclame da galhada que eu te pus e ponho. Você sabe que eu vim da zona e lá, meu querido, a coisa é assim mesmo. No meu jogo do bicho só dá veado galheiro".
Ester Icca boquiaberta, com os olhos fixos na face do Grogue, apalpava algumas laranjas e as colocava automaticamente na sacola.
- Oi gente - cumprimentou Inês Kau aproximando-se da dupla - tudo bem com vocês?
- Ah, oi Inês. Que bom te ver. Imagina... O Grogue está falando que não entrou no rio Christina - confidenciou Icca.
- Não? Como assim? Todo mundo pensa que você entrou, foi e voltou, fez e desfez lá naquelas águas. Como pode isso?
- Essa negadinha é perversa, - respondeu Grogue - eles inventam cada uma que dá até medo.
- Ele me falava que o casal que estava com ele brigava muito entre si. O marido acusava a mulher de traição e ela, por sua vez, o acusava de agressões frequentes por causa do alcoolismo - disse Ester Icca para Inês.
- Chegou uma hora que a coisa estava tão complicada, mas tão complicada que a mulher teria jogado o cara no rio - completou Grogue.
- Como assim? A mulher jogou ele no rio, ou foi ele que se atirou no rio Christina? - inquiriu Icca.
- Na verdade ele caiu. Estava tão quente o dia que ele, esbaforido escorregou e pimba; lá se foi pra baixo. E quando tentou sair, agarrando-se no busto de um figurão (no qual havia uma placa com a palavra Bus) que havia ali na margem, derrubou o monumento que se despedaçou todo. Deu o maior bafafá. Veio polícia, perícia técnica e até processo.
- Misericórdia - admirou-se Inês.
- E depois, quando foram pegar o ônibus se assustaram ao saber que até o motorista estava ciente da história do busto - completou Grogue.
- Mas Van, é verdade que teve gente que se elegeu contando essa passagem mítica para o eleitorado? - perguntou Ester Icca.
- Teve sim. E como. Soube de um espertinho que entrou muleque na politica e já é trisavô. Envelheceu mamando no povo.
- Van, meu lindinho... Você quer bombom? - desmanchou-se toda a Icca ao ofertar a guloseima que tirara da bolsa.
- Olha, também tenho bombons pra te dar. Só que estão em casa. Você aparece depois por lá? - disse também Inês.
- De vocês, garotas lindas do meu coração, aceito tudo. Mas sem compromisso sério, entende?
É claro que elas entendiam.
Van de Oliveira Grogue parou seu fusca branco defronte ao Bar do Maçarico e sem dizer qualquer palavra acomodou-se numa das mesas ao fundo.
Dina Mitt chegou logo em seguida, olhou ostensivamente para o fusca velho, parado longe da guia, e entrou no boteco pisando com o pé direito. Ao ver o colega macambuzio com o rosto inchado perguntou-lhe:
- Van, é verdade que você vai ter de retificar o cabeçote?
Para não responder com palavras de baixo calão, Van Grogue olhou pro Maçarico, e com um gesto pediu-lhe cerveja.
Dina Mitt sentou-se numa cadeira ao lado do colega perguntando-lhe em seguida:
- Por que a cidade está cheia de lixo? Já faz mais de trinta dias que não passa o caminhão pra recolher, e veja a situação da cidade. Ela apodrece.
- Isso é culpa do caquético testudo. Ele não foi reeleito e em represália, não renovou o contrato com a empresa terceirizada que recolhe o lixo.
- Estamos cercados por tanta sujeira. – observou Dina.
Maçarico que estava atento à conversa, ligando o rádio e aproveitando a deixa, entrou na roda:
- Li ontem a notícia, no Diário de Tupinambicas, que o sucessor do caquético vai fazer uma pista nova no aeroclube.
- Mas aquele sítio só tem aeromodelos. Como é que pode?
- O quê? Aeromodelo? – Maçarico mostrou-se indignado. – Eu já vi muito Teco-Teco decolar e pousar no aeroporto. Não brinca não. Num domingo teve até bimotor voando por lá.
- O caquético não estava com câncer? – indagou a Dina, mudando completamente de assunto.
- Estava, mas sarou. Eu li a notícia no jornaleco da cidade.
- Como ele sarou? – quis saber a pinguça.
- Tomando chá de ipê roxo. – concluiu Maçarico.
A tarde transcorria dessa forma na pacata e distante Tupinambicas. O pouco movimento que se percebia nas ruas era creditado aos latifundiários, grandes proprietários de canaviais extensos, alimentadores das usinas de açúcar e álcool da região.
O comércio, bastante fraco, não suportava grandes empreendimentos. A prestação de serviços limitava-se a poucas oficinas mecânicas encarregadas da manutenção do maquinário dos usineiros.
Não havia motivos econômicos para que os grandes bancos se instalassem numa economia tão modesta. Tupinambicas das Linhas mirrava. Fenecia.
Mas no jornal e nas rádios o prefeito (comprometido com a ética) pavoneava-se contando loas.
Apesar de tudo muitos criam que Tupinambicas nunca deixaria de ser o eterno fim da linha que sempre foi.
Van de Oliveira Grogue parou seu fusca branco defronte ao Bar do Maçarico e sem dizer qualquer palavra acomodou-se numa das mesas ao fundo.
Dina Mitt chegou logo em seguida, olhou ostensivamente para o fusca velho, parado longe da guia, e entrou no boteco pisando com o pé direito. Ao ver o colega macambuzio com o rosto inchado perguntou-lhe:
- Van, é verdade que você vai ter de retificar o cabeçote?
Para não responder com palavras de baixo calão, Van Grogue olhou pro Maçarico, e com um gesto pediu-lhe cerveja.
Dina Mitt sentou-se numa cadeira ao lado do colega perguntando-lhe em seguida:
- Por que a cidade está cheia de lixo? Já faz mais de trinta dias que não passa o caminhão pra recolher, e veja a situação da cidade. Ela apodrece.
- Isso é culpa do caquético testudo. Ele não foi reeleito e em represália, não renovou o contrato com a empresa terceirizada que recolhe o lixo.
- Estamos cercados por tanta sujeira. – observou Dina.
Maçarico que estava atento à conversa, ligando o rádio e aproveitando a deixa, entrou na roda:
- Li ontem a notícia, no Diário de Tupinambicas, que o sucessor do caquético vai fazer uma pista nova no aeroclube.
- Mas aquele sítio só tem aeromodelos. Como é que pode?
- O quê? Aeromodelo? – Maçarico mostrou-se indignado. – Eu já vi muito Teco-Teco decolar e pousar no aeroporto. Não brinca não. Num domingo teve até bimotor voando por lá.
- O caquético não estava com câncer? – indagou a Dina, mudando completamente de assunto.
- Estava, mas sarou. Eu li a notícia no jornaleco da cidade.
- Como ele sarou? – quis saber a pinguça.
- Tomando chá de ipê roxo. – concluiu Maçarico.
A tarde transcorria dessa forma na pacata e distante Tupinambicas. O pouco movimento que se percebia nas ruas era creditado aos latifundiários, grandes proprietários de canaviais extensos, alimentadores das usinas de açúcar e álcool da região.
O comércio, bastante fraco, não suportava grandes empreendimentos. A prestação de serviços limitava-se a poucas oficinas mecânicas encarregadas da manutenção do maquinário dos usineiros.
Não havia motivos econômicos para que os grandes bancos se instalassem numa economia tão modesta. Tupinambicas das Linhas mirrava. Fenecia.
Mas no jornal e nas rádios o prefeito (comprometido com a ética) pavoneava-se contando loas.
Apesar de tudo muitos criam que Tupinambicas nunca deixaria de ser o eterno fim da linha que sempre foi.
Van Grogue caminhava devagar, com a cabeça baixa, os braços imóveis, praticamente colados aos lados do corpo e, quando chegou defronte ao bar A Tijolada, depois de ter desviado de vários buracos, tropeçou num paralelepípedo deixado bem no meio da calçada.
Bafão, dentro do boteco, tendo passado o guardanapo sobre o tampo do balcão, tirou duma gaveta o calendário e, revendo as datas murmurava:
- Natal... Carnaval...Humm... Feriado...Show da GaGa...
Van aproximou-se do proprietário do botequim mais famoso de Tupinambicas das Linhas e, com o dedo indicador da mão direita ereto, na altura da orelha, disse com voz desafinada:
- Preciso fazer exercícios físicos!
Dina Mitt, Edbar Bante e Virgulão sentados á mesa do canto, longe da janela, riram muito, mas logo se assustaram com as expressões fisionômicas do Van que parecia sofrer um surto epiléptico. Ele passava as mãos com muita força sobre o rosto como se quisesse limpá-lo.
- O que é isso Van? Vai morrer? Que ódio é esse? – perguntou Dina assustada.
- Vai ter um troço? O que é que há colega? – exclamou Bante - levantando-se da cadeira indo na direção do companheiro.
Virgulão demonstrando bastante calma pegou, com extrema delicadeza, o seu copo e, fazendo pose, tranquilizou a moçada:
- Nada! Pode parar! Isso é fita, encenação. Ele não pode ver um calendário que tem faniquitos. É frescura pura.
- Delícia. – comentou aliviada a Dina, abocanhando em seguida, uma rodela de salame espetada num palito.
- É verdade Van? Você não pode nem ouvir falar em calendário que fica derreado? – quis saber Edbar Bante. – Conta essa história pra gente.
Van fixou seus olhos nos do Bafão, e lhe fazendo um gesto que o induzia a servir-lhe a pinga, acompanhada daquela cerveja geladíssima, pôs-se a contar:
- É o seguinte... Eu trabalhava na prefeitura naquele tempo e o caquético testudo não concedia aumento pros funcionários de jeito nenhum. Fazia uma ¨cara¨ que a gente estava necessitado; então eu e mais alguns colegas fundamos um sindicato guerreiro e por intermédio dele começamos a fazer pressão sobre o Jarbas. Chegou um momento em que o prefeito precisava do apoio do presidente da câmara municipal pra aprovar a lei que dava o nosso aumento e coisa e tal. Então o prefeito careca e magricelo nos mandou falar com o presidente do legislativo. Acontece que o Fuinho Bigodudo, afinadíssimo com a política do Jarbas, seu padrinho, não aceitava nem ao menos falar com a gente. Ele não respondia quando lhe dirigíamos a palavra, Bom... Começamos uma campanha de protestos exatamente no dia em que haveria a primeira sessão, depois da aprovação do aumento de 100% dos salários dos vereadores. Nosso grupo apitava, vaiava e exibia cartazes durante a sessão. Foi um bafafá do inferno. Bem... Chegou uma hora em que o Fuinho, bastante nervoso, mandou a tropa de choque dele sobre os manifestantes prendendo e arrebentando quase todo mundo. Os paus-mandados do Fuinho me levaram para o porão da Câmara Municipal e me amarraram numa cadeira. Puseram uma venda nos meus olhos, uma fita adesiva na minha boca, e me desceram o cacete, me bateram sem dó nem piedade. Eu imaginava que esse tipo de comportamento só existisse no tempo da ditadura militar. Mas não, os caras queriam acabar comigo. Depois de duas horas seguidas de maldades, os capangas tiraram a venda dos meus olhos e com um tapão no meu rosto disseram que o Fuinho viria falar comigo. Naquela altura do campeonato eu, que me cagara e mijara todo, já não tinha mais a noção de nada. Mas lá veio o feitor que se aproximava altivo, com aquela boquinha de chupar ovo, os passos lentos, firmes como se marchasse. Ele tinha os braços às costas e ao se achegar de mim abaixou seu rosto para bem perto do meu. Arreganhando os dentes, assim como um rottwailer faz ao rosnar diante duma presa ele me perguntou: ¨Então você quer aumento é?¨ O Fuinho caminhava em volta da cadeira onde eu estava amarrado e, batendo na coxa direita com um cilindro de papel, semelhante a esses que se faz com jornais, de momentos em momentos, parava na minha frente e me espancava no rosto com o rolo. Já pensou? Então depois de muito rodear e me bater ele parou. Abriu o cilindro de papel e disse: ¨Você consegue ver esse calendário? Olhe!¨ Com um gesto de cabeça eu disse que sim. Então ele continuou: ¨Janeiro... Fevereiro, Março...¨ Dizendo isso ele me bateu com mais força na cabeça. Então ele mandou que trouxessem uma garrafa de pinga. Abriram a minha boca e usando uma baioneta, que colocaram atravessada, na altura dos meus dentes do siso, mantiveram meus maxilares afastados. Foi quando então despejaram a pinga na minha goela. Depois daquilo eu só me recordo de ter acordado vários dias depois, no acostamento de uma estrada movimentadíssima. Eu estava um trapo. Quase tinha sido atropelado por aqueles carros, motos, ônibus e caminhões que passavam aceleradíssimos por mim. Quem me via pensava que eu fosse um morador de rua, um indigente.
- Nossa Van... Ai que dó. Ai que pena. Coitadinho... Que loucura! – exclamou assustadíssima a Dina Mitt.
- Pois é. Os caras quase me mataram. Depois me disseram que eu fiquei mais de 55 horas andando a esmo pela estrada. Dei 19 tropeções que me arrebentaram os sapatos. – confirmou Grogue.
- Sim, mas vamos agora esquecer isso tudo e comemorar muito. Afinal meu querido Van de Oliveira você está vivo e saudável. – conclamou Bafão batendo palmas.
- Pois foi isso mesmo o que aconteceu. Desconfio que os malucos querem que eu me mande de Tupinambicas das Linhas. Querem que eu vá embora da cidade. Mas não posso ir pra qualquer lugar onde não me tenham convidado. Ninguém em sã consciência deixa alguém entrar, onde quer que seja, se não tiver um convite. Não é?
- É verdade Van. Não saia da cidade se não tiver um emprego certo e garantido. – disseram em uníssono os amigos que brindavam a decisão.
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Vereadores são barrados na porta da fábrica.
- Fecha a minha conta. Quero pagar tudo e encerrar essa novela por aqui. - Afirmou, com muita segurança, o Van Grogue ao Maçarico que o olhava espantadíssimo.
O dono do botequim abriu uma gaveta sob o tampo do balcão, pegou um caderno surrado, cuspiu nas pontas do polegar e indicador da mão direita, localizou as anotações sobre o freguês e tirando um lápis que mantinha equilibrado sobre a orelha direita, iniciou a contagem.
- Hã-hã, vezes quatro... Mais 250... Hã... Noves fora... Mais tanto de cerveja, pinga... Nem se fale... Bom... Certo... Seu Van, o senhor me deve exatos R$924.
Grogue espantou-se. Boquiaberto e tentando manter a lucidez que ainda lhe restava ele indagou:
- Mas... Caramba. Eu não devia só R$273 ???
- Não, não. Esses R$273 são de uma conta antiga. Quem me devia isso e, aliás, já pagou no dia 23 de agosto, foi o seu pai. Você me deve só R$924.
- Então está bem. Você tem uma caneta? - Van sacou do bolso traseiro um talão de cheques e preenchendo o documento disse:
- Olha, seu Maçarico, o senhor deposita esse cheque depois de amanhã. Entendeu?
A longa experiência com esse tipo de situação despertou no dono do botequim uma sensação bem conhecida. Algo lhe dizia que a coisa não findaria conforme o costume.
Grogue terminou o preenchimento do título e assinando-o com muita pose, destacou-o do talão entregando-o ao credor.
Maçarico anotou, com o lápis, a data em que o documento deveria ser apresentado ao banco. Depois ele riscou as anotações do débito do cliente no caderno puído.
Quando Grogue saia, Maçarico chamou-o dando-lhe uma latinha de cerveja.
- Leva essa. Mas olha... Não é pra beber. Entendeu?
- Uma lata de cerveja e não posso beber? - inquiriu o Van arregalando os olhos.
- Vai na boa!!! - disse Maçarico num tom de quem encerrava a conversa.
Depois de uma semana Van Grogue ligou para o dono do estabelecimento dizendo:
- Maça, meu querido. Tive um contratempo e não pude cobrir o cheque que lhe dei na semana passada. Você segura ele ai pra mim que quando tiver o "cacau" eu passo pra pegar.
- Sem problemas. - respondeu Maçarico num tom de voz suave o suficiente para disfarçar o ódio que sentia.
No dia seguinte Van apareceu no boteco.
- Ainda não consegui o dinheiro. Mas tenha um pouco de paciência que eu logo lhe pago. Me dê uma cerveja. Não esqueça o meu aditivo. Você sabe... Sou viciado nessa pinga.
Maçarico serviu o freguês e tirando da gaveta o cheque devolvido pelo banco mostrou-o ao devedor.
- Olha você não precisa me pagar. Está tudo certo.
Van não acreditou no que ouvia. Ansioso, o perdoado levou a mão em direção ao cheque tentando agarrá-lo.
- Mas espera só um momento. - Disse Maçarico pegando uma régua e colocando-a sobre a parte superior do documento, onde havia a inscrição dos numerais indicativos do banco, agência e conta do cliente. Com habilidade o perdoador destacou aquela parte do cheque devolvendo o restante ao perdoado.
Sem entender as intenções do proprietário do botequim, Van Grogue pagou a cerveja e o “aditivo” que consumiu naquele momento deixando o boteco.
- Quando você beber aquela cerveja que eu lhe dei sua história nunca mais será a mesma. - resmungou Maçarico contendo a raiva enorme que sentia.
Van Grogue entrou lentamente no bar do Maçarico naquela manhã de quinta-feira e disse em alto e bom som:
- Parei de beber. Hoje completam 30 dias que deixei de lado esse vício do inferno.
Billy Rubina, Célio Justinho, Donizete Pimenta, Pery Kitto e Zé Cílio Demorais paralisaram-se, depois de fitarem o afobado que chegava.
Van aproximou-se do grupo reunido e, num gesto heroico, aspirou desafiadoramente os vapores do álcool que, tal qual uma nuvem densa, envolvia os amigos assustadíssimos com a bravata.
- Quero comunicar a todos que não faço mais parte desse time e que me considero livre desse tormento. Hoje, exatamente hoje, completam trinta dias que estou sem beber nada dessa coisa vergonhosa que vocês põem na boca.
Célio Justinho não acreditando no que ouvia, tratou logo de menosprezar o parceiro de copo, que já tentara deixar o hábito, muitas e muitas vezes sem, no entanto obter sucesso.
- Conversa fiada. Parar de beber é para os fracos. Macho que é macho não tem medo de alucinação.
- Mas já estava mesmo na hora de você parar seu Grogue. - sentenciou Billy Rubina. - Ninguém aguentava mais as suas trapalhadas.
- Isso sem falar nos prejuízos para a família toda, da aposentadoria compulsória, dos desentendimentos com os filhos e a mulher, que de vez em sempre, levavam umas porradas. - Completou Zé Cílio Demorais.
- Imagine você que esse retardado, no estado em que estava, num dia, apareceu por aqui reclamando das dores nos joanetes. - relatou Pery Kitto - Ele disse que sentia muito incômodo e que por causa disso tinha até que usar uma bengala pra andar. Mas quando olhei pros pés dele vi que a besta estava com o sapato do pé direito no esquerdo e o do esquerdo no direito.
Diante da gargalhada que irrompeu no grupo, Pery Kitto arrematou:
- E já fazia uns 15 dias que ele andava assim. O "mental" tinha acabado de comprar os sapatos e gostou tanto deles que não tirava nem pra dormir.
Sentindo-se muito envergonhado Van Grogue tentou frear a gozação dizendo num tom sério, grave, que remetia a muita responsabilidade e importância.
- É minha gente... Eu parei mesmo com isso tudo. Não quero mais saber dessa vida. Queiram vocês saber que uma decisão dessas, igual a minha só é possível para poucos e bons.
Outra onda de gargalhada explodiu fazendo com que Maçarico se preocupasse com as possíveis queixas dos vizinhos que já davam sinais de mobilização, contra as 'gandaias' frequentes no boteco.
Van preparava-se para sair quando entrou a professora Dina Mitt. Ela trazia dois sacos de estopa que colocou cuidadosamente no chão logo depois que pediu uma cerveja.
- E aí Dina? Tudo certinho? - perguntou Donizete Pimenta. Vai tomar aquela cerveja esperta?
- Ninguém é de ferro, né meu filho? - respondeu a mestra, ajeitando com cuidado, os sacos que estavam no chão.
- Você já sabe da novidade? - indagou Pery Kitto.
- Que novidade? - Quis saber a mulher que recebia a garrafa de cerveja servida por Maçarico.
- O Van Grogue parou de beber.
- Verdade Van? - Perguntou Dina Mitt espantadíssima.
- Exatamente. Hoje faz 30 dias que parei com a esbórnia.
- Muito bem seu Van, mas eu só acredito vendo. Para ter a certeza de que você não pertence mais a essa nossa turma quero que passe uma semana comigo lá no meu rancho. Nós vamos pescar andar a cavalo e nos divertir muito. Estou saindo daqui a pouco. - desafiou Dina. - Topa?
Diante do pessoal todo que, em silêncio, o olhava, aguardando uma resposta, Van respondeu:
- Ah, vamos sim. Por que não?
Logo depois que Dina Mitt terminou de beber a cerveja, pagou a conta e, pegando os dois sacos com muito cuidado, pediu ao Grogue que a acompanhasse até o carro.
- O que é que tem nesses sacos dona Dina? - quis saber o Zé Cílio.
- Nesse aqui tem um garrafão de pinga. - garantiu a mulher levantando, com cuidado, um dos sacos.
- Mas pra quê? - indagou ingenuamente o Pery Kitto.
- É que lá tem muita cobra. E no caso de picada a gente cura com pinga. Você entende? - respondeu a mestra.
- Ah, bom. - Disse em uníssono o pessoal, já preocupado com o Van.
- Mas e no outro saco? O que é que tem? - inquiriu curiosíssimo o Donizete Pimenta.
- É uma cobra. Vai que a gente chegue lá e não tenha nenhuma, não é verdade?
Boquiabertos os amigos viram o Grogue entrar na velha Rural Willis da professora que, sem vacilar, pisou fundo no acelerador.
Van de Oliveira Grogue, Zé Cílio Demorais e Ary Ranha estavam, na tarde de quarta-feira no bar A Tijolada, legitima propriedade do Maçarico, degustando a primeira cerveja, quando Van, olhando de repente, pra porta de entrada disse quase gritando:
- Ih, fica quieto. Para tudo!
- Nossa! O que foi Grogue. Está louco? Você assusta a gente, desse jeito pombas! - queixou-se o Zé Cílio, proprietário do Diário Tupinambiquense.
- Ah... Para com esses chiliques. Ô Grogue, manera aí caramba!!!!! - ralhou Ary Ranha.
- É o bi. - disse em voz baixa o Grogue, depois de levar a mão direita em concha a boca.
- Que bi? - inquiriu Ary Ranha. - Bimotor?
- Bivolt, bissexual? - quis saber o Zé Cílio.
- Não, seus burros. É o Bily Rubina, chefe do gabinete do Jarbas. Ocupa o lugar da vovó Bim Latem. Dizem que ele está namorando a irmã do Donizete Pimenta, o boca de porco, e que está meio pancadão.
- Imagina! - disse Bafão entrando na conversa. - O cara está legal, só exagera um pouquinho demais da conta nas biritas, nada mais que isso.
- Mas, me diga... Quem é mesmo essa vovó Bim Latem? - quis saber o Ary Ranha.
- É só você que não sabe, ô Ranha do inferno. - gritou Maçarico lá do fundo, onde tinha ido buscar mais garrafas de cerveja.
- A vovó Bim Latem foi a criadora do primeiro homem bomba tupinambiquense. - informou o Zé Cílio Demorais. - Nosso jornal fez várias matérias sobre o assunto. Está tudo documentado.
- É sim, seu zé arruela, saiba que o jornalismo é o rascunho da história. - afirmou Van Grogue, olhando o Ary bem nos olhos.
Enquanto confabulavam, Bily Rubina, caminhando lentamente, aproximava-se do grupo.
- Eu quero saber quem é o lazarento que tá espalhando pra cidade inteira que a polícia apreendeu os computadores do gabinete! - intimou o Bily, que chegava bufando feito uma maria-fumaça.
- Aqui ninguém mexe com política. - defendeu-se Van de Oliveira.
- Eu nem sabia que tinha polícia na cidade. - reforçou Ary Ranha. - Meu pai alugava uma casa pros "home", que faziam escuta telefônica e invasão de computador, de uns vizinhos, uma certa ocasião. Mas isso faz muito tempo. Naquela época meu pai bebia muito. Eu nem sei. Mas e daí, Bafão a polícia está investigando o Jarbas?
- Está nada. Esses bocudos inventam cada uma que eu vou te falar. Não é fácil, viu?
- O que é que vai ser seu Bily? - quis saber o Maçarico segurando uma garrafa de 51.
- Me dê um Campari.
Zé Cílio, Ary Ranha e Van Grogue entreolharam-se surpresos. Maçarico procurou na prateleira uma garrafa da tal bebida. Ele sabia que tinha, mas não lembrava onde a guardara. Por demorar mais tempo na localização, recebeu a solidariedade dos fregueses, que o ajudavam, olhando também as garrafas enfileiradas mais no alto.
- Serve Menta? - arriscou Maçarico sem muito ânimo para as procuras demoradas.
- Lá em cima. Estou vendo. Aquela ali com o rótulo amarelado. - Gritou Ary Ranha apontando o objeto.
Enquanto todos permaneciam atentos na busca do pedido do Bily, entrou no recinto a Luísa Fernanda ostentando todo o seu charme contido naquele 1,64m de altura.
- Seu Maçarico! Tenho pressa. Quero um litro de leite, um maço de cigarros, cinco filões e 500 gramas de mortadela. Por gentileza, quero ser atendida o mais rápidamente possível. Meu marido o Célio Justinho está nervosíssimo. Ele deu até um pontapé violentíssimo na Magna, a nossa cadela de estimação.
Os homens pararam e olharam a figura estranha, que desejava ser atendida, antes mesmo do que todos os que chegaram primeiro.
- Mas, como eu estava dizendo... A polícia não encontrará nada de errado na prefeitura. - disse o Bily Rubina procurando reatar a conversa.
- Ah, mas o Jarbas é um poço de honestidade. - garantiu o Zé Cílio Demorais. - E olha, não digo isso só porque a prefeitura publica frequentemente, editais imensos no Diário. O cara é caxias mesmo.
- O quê? Jarbas não tem culpa no cartório? - reagiu indignada a Luísa Fernanda. Pois saibam que eu e meu marido Célio Justinho fizemos a maior queixa contra esse homem. Ele será cassado. Quem viver verá. Ninguém pinta como eu pinto. Alguém aqui pinta do jeito que eu pinto? E a minha mortadela? Sai ou não sai... Caramba!
- Mesmo que mal lhe pergunte, minha nobre senhora: o seu Célio ainda tem aquele teclado velho? - perguntou à meia voz, o Van Grogue.
- Deve estar naqueles dias. - cochichou Ary Ranha pros amigos.
- O senhor prefeito não tem nada a temer. Saiba a senhora e seu marido também. O seu Célio Justinho é um gerente bancário que vive tentando tirar, de ouvido, o hino do Corinthians, que eu bem sei. - afirmou, com voz empolada, o Bily Rubina.
Num ataque de fúria incontida, Luísa Fernanda não esperou para pegar as coisas que havia pedido. Soltando vários palavrões, ela saiu do bar pisando firme e sem olhar pra trás.
Quando passou a pé, defronte a casa do Maçarico, ela tirou, de uma pequena bolsa, um pacotinho de sementes de tomate; rasgando-o com muita violência, jogou todo o conteúdo - numa espécie de simpatia - no jardim da casa do comerciante, dono do boteco A Tijolada.
- E o doutor Silly Kone, o nosso querido psiquiatra, por onde anda? - quis saber o Zé Cílio.
- Ele vai ter muito trabalho. - garantiu Van Grogue.
- Com certeza. - confirmou o dono do botequim.
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